Por trás de pequenas e delicadas silhuetas femininas podem residir meninas muito poderosas. Karyne Bertelo Rodrigues, 13 anos, aluna do 8º ano da E.M. Leônidas Sobrino Porto (8ª CRE), é uma dessas. Quando pega o violino e começa a tocar, mostra que sabe o que quer e o que faz. Não à toa, é spalla da Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca (OSJC), um projeto da Secretaria Municipal de Educação, que reúne mais de uma centena de jovens músicos, todos estudantes da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro.
Mas o que vem a ser spalla? Karyne tem a resposta na ponta da língua: “É o primeiro violinista, último músico a entrar no palco e aquele que passa a afinação para toda a orquestra. É a figura mais importante de uma sinfônica, depois do maestro”, explica sem titubear. Muito articulada com as palavras e também cuidadosa com o que diz, demora alguns segundos para pensar, quando perguntada por que foi escolhida para exercer essa função na OSJC. “Hummm... provavelmente, porque o spalla tem que passar segurança aos músicos, para a orquestra não desandar”.
Karyne bem que podia ser uma personagem da série de animação As meninas superpoderosas. Afinal, também tem um superpoder: a determinação. Pediu para aprender violino aos 8 anos, assim que viu um professor de música tocando o instrumento na escola em que seu irmão estudava. “Na hora, eu percebi que era aquilo que eu queria”, conta. Quando, há dois anos, viu o edital de seleção de músicos mirins para a OSJC treinou muito para ser uma das escolhidas. E foi. No entanto, isso não significou esmorecimento dos treinamentos. Ela continua estudando o instrumento diariamente (incluindo sábados e domingos) para se aperfeiçoar e fazer jus à sua função de spalla.
Diariamente, Karyne também precisa derrotar vários vilões do cotidiano: o desânimo, a preguiça, a dispersão... Não só porque persegue um nível de excelência como violinista, mas também porque tem que conciliar a música com várias outras atividades inerentes à sua idade, como ir para a escola, estudar os conteúdos das disciplinas, participar de atividades junto com a família e as amigas. Segundo a mãe, Cristina Bertelo Rodrigues, ela cumpre bem todas as tarefas: “A orquestra tem sido uma bênção na vida da minha filha. Está cada vez mais focada em tudo o que faz”.
Empoderando mulheres e meninas
Na série de desenho animado, lançada nos Estados Unidos nos anos 1990, as irmãs Florzinha, Lindinha e Docinho combatem, diariamente, os vilões da pacata cidade de Towsnville, onde vivem, e ainda conciliam a vida de heroína com a escola, a família e as brincadeiras da idade. O trio, conhecido no Brasil como As meninas superpoderosas, protagoniza uma série de animação que trata da questão do empoderamento feminino, conceito que, no século XXI, tornou-se caro à Organização das Nações Unidas (ONU), para quem, sem a paridade entre os gêneros, o problema das desigualdades sociais jamais será resolvido.
A ONU tem muitas razões para crer nisso. As mulheres, por exemplo, são responsáveis pela produção de mais da metade dos alimentos consumidos no planeta. Mas dados de 2017 da FAO – agência das Nações Unidas voltada à agricultura e à alimentação – indicam que as agricultoras respondem por apenas 30% da posse das terras. E mais: só têm acesso a 10% do total de créditos investidos no setor agrícola e a 5% da assistência técnica. Essa situação de desigualdade entre os sexos está presente nos mais diversos setores econômicos, culturais e políticos da sociedade mundial.
Para as Nações Unidas, o protagonismo feminino precisa se traduzir em realidade, tal como na OSJC em que uma menina ocupa uma função, a de spalla, comumente delegada aos homens. Como a ONU está convencida de que o empoderamento feminino, tanto das mulheres adultas como das meninas, é condição primordial para o desenvolvimento sustentável, a igualdade de gênero integra a Agenda 2030 como o quinto Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Elementos de empoderamento
No desenho animado, Florzinha, Lindinha e Docinho podem voar e têm poderes como visão de calor e de raio-X , super força, super velocidade e super audição. Elas adquiriram suas supercapacidades com o professor Utônio, que, ao fazer uma poção para criar uma garotinha perfeita, acidentalmente, deixou derramar o “elemento X” dentro da mistura.
Mas, pelo visto, há muitos outros professores Utônios por aí, derramando “elementos X” sobre meninas. Kátia Machinez, por exemplo, que ensina Matemática na E.M. Presidente Médici (8ª CRE), em Bangu, tem empoderado várias alunas por meio do projeto Abrindo Horizontes, que aponta caminhos para cursar um Ensino Médio de excelência e conseguir entrar nas mais conceituadas universidades do Rio de Janeiro.
Tal como Karyne, a spalla da OSJC, Gabrielle Rabelo, ex-aluna de Machinez, também tem seu superpoder: foco e disciplina. Foi selecionada pelo Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) e conquistou uma bolsa de estudos integral para cursar o Ensino Médio no Colégio Pensi da Tijuca, bolsa que se estenderá até a formatura na faculdade, caso ela passe para uma universidade pública. Este ano, Gabrielle se prepara para o Enem e quer fazer Biomedicina ou Biofísica: “Meu sonho é trabalhar na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em pesquisa de doenças e vacinas, para retribuir à sociedade a oportunidade que estou tendo”. A que tudo indica, vai conseguir transformar o sonho em realidade, pois está entre as melhores alunas do colégio.
