O ticumbi é uma dança de origem africana, praticada especialmente no norte do Espírito Santo, com destaque para as cidades de São Mateus e de Conceição da Barra. É considerado uma referência cultural e celebração festiva afro-brasileira específica desse estado.
O baile é definido pelos dançantes como uma tradição vinda do continente africano e recriada em senzalas e quilombos da região.
A dança é realizada, em geral, no Dia de São Benedito. Nela, há uma encenação que conta com o rei Congo, o rei Bamba, seus respectivos secretários e o corpo de baile de cada nação, representando os guerreiros – em um total de 18 pessoas, em geral, homens negros.
O enredo se desenvolve em torno da disputa entre os dois reis, que querem fazer, separadamente, a festa de São Benedito. Os cantos são entoados pelos guerreiros das duas tropas, em conjunto, e alternados com as falas dos reis e dos secretários.
É como uma luta bailada, ao som de pandeiros, de chocalhos e da viola. Ao final, todos confraternizam juntos, em homenagem ao santo.
“A guerra acontece porque o Rei do Congo, por ter se convertido ao catolicismo, se considera o dono da festa para São Benedito e não aceita que o Rei de Bamba, classificado como pagão, seja digno para fazer a festa. A guerra sempre termina com a vitória do Rei do Congo sobre o Rei de Bamba, que é interpretado e atualizado como os inimigos da cultura negra e os expropriadores dos territórios das comunidades quilombolas, como observei no discurso do Rei do Congo na festa realizada em 1 de janeiro de 2010”, explica Osvaldo Martins de Oliveira, em artigo que integra o livro Negros no Espírito Santo.
As vestimentas usadas são batas brancas e rendadas, com fitas coloridas; calças e lenços brancos; e chapéus enfeitados com fitas e com flores de papel de seda ou de plástico. Para os reis, coroas de papelão adornadas com papel dourado ou prateado, capa comprida e espada.
Me vala valoroso Rei de Congo
Rei de Congo assim chamado,
Que foi rei em Costa d’África
E que em Guiné foi apresentado
(trecho do Ticumbi)
Manifestações culturais ligadas à música, à dança e à religião são símbolo de resistência, da identidade e da história de diversos territórios e povos. No Brasil, essas manifestações tiveram origem ou influência africana, indígena e, também, europeia. São exemplos: o afoxé, a banda de pífanos, o siriri, serafina, o tambor de crioula, o ticumbi e o cavalo-marinho.
Fontes:
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.
MACIEL, Cleber. Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016.
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira
CAMPOS, Adriana P.; BASTOS, Fabíola M. Ticumbi: lembranças de uma África no Espírito Santo. Revista África e Africanidades – Ano 2, n. 6/ Agosto. 2009.