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Como tornar uma escola mais sustentável
19 Fevereiro 2020 | Por Fernanda Fernandes
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Alunos da E.M. Castro Alves mobilizam-se para separar os resíduos (Foto: Alberto Jacob Filho, 2019)

O conceito de sustentabilidade, assim como tantos outros tratados na escola, pode não ser compreendido, de uma única vez, pelos alunos. No entanto, quando os estudantes experimentam uma ideia e envolvem-se em uma proposta, o aprendizado fica mais fácil – e muitas vezes mais prazeroso.

“O aluno precisa ser autor, e não receber a ação pronta. Ele é uma importante semente, já que dissemina isso na família, na comunidade. A escola deve motivá-lo, orientá-lo, dar insumos para que ele possa fazer essa reflexão crítica. A educação comprometida com a sustentabilidade está ligada à construção de um pensamento crítico para uma mudança de comportamento e de atitude”, defende Thatiana Sant Anna Gonçalves, da Coordenação de Projetos de Extensão Curricular (E/SUBE/CPEC) da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, onde é responsável pelos projetos ligados à sustentabilidade.

Na publicação Criando habitats na escola sustentável: Livro de Educador, a pedagoga Lucia Legan destaca que uma escola não se torna “verde” somente pelo fato de economizar energia, fazer coleta de baterias e selecionar o lixo. “A questão crucial é que os estudantes estejam aprendendo com essas atividades. [...] O espaço físico da escola fornece um ambiente e uma oportunidade para os estudantes entrarem em contato com a sustentabilidade. A cultura da sustentabilidade, quando vivida no pátio escolar, pode integrar áreas como segurança alimentar, água, tecnologias sociais, ecossistemas, economia local, cultura e comunicação”, observa Legan, que também é autora do livro A Escola Sustentável.

Na Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, muitas escolas desenvolvem projetos ligados à sustentabilidade. No último ano, inclusive, as unidades trabalharam alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas.

Horta da E.M. Emma D’Avila de Camillis (10ª CRE), em Pedra de Guaratiba: a maior entre as escolas da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro (Foto: Alberto Jacob Filho, 2019)

As ações desenvolvidas nas escolas englobam coleta seletiva, reaproveitamento de materiais, campanhas de conscientização sobre o uso racional dos recursos naturais, entre outros. Outro destaque são as hortas escolares, que além de proporcionar contato com a natureza e promover reflexões sobre alimentação saudável, são usadas no ensino de disciplinas curriculares, como Língua Portuguesa e Matemática, como acontece na E.M. Alzira Araújo (9ª CRE), em Campo Grande. Em geral, as escolas que possuem hortas apostam, também, na técnica da compostagem, na qual restos orgânicos são transformados em adubo.

Na E.M. Professor Albert Einstein (7ª CRE), na Barra da Tijuca, o cultivo de hortaliças é associado à criação de peixes – aquaponia –, produzindo-se, assim, alimentos saudáveis, com pouco consumo de água e pouco tempo de trabalho. O projeto foi apresentado no final de 2019, na 1ª Mostra de Hortas Escolares, evento organizado pela CPEC em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Fundação Parques e Jardins, realizado no Campo de Santana.

Sobre o reaproveitamento de materiais, é comum encontrar professores que usem recicláveis na confecção de brinquedos, mosaicos ecológicos e até mesmo fantasias e adereços. Além disso, é possível encontrar trabalhos em que frascos de desodorante roll-on viram tubos de tinta para facilitar a pintura dos alunos, caixas de ovos são usadas para trabalhar o fortalecimento do “movimento de pinça” e da coordenação motora e guarda-chuvas quebrados originam saias em apresentações na escola.

Como estabelecer parcerias e envolver a comunidade

E.M. Medalhista Olímpico Diego Matias Hypólito (9ª CRE): parcerias com cooperativas de catadores e até com empresa que recolhe lixo eletrônico (Foto: Arquivo de fotos da escola)

Thatiana Sant Anna, da CPEC, reforça que mobilizar a comunidade escolar é fundamental. “As ações não podem ser isoladas, devem acontecer com o apoio dos responsáveis, dos alunos e de todos os profissionais da escola. Cada escola está inserida em um contexto, tem uma demanda e cria ações de acordo com sua realidade. O primeiro passo é apostar em campanhas de conscientização, incentivar e seduzir os alunos e, então, realizar projetos que se tornem parte da rotina e do plano pedagógico.”

Sensibilizado com a quantidade de lixo produzida pela escola e com o fato de um rio localizado no entorno ter se tornado uma espécie de depósito de lixo, Carlos Eduardo Jascone, diretor da E.M. Medalhista Olímpico Diego Matias Hypólito (9ª CRE), em Inhoaíba, buscou parcerias com empresas e cooperativas de catadores de materiais recicláveis para que a escola se transformasse em um polo sustentável dentro da comunidade.

“Passamos a separar papel, papelão, plástico e garrafas pet para serem recolhidos por cooperativas de catadores do bairro – o que, além de tudo, gera renda para a comunidade. Uma empresa de Minas Gerais aceitou retirar, mensalmente, pilhas, baterias, controles remotos, todo lixo eletrônico que coletamos. Há, ainda, uma empresa ambiental que paga um real pelo litro de óleo usado que recolhemos – atualmente, de 150 a 200 litros por mês –, e que, assim, deixa de ser jogado no ralo pela população. A ideia é mudar a mentalidade social da comunidade, gerar renda e menos poluição”, relata o gestor, que é formado em Biologia e está há dois anos à frente da unidade.

“Não se trata de realizar uma semana temática ou ações isoladas. É preciso mudar a percepção dos alunos quanto à escola. Quando eles se sentem parte do todo, se animam, querem participar. Por isso, também fazemos campanhas: se há coleta na segunda-feira, os alunos mobilizam toda a vizinhança durante o final de semana e trazem os materiais. Esse é o real papel da escola: a formação cidadã.”

Iniciativa premia práticas sustentáveis em escolas municipais

Reaproveitamento de materiais: criatividade na E.M. Castro Alves (9ª CRE), em Campo Grande (Foto: Alberto Jacob Filho, 2019)

Neste ano, quando a cidade do Rio de Janeiro será a Capital Mundial da Arquitetura (título inédito concedido pela Unesco e pela União Internacional de Arquitetos) e um dos principais focos do calendário Rio 2020 é a discussão envolvendo sustentabilidade e espaços urbanos, foi lançado o 1º Prêmio Melhores Práticas Ambientais em Escolas do Município, parceria entre a Rio Eventos e as secretarias municipais de Educação e de Meio Ambiente.

Os temas analisados são: consumo de energia, reciclagem, manejo de resíduos sólidos, plantio orgânico para apoio a merenda e educação ambiental inovadora. Três projetos serão selecionados em cada uma das categorias – Pré-escola, Ensino Fundamental I e II – e avaliados por um comitê composto por especialistas.

Os vencedores receberão prêmios em dinheiro e deverão apresentar um plano de investimento para o valor recebido, que deverá ser revertido em melhorias das instalações, tendo como foco a sustentabilidade. Mais informações no site da Prefeitura.

 
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