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Poetas negras e negros brasileiros
21 Março 2019 | Por Fernanda Fernandes
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Pintura de Maria Firmina dos Reis (Fonte: Tony Romerson Alves/ Wikimedia commons)

Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917)  

Nascida em São Luís (MA), foi pioneira ao lançar Úrsula (1859), o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América Latina – e primeiro romance abolicionista de autoria feminina em língua portuguesa –, cujo enredo engloba o ponto de vista do negro.

Cantos à beira-mar, publicado originalmente em 1871, é dedicado à memória da mãe de Maria Firmina, e conta com cinquenta e seis poesias. Por ter passado grande parte da vida em Guimarães, uma cidade litorânea, o mar e a praia são presenças marcantes em sua obra.

“[...] Eu não te ordeno, te peço,
Não é querer, é desejo;
São estes meus votos - sim.
Nem outra cousa eu almejo.
E que mais posso eu querer?
Ver-te Camões, Dante ou Milton,
Ver-te poeta - e morrer."

O meu desejo, em Cantos à beira mar (1871), Maria Firmina dos Reis. 

Cruz e Sousa (1861 – 1898)

Catarinense, João da Cruz e Sousa era filho de escravos libertos, um mestre pedreiro e uma lavadeira, e foi educado pela família do seu ex-senhor. Fundador do simbolismo no Brasil, Cruz e Souza foi um dos precursores da literatura afro-brasileira. 

Em sua poesia, transparece a preocupação social. A dor do homem negro (fruto de suas próprias experiências de preconceito) une-se à dor universal humana, com tom filosófico que reflete a angústia, o pessimismo e o tédio. Suas principais obras em poesia são Broquéis (1893); Faróis (1900); Últimos sonetos (1905); O livro derradeiro (1961). 

Abdias Nascimento (1914 – 2011)

De família pobre e neto de uma escrava, nasceu em Franca (SP). Foi escritor, político, artista plástico, teatrólogo, ativista do movimento negro e poeta. Possui uma obra vasta, incluindo o livro de poesias Axés do sangue e da esperança: Orikis (1983).

Criou o Teatro Experimental do Negro, em 1944, cujo objetivo era reabilitar e valorizar socialmente a herança cultural, a identidade e a dignidade do afro-brasileiro por meio da educação, da cultura e da arte.

"[...] Para a infância negra
construiremos um mundo diferente
nutrido ao axé de Exu
ao amor infinito de Oxum
à compaixão de Obatalá
à espada justiceira de Ogum

Nesse mundo não haverá
trombadinhas
pivetes
pixotes
e capitães-de-areia."

Olhando no espelho (1980), Abdias Nascimento.

 

Adão Ventura (1939 – 2004)

Neto de escravos e trabalhadores de fazenda e de mina, Adão Ventura Ferreira dos Reis nasceu em Santo Antônio do Itambé, antigo distrito de Serro/MG. Publicou seis livros de poesia, dentre os quais o de maior destaque foi A cor da pele, de 1980, com temas relacionados a experiências e a visões de mundo do homem negro brasileiro.

Um de seus poemas – Negro Forro – foi selecionado pelo crítico e curador literário Ítalo Moriconi para integrar a antologia Os cem melhores poemas do século (2001). Suas obras foram traduzidas para várias línguas, entre elas o inglês, o espanhol, o alemão e o húngaro.

“Minha carta de alforria
Não me deu fazendas,
Nem dinheiro no banco,
Nem bigodes retorcidos.
Minha carta de alforria
Costurou meus passos
Aos corredores da noite de minha pele.”

Negro forro, de Adão Ventura.

 

Mel Duarte (1988 – )

A paulistana é escritora, poeta, produtora cultural e trabalha com literatura desde 2006. É integrante do Slam das Minas – SP, grupo que promove batalha de poesias voltadas ao gênero feminino, e foi a primeira mulher a vencer o Rio Poetry Slam (campeonato internacional de poesia) que acontece dentro da Festa Literária das Periferias – Flupp, no Rio de Janeiro.

Por seis anos, Mel Duarte também integrou o coletivo Poetas Ambulantes, que distribui e declama poesias pelo transporte público. Publicou dois livros: Fragmentos dispersos (2013) e Negra nua crua (2016).

 

Ryane Leão (1989 – )

Cuiabana (MT), é poeta, professora e artista de rua. Divulga seu trabalho por meio de lambe-lambe e da internet, com o projeto Onde jazz meu coração (@ondejazzmeucoracao), no qual publica os poemas registrados no livro best-seller Tudo nela brilha e queima, coleção de textos autobiográficos.

Sua conta no Instagram possui mais de 390 mil seguidores e seu trabalho é pautado no fortalecimento de mulheres negras e focado na voz, na luta e na resistência por meio da arte e da educação. Na página do projeto no Facebook, ela diz que escreve “poemas sobre mulheres infinitas”.

“Celebre a mulher
Que você está se tornando
Não tape os ouvidos
Ela está te chamando
Ela dança com o fogo
Ela é pancada mas também é doce
Ela sempre foi sua melhor escolha
Ela é tudo aquilo
que sobreviveu.”

Ryane Leão

 

Leia mais: O papel da poesia na luta pela eliminação da discriminação racial.

 

Fontes:

http://www.letras.ufmg.br/
https://www.melduartepoesia.com.br/
https://www.geledes.org.br/poetas-negras-da-literatura-brasileira/
enciclopedia.itaucultural.org.br/

 
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