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Rachel de Queiroz e a escrita regionalista
14 Novembro 2019 | Por Rosana Freitas*
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Rachel de Queiroz em 1971 (Acervo: Arquivo Nacional)

Homenageada pelo Espaço de Desenvolvimento Infantil Rachel de Queiroz (1ª CRE), na Praça Onze, a escritora conhecida por O Quinze foi professora de História, traduziu 33 livros na década de 1940, escreveu três peças de teatro e foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Ela nasceu em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza (Ceará), filha de Daniel de Queiroz e Clotilde Franklin de Queiroz. Descende, por parte de mãe, do ilustre escritor José de Alencar, autor de O Guarani e Iracema, e por parte de pai tem raízes em Quixadá, no sertão nordestino.

Em 1917, mudou-se para o Rio de Janeiro com os pais fugindo da forte seca de 1915 no Ceará, mais tarde, aquela seca histórica seria o tema do seu livro de estreia, O Quinze. A família Queiroz residiu pouco tempo no Rio e retornou para Fortaleza em 1919, após dois anos em Belém do Pará.

Rachel de Queiroz formou-se aos 15 anos no curso normal do Colégio Imaculada Conceição e, aos 20 anos, em 1930, publicou O Quinze, que na época teve grande repercussão no Rio de Janeiro e em São Paulo. Com pouca idade, a autora já se projetava na cena literária do país.

O Quinze

Primeira edição de O Quinze (Acervo: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin/USP)

O romance se dá em dois planos, um aborda a relação afetiva de Vicente, proprietário e criador de gado, com Conceição, sua prima culta e professora. O outro retrata a família do vaqueiro Chico Bento que, devido às dificuldades da seca, é forçada a deixar sua terra em Quixadá e percorrem um caminho longo e difícil, cercado de infelicidade, miséria e dor.

Por ser filha de promotor de justiça, Rachel pôde acompanhar o drama dos retirantes quando residia com a família em Fortaleza, durante a seca de 1915. Com base no que aconteceu naquele período, a obra narra a dura e contínua batalha do povo do sertão do Nordeste contra a pobreza e a falta de água, discorrendo sobre temas sociais com grande clareza.

Na época do lançamento de O Quinze, a autora sofreu duras críticas de outros escritores e críticos literários que não esperavam um romance com temática regionalista e caráter reivindicatório escrito por uma mulher tão jovem. Na autobiografia intitulada Tantos Anos, ela relata algumas opiniões: “escreveram até um artigo falando que o livro era impresso em papel inferior e não dizia nada de novo. Outro sujeito escreveu afirmando que o livro não era meu, mas de meu ilustre pai, Daniel de Queiroz. E isso tudo me deixava meio ressabiada.”

Pela nítida representação do sertão, a obra ocupou um lugar de destaque na literatura dos anos 1930 como uma obra documental regionalista e como romance de denúncia. Em O Quinze, a escritora expôs a seca, a miséria e a desigualdade e usou o sertão como inspiração para construir cenários, enredos e personagens que povoam o imaginário popular e resgatam a cultura nordestina.

O trabalho como tradutora e no jornalismo

Apesar do contato com autores portugueses por meio da família, Rachel procurou escrever fora dos padrões linguísticos do português da Europa. Os personagens são marcados pela fala popular e informal do Nordeste brasileiro, já os narradores têm uma fala que não se distancia tanto do português de Portugal.

Após o sucesso de vendas de O Quinze no Rio, ela foi convidada para fazer parte da Editora José Olympio. Lá ficou durante 57 anos e publicou 23 obras de autoria própria, incluindo Caminho das Pedras (1937), Lampião (1953) e Memorial de Maria Moura (1992). Em relação às traduções, foram 45 romances traduzidos pela autora em inglês, francês e espanhol.

Em entrevistas, Rachel de Queiroz costumava dizer que mais que romancista e escritora, ela era jornalista. Com o pseudônimo de Rita de Queluz, estreou no jornal O Ceará logo após se formar no curso normal e passou a escrever um folhetim chamado História de um Nome, além de organizar uma página literária para a publicação. De 1944 a 1975, colaborou na revista semanal O Cruzeiro, na qual assinou a coluna Última Página. Na mesma época, começou também atividades jornalísticas nos jornais Correio da Manhã, O Jornal e Diário da Tarde.

Prêmios e livros infantis

Rachel de Queiroz no dia da posse na Academia Brasileira de Letras (Acervo: Arquivo Nacional)

Em uma época em que muitas mulheres escritoras não ganhavam notoriedade, foi apresentada como “escritor do sexo feminino” no dia da posse na Academia Brasileira de Letras. Eleita em 4 de agosto de 1977, Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na ABL e sucedeu Cândido Motta Filho. Em 1993 foi, também, a primeira a receber o Camões, maior prêmio de literatura de língua portuguesa.

Detentora de diversos outros prêmios, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Literatura Infantil em 1969 com O Menino Mágico, que foi escrito para o sobrinho Daniel, na época com sete anos. Entre contos, romances, crônicas e peças de teatro, escreveu mais outros dois livros infantis: Cafute & Pena-de-Prata (1986) e, quase 20 anos depois, Andira (1992).

Rachel de Queiroz ingressou na Academia Cearense de Letras em 1994. A autora de romances como As Três Marias (1939) e Dôra, Doralina (1975) faleceu em 2003, aos 92 anos, no Rio de Janeiro.
 
Fontes:
Academia Brasileira de Letras.
Site Educação e Transformação.
As Traduções de Rachel de Queiroz na Década de 40 no século XX, de Priscilla Prellegrino de Oliveira (Universidade Federal de Juiz de Fora, 2007).
A professora primária no sertão cearense dos anos 30, do século XX: imagens literárias da escola no romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, Erinelda da Costa Paixão (Universidade Federal do Ceará, 2017).
Reportagem Coleção de livros infantis celebra os 100 anos de Rachel de Queiroz.


*Rosana Freitas, estagiária, com supervisão de Carla Araújo.

 

 
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