O projeto #suavenanave surgiu em abril de 2022 tendo como campo de ação a turma 1801, do 8º ano, da E.M. Uruguai, em Benfica, a partir de uma demanda da equipe gestora da unidade para atender a dois professores que haviam sinalizado casos de violência e assédio entre meninos e meninas da turma.
Nosso objetivo, então, foi desenvolver ações que pudessem colaborar para o acesso, permanência e aproveitamento escolar desses alunos, a partir de intervenções em fatores sociais, psicológicos, políticos e institucionais que atravessam o processo de ensino-aprendizagem e o vínculo aluno-escola. Assim, oferecemos a esses alunos um espaço de escuta que nos possibilitasse uma aproximação às suas realidades sociais, políticas, econômicas e culturais.
Num primeiro momento, promovemos encontros quinzenais com toda a turma, mas em seguida optamos por separá-la em dois grupos: um de meninas e outro de meninos. Consideramos que essa divisão era importante para que as meninas pudessem fazer reflexões sobre temas como violência, namoro abusivo e amor-próprio e os meninos, participar de uma discussão em torno da seguinte indagação: O que é ser homem? Ambas as ações facilitaram a expressão de sentimentos e afetos inerentes àquela fase da adolescência.
Colaboramos, assim, para a troca de experiências entre os grupos, de modo a favorecer elaborações sobre eles a partir da própria fala e da escuta do outro. Quando necessário, fizemos atendimentos individuais a alunos em situação de maior vulnerabilidade psicossocial e nos articulamos com a rede de serviços local para pensarmos ações conjuntas.
Nossa equipe se reuniu periodicamente com a gestão da escola para discutir o funcionamento dos grupos e trocou considerações com os docentes a respeito das singularidades dos participantes e do funcionamento dos grupos. Utilizamos dinâmicas envolvendo recursos audiovisuais e artísticos como poesias, músicas, fotos, vídeos, aplicativos etc. Participaram do #suavenanave 37 alunos e dois professores.
A partir da divisão da turma em grupos de meninas e de meninos, verificamos que isso possibilitou um espaço fecundo para trocas de experiências e de reflexões sobre os assuntos abordados pelos alunos. Além disso, notamos uma mudança de postura nos relatos dos meninos sobre os direitos das meninas.
A turma toda participou das atividades discutindo temas como machismo, que é uma forma de discriminação, e sobre a importância da igualdade de direitos para ambos os sexos, tendo como elementos disparadores as dinâmicas propostas. Segundo relato da direção da unidade, houve queda na incidência de violência entre meninos e meninas na turma.
ALBERTI, S. O adolescente e o outro. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
ALBERTO, L. O. G.; PEREIRA, S. T. (Org.). A síndrome do medo contemporâneo e a violência na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
COHEN, R. H. P. A lógica do fracasso escolar. Rio de Janeiro: Contracapa, 2006.
MOREIRA, Carlos Felipe. O trabalho com grupos em serviço social. 1 ed. Rio de Janeiro: Cortez, 2019.