Na rede de ensino da Prefeitura do Rio desde 1995, já exerci muitos papéis: regência em projetos, programação e planejamento de materiais, regência de classes especiais, sala de leitura, direção adjunta... em 28 anos, sempre em sala de aula, venho buscando novas alternativas para as diferentes demandas que se apresentam ano após ano. Atualmente, atuo na E.M. Presidente João Goulart, unidade de turno único, localizada no bairro do Andaraí, como regente de Geografia e Projetos Orientadores, sempre em busca de uma educação de qualidade, mesmo com tantos desafios pós-pandemia por enfrentar.
Ao chegar à E.M. Presidente João Goulart, deparei-me com salas sujas, inúmeras pichações, principalmente nos basculantes das janelas, onde despontavam desde xingamentos gratuitos, ofensas direcionadas, desenhos obscenos e siglas e símbolos de facções criminosas da região.
A proposta para o início da transformação nasceu da discussão sobre a construção do espaço social, que carrega os anseios, os projetos da sociedade que habita esse espaço e imprime nele suas tecnologias, esperanças e cultura. Obviamente, os alunos perceberam que aqueles “escritos” não significavam nada disso.
Em um segundo momento, apresentei aos alunos a técnica do lettering e iniciamos o planejamento do que cada um gostaria de registrar nas janelas: Qual seria sua herança? Que marca positiva você gostaria de deixar no espaço de convivência? Os estudantes foram estimulados a escrever algo que lhes oferecesse apoio nos momentos difíceis e de desânimo, um auxílio psicológico no momento das dificuldades. Reservamos as frases.
Nosso terceiro momento foi a preparação da tela para a arte. Pintamos as janelas com tinta lousa preta e finalmente publicamos nossas frases reservadas, através da técnica do lettering, utilizando canetas de giz líquido que possibilitam apagar e reescrever ao longo do percurso.
Cada sala com sua identidade, religiosidade, esperança, coragem, resistência... tantos valores no lugar de palavrões e agressões! É possível construir um espaço mais democrático, respeitoso, acolhedor e produtivo. O sentimento de pertencimento muda as relações, pacifica o discurso, fortalece os laços com a escola!