Será que os alunos reconhecem no seu cotidiano “os modos de fazer” ancestrais presentes na nossa cultura afro-brasileira?
* Será que eles entendem que o tempo presente é construído a partir de experiências anteriores?
*Será que eles reconhecem o valor da pessoa com mais idade?
Como texto base utilizamos para além da lei 10639/2003, que inclui no currículo escolar a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", a Pedagogia da Ancestralidade que expressa " A compreensão do corpo como expressão da natureza, as relações estabelecidas com a noção de território, meio ambiente e tempo, o respeito à sabedoria, às vivências e experiências e a valorização da oralidade são aqui entendidas como uma forma de ensino/aprendizagem que transgride com o modelo formal de educação e abre a possibilidade de pensar uma práxis que realmente inclua as múltiplas formas de apreender o mundo."
- PIMENTA, Renata Waleska de Souza et al. A Pedagogia da Ancestralidade no ensino de linguagem a partir da educação das relações étnico-raciais. Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 9 (21): 159-172, setembro a dezembro de 2022. ISSN: 2358-5587. Acesso em 5 de abril de 2023.
-https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
Adentremos o tema da Ancestralidade e, para essa compreensão, é preciso preservar o interesse dos alunos pelo seu passado. Fizemos estudos sobre griots, memória, apagamento, aculturação, identidade, lugar de fala, além de uma pesquisa sobre o quilombo, local de resistência e de valorização da nossa ancestralidade. Então, descobrimos que no nosso bairro, Campo Grande, existe o Quilombo Dona Bilina e os docentes e alunos foram conhecer o local. É um espaço de militância, um território de conexão com a natureza. Nele, existe uma horta orgânica e está sendo construído um Centro de Convivência para realização de cursos, palestras e oficinas. A estrutura da construção é uma bioconstrução, casa de pau a pique e está sendo realizada em parceria com voluntários.
Os alunos do PEJA participaram durante 3 semanas da atividade chamada de Barreamento (pisar no barro para misturar o barro com o cimento e embolsar as paredes). Nessa atividade, as alunas, além de rememorar sua infância, ao se conectar com o barro, puderam lembrar das casas de seus ancestrais e as atividade foram embaladas por músicas populares, danças e causos. Nesse momento existia uma conexão entre o passado e o presente, onde todos eram protagonistas dos seus saberes. O quilombo fez doações de mudas de pau-brasil e plantas para a horta escolar do nosso CIEP como gratidão pela nossa participação.
Como produto, construímos vídeos e um power point para apresentar, divulgar nossas atividades, guardar a vivência do que foi construído e revisitá-la, remomerá-la, estudá-la e divulgá-la. O material foi utilizado também no XVII Encontro de Alunos e Alunas da EJA Rio.
No contato com o quilombo e com suas produções, os alunos se surpreenderam positivamente, pois até então descobriram que existia uma comunidade de resistência ao apagamento social próxima a escola. Todos os conhecimentos adquiridos e ressignificados foram divulgados para outros alunos tais como: a horta orgânica com a técnica ancestral de pau a pique, conforme o power point.
Realizamos uma parceria com o Quilombo Dona Bilina e estaremos presentes como voluntários na Horta e nas oficinas, cursos e festas oferecidos por eles.