A professora Kátia Machinez explica de que é constituído o “elemento X” de seu projeto: “Faço uma reunião para mostrar a importância do Ensino Médio, porque os alunos costumam não ter noção do quanto ele é importante para o futuro profissional. Depois, passo informações que normalmente não têm, como a relação das melhores escolas públicas do Rio de Janeiro e como podem conseguir bolsa de estudos nos colégios particulares de ponta da cidade. Ainda indico as datas de inscrição e das provas de cada processo seletivo e os sites onde têm acesso aos conteúdos. Por fim, mas não menos importante, mostro que são capazes e que podem chegar à excelência, se acreditarem em si, se estudarem, se tiverem foco”.
O resultado do projeto é uma lista interminável de ex-alunas empoderadas. Uma está fazendo mestrado em Matemática na UERJ, outra em Ecologia e Evolução na UFRJ, várias estão cursando graduação nas universidades federais e estaduais do Rio de Janeiro e outras tantas cursando o Ensino Médio nas escolas de ponta da cidade. Maria Eduarda Nery, do 9º ano, que mora com a mãe, funcionária de limpeza da UFRJ, e a irmã de dois anos, também quer virar menina superpoderosa: “O mais interessante do projeto da professora Kátia é que ele nos leva a ter atitude, abre uma ação em nós, cria uma rotina de estudos, nos dá um foco... e nos aponta um novo destino. Eu quero ser engenheira”, diz a aluna da E. M. Presidente Médici.
Soltando a voz
Mesmo quando uma menina nasce com algum talento inato, suas habilidades podem continuar invisíveis se a sociedade não tiver instituições para aperfeiçoá-las e lançá-las ao mundo. Isabel Cristina de Lima Soares, por exemplo, aluna da EMAC Professor Castro Rebello (9ª CRE), em Campo Grande, atribui a Deus sua vocação para o canto. Sua voz potente, de diva negra, é realmente fruto de um diferencial genético, mas se a igreja, a escola e os professores não tivessem aberto portas para sua vocação, muito provavelmente não teria se transformado, aos 13 anos, na menina superpoderosa que é hoje.
Tão poderosa que recebeu bolsa de estudos da Escola Villa-Lobos, para aperfeiçoar suas técnicas de canto, e convite para participar do The voice kids, no ano que vem. Isso sem falar que, em Campo Grande, bairro onde mora, já virou praticamente uma celebridade, sempre requisitada para participar de eventos e espetáculos.
Isabel começou a cantar na igreja, junto com sua mãe, também detentora de uma bela voz. Aprendeu as primeiras técnicas vocais com o professor Fábio do Espírito Santo, que dava aula de canto na E.M. Augusto Vasconcelos (9ª CRE), onde ela cursou os anos iniciais do Ensino Fundamental. Mas os convites para a Escola Villa-Lobos, o The voice e a participação em eventos só aconteceram depois que o professor de Geografia Carlos Eduardo de Souza, também responsável uma oficina de música na EMAC Professor Castro Rebello, decidiu postar, no YouTube, um vídeo com Isabel cantando a música Garganta, de Ana Carolina.
Em três semanas, o vídeo já tinha mais de 450 mil acessos e, não muito tempo depois, Isabel foi entrevistada pelo Fantástico, novamente cantando e esbanjando talento. “Eu não esperava tanto sucesso. Nem achei que o vídeo ficou bom, mas o professor insistiu e eu acabei concordando em postar”, comenta, com uma aparente timidez.
Aparente não só porque a timidez vai embora quando começa a cantar, porque, por trás do jeito de quem não gosta muito de falar, se esconde um superpoder: a obstinação. Para melhorar sua interpretação das músicas, ela testa e treina as qualidades vocais nos mais diversos lugares e momentos: “Faço tudo cantando. Até na sala de aula eu canto”. Mas os colegas e os professores não reclamam? “Muito pelo contrário – diz. Pedem para eu cantar mais”.
Encontro das poderosas
Isabel saiu da igreja que a família frequenta – “Ela acha que lá só vai gente velha”, revela a mãe, Marisa Soares. Foi para uma outra que tem uma banda de jovens, onde pode cantar acompanhada de baixo, guitarra, bateria e outros instrumentos. Mas será que ela se sairia bem cantando só com violino? A MultiRio quis saber e combinou um encontro entre ela e Karyne, a superpoderosa spalla da OSJC. Confira o resultado no vídeo abaixo.
Faça um vídeo para a MultiRio
Se você conhece alguma aluna da Rede Pública Municipal de Ensino que se destaque em alguma atividade, diga para ela fazer um vídeo, contando qual é o seu superpoder! Depois, basta postá-lo no Facebook da escola com #SuperpoderosasNaMultiRio, marcando a MultiRio, para a gente divulgar!
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