As aulas ocorreram em uma turma do 5º ano, composta por 26 alunos entre maio e junho de 2022. Foi proposto o ensino da Dança a partir da Ciranda de Tarituba , fazendo uma relação com as outras danças, de modo a garantir aos sujeitos escolares a oportunidade de terem acesso a uma cultura diferente daquela em que estão inseridos, ampliando as suas percepções de mundo. As atividades iniciaram com a produção de um desenho feito pelas crianças a partir da seguinte provocação à elas: “Qual a primeira memória que vem na sua cabeça quando falamos a palavra Dança?” Após esse primeiro levantamento de informações, assistimos vídeos sobre 3 ritmos musicais: Kuduro, Samba de Roda e Passinho do Rio de Janeiro e de São Paulo. Na sequência, realizamos discussões sobre as características percebidas em comum nos três vídeos, as diferenças e sobre quem já conhecia todas aquelas Danças. Sobre os elementos em comum, eles apontaram: “a roda”, “as pessoas pretas”, “a periferia”, “parece o beco lá da rua”, “os gestos”, são muito habilidosos”, “exibição”, “lugar pobre”. Munanga (2005) fala sobre aproveitar esses momentos para que as crianças possam ter orgulho e assumir com dignidade suas características, mostrando que diversidade não é um fator de superioridade/inferioridade entre grupos humanos, mas um elemento de enriquecimento da humanidade em geral. Posteriormente, outros pontos foram abordados também em nossas discussões, como as origens e questões históricas de cada Dança, o que influenciou o surgimento de cada uma delas, a motivação, os locais que elas acontecem, o preconceito e a discriminação que sofrem, entre outras características. Em seguida, realizamos a leitura do livro “De Passinho em Passinho – um livro para dançar e sonhar” de Otávio Júnior (2020). Como amplificação do livro, recebemos o grupo Passinho Carioca, também do bairro da Penha, para uma oficina com a turma desse estilo de dança urbana, criado e desenvolvido por jovens das favelas cariocas. Foi um encontro rico e que ajudou a ampliar as discussões que já haviam sido iniciadas com a turma sobre discriminação e preconceito que as Danças consideradas periféricas sofrem na sociedade. Após essas experimentações, propomos que ampliássemos ainda mais nosso acervo cultural conhecendo uma nova Dança, que possui influências indígenas e africanas, a Ciranda de Tarituba. Eles aprenderam sobre a história do local, a origem da Dança e suas influências. Assistimos vídeos da Ciranda de Tarituba e refletimos que, mesmo tendo a diferença de ser uma dança de pares, podemos perceber características comuns que são a formação em roda, a intenção de ser um encontro festivo, um baile popular, e que compartilha o cotidiano da comunidade, trazendo a afirmação do seu valor e o orgulho de sua cultura. Debatemos sobre questões de gênero que surgiram. Seguimos com a construção de uma coreografia, discutindo os pares, a vestimenta e conciliando discussões sociais e culturais e a prática corporal.
A escolha do tema se mostrou bastante significativa para os alunos, que puderam construir um processo que partiu das “memórias dançantes” de cada um e foi se ampliando para outras discussões tão relevantes no processo formativo deles. Compreendo que o ensino da Dança, além de uma exigência legal/curricular, pode e deve proporcionar experiências educativas que envolvam a ERER na trilha do combate ao racismo. Percebi que valorizar os conhecimentos e identidades desses alunos por meio das Danças nas aulas de EF, favorece a compreensão cultural da sociedade e que o trabalho desenvolvido nas aulas foi capaz de reverberar e mobilizar os atores como um todo, provocando mudanças e transformações positivas no cotidiano escolar e comunitário.