Uma das mídias sociais mais utilizadas, o Facebook usa como critério de sua curadoria mostrar somente aquilo que possa ser considerado importante por seus usuários, selecionando informação de acordo com afinidades – pessoas com quem mais se interage, assuntos mais pertinentes ao que se publica e curte etc. Isso leva à formação dos ambientes virtuais apelidados de “bolhas”, cuja crítica é não dar lugar ao contraditório, apenas confirmar visões de mundo e, assim, favorecer o compartilhamento de eventuais notícias falsas.
Esse fenômeno une a notícia falsa à ideia de pós-verdade, adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais”, segundo o Dicionário Oxford, que elegeu “pós-verdade” como a palavra de maior destaque na língua inglesa no ano de 2016.
Pollyana Ferrari, doutora em Comunicação Social e autora de seis livros sobre comunicação digital, propõe em Como sair das bolhas (Editora Educ/Armazém da Cultura) uma reflexão sobre o tema.
“Quando falamos de informação falsa, a notícia é apenas uma parte. Ela pode permear diferentes áreas, impactar a vida de pessoas comuns, destruir reputações. Viver em bolhas, ou seja, em timelines nas redes sociais que só mostram suas próprias pegadas e seus próprios interesses, fortalece a disseminação de fake news. Sobretudo em tempos de polarização, as pessoas acabam se refugiando naquilo que entendem ser igual a elas e, com isso, perdem o senso crítico tão necessário em sociedades democráticas. A gente não tem ideia do perigo disso”, alerta a autora, reforçando a necessidade da reflexão para “combater as distorções, muitas vezes disfarçadas em formato de notícias”.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também trata das “bolhas”, reforçando o papel da escola no fomento do debate e de outras questões sociais que cercam as novas práticas de linguagem e o uso qualificado e ético das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).
“Se, potencialmente, a internet seria o lugar para a divergência e o diferente circularem, na prática, a maioria das interações se dá em diferentes bolhas, em que o outro é parecido e pensa de forma semelhante. Assim, compete à escola garantir o trato, cada vez mais necessário, com a diversidade, com a diferença. [...] É preciso saber reconhecer os discursos de ódio, refletir sobre os limites entre liberdade de expressão e ataque a direitos, aprender a debater ideias, considerando posições e argumentos contrários”, diz o documento.