JUSSARA DE OLIVEIRA NEVES
Formada em Artes Cênicas (Bacharelado e Licenciatura Plena) pela UNIRIO, cursou até o 5º período de Ciências Sociais na UFRJ(IFCS), participou de várias formações sobre os Povos indígenas do Brasil no Museu do índio (FUNAI/Botafogo) dentre outros e iniciou (2024) a formação em Pedagogia Waldorf.
É professora de Artes Cênicas, Ensino Médio, na Rede Estadual de Educação do RJ. Nesta Rede, participou de projetos audiovisuais como o "Imagens em Movimento" e "Cinema 360°".
Na Rede Municipal de Educação do RJ, atua no PROINAPE (NIAP) e ministra aulas no Peja, Classe Especial e Educação infantil.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Prof. I Artes Cênicas
- Desenvolver e fortalecer a autoestima através da criação de um filme-carta, mostrando-lhes que suas vozes e histórias são importantes e dignas de serem contadas e apreciadas por todos.
- Valorizar as Memórias individuais e familiares através da fotografia, permitindo que os alunos se conectem com suas raízes e heranças.
- Promover um ambiente inclusivo onde cada aluno possa compartilhar suas histórias, fortalecendo laços de empatia e compreensão entre os colegas, familiares e professores.
- Estimular a reflexão sobre a identidade, a família e as tradições, ajudando os alunos a compreenderem melhor quem são e de onde vêem.
- Promover a inclusão ao mostrar as experiências e perspectivas dos alunos com deficiêncial, ajudando a sensibilizar a comunidade escolar e o público em geral sobre a diversidade e as capacidades desses alunos.
Este relato não será um relato qualquer. Todo o processo de produção desse filme até a sua exibição na Mostra Multilinguagens não caberia em um relato objetivo. Ofereço, então, um relato afetivo.
A caminho da escola, recebo uma mensagem da minha coordenadora divulgando a Mostra Multilinguagens que aconteceria naquele ano e uma frase logo abaixo dizendo: “Vamos participar com a Classe?”. Senti um frio na barriga, mas respondi antes as dúvidas me consumissem: “Vamos!”. Em sala, cheguei com a boa notícia e o entusiasmo e animação tomou conta de todos! O que faríamos? Teatro, pensei de imediato, mas logo desisti, pois não teríamos tempo suficiente para um trabalho consistente, que os deixasse seguros para enfrentarem um palco e uma plateia cheia de pessoas "estranhas". Sabemos bem o quanto esses alunos, e seus familiares, já vivenciaram situações de preconceitos, exclusão e descredibilidade; sabemos, também, o quão fragilizadas as suas autoestima e autoconfiança podem ficar. Lembrei-me, então, de uma modalidade experimental do audiovisual chamada “Filme-carta” (Isaac Pipano e César Migliorin em “Cinema de Brincar) – que eu conheci em uma oficina de cinema para mulheres indígenas ministrada pela antropóloga e cineasta Sophia Pinheiro – que seria perfeito para nós.
Marcamos uma reunião com os responsáveis da turma para apresentarmos a proposta da produção de um Filme-carta. Todos adoraram a ideia e se colocaram a disposição para nos ajudar. Muitas ideias, mas nada concluímos. O que todos desejavam era vê-los felizes e motivados. O que eu desejava era mostrar para o mundo o quão maravilhosos eram aquelas pessoas que me faziam tão bem a cada aula, a cada momento que passamos juntos. Finalizamos a reunião com o combinado de iniciarmos a produção do filme assim que retornássemos do recesso de julho.
Último dia de recesso. Em uma trilha em meio a natureza, recarregando as minhas energias para o semestre que estava chegando, torço o pé e quase rompo os ligamentos do tornozelo. Repouso total por um mês, mas que se tornaram 4! E agora? Eu não poderia deixa-los na mão! Não depois de tantos planos e expectativas. Recorro ao apoio oferecido pelos familiares e pela minha parceira de todas as horas, a CP Rosália. Vamos fazer um filme de forma remota!
Toda carta carrega alguma memória... A nossa seria construída por elas! Memórias de tempos bons, felizes... Fotografias, vídeos, áudios, relatos dos familiares e professores seriam a trama do nosso tecido. Escrevo o roteiro e envio para uma das mães da Classe – Conceição Evaristo – ler, opinar, corrigir, reescrever... Que honra a minha! Para a minha surpresa e indescritível alegria, ela carinhosamente reponde o e-mail falando algo mais ou menos assim: “O roteiro está pronto! Eu não modificaria nada nele! Está ótimo!”. Convido uma amiga para atuar como atriz e outra para cantar. Passo todas as orientações a distância para as gravações. Filme pronto! Juntos somos mais fortes. O Beija-flores já poderiam voar!
O resultado não poderia ter sido melhor! Todos os objetivos propostos para a produção e aprezentação do filme foram cumpridos.
Os alunos se emocionaram ao se verem na tela... A felicidade e o contentamento foram tantos, que assim que os aplausos cessaram, subiram ao palco e de lá não quiseram mais sair. Naquele momento se deram conta de que poderiam fazer o que desejarem!
MiGLIORIN, Cezar; PIPANO, Isaac. Cinema de Brincar. Belo Horizonte: Ed. Relicário, 2019.
PIPANO, I. 12 etapas e uma lição para se fazer um filme-carta (em tempos de whatsaap). In: MOSTRA
FILMES-CARTA POR UMA ESTÉTICA DO ENCONTRO, Rio de Janeiro. Catálogo. MEDEIROS, R. M. O.
(Org.). Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2013. p. 28-29.