O fenômeno das lives, transmissões de vídeo ao vivo, invadiu as redes sociais no período da pandemia. Na Rede Pública Municipal de Ensino, professores, escolas e coordenadorias regionais de educação (CREs) se apropriaram do formato – no Instagram, no Facebook e no Youtube – para promover conversas entre docentes, formações e, sobretudo, para aproximar a comunidade escolar.
De acordo com uma pesquisa da VIU HUB, divulgada pela YOUPIX, consultoria de negócios para influência e comunicação digital, entre janeiro e abril, o crescimento mensal de uploads de lives foi de 15,6% no YouTube e de 19,3% no Facebook. Ainda segundo a mesma pesquisa, no Instagram, a palavra “live” cresceu 277% em março, em comparação ao mês anterior.
Ao perceber o sucesso desse formato nas redes sociais, a professora Carol Ponciano deu início à série de lives Bota a Cara no Sol, comandada por ela no perfil Tudo é pedagógico, no Instagram. A conta, que já possui mais de 10 mil seguidores, foi criada por Carol em abril de 2019 para compartilhar experiências pedagógicas com outros docentes. Na ocasião, ela convidou a professora Kamila Farias e a agente de apoio à Educação Especial Karla Claudio para, também, produzirem conteúdo para a página. As três atuam no Ciep Mestre Cartola (4ª CRE), em Parada de Lucas.
“Com a pandemia, todos começaram a fazer lives, era uma febre. No começo, não pensamos em fazer, mas recebemos convites para participar em outros perfis e gostamos bastante. Além disso, muitos dos nossos seguidores mandavam mensagens pedindo por lives. Tínhamos vergonha, ficávamos receosas, mas conversamos e decidimos que faríamos. Trouxemos temas que agradaram o pessoal, fez sucesso, demos continuidade. Quem gosta de aparecer e colocar a cara no sol mesmo sou eu! A cara do Instagram é toda minha”, comenta, em tom bem-humorado, a professora de 29 anos, formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e em Letras pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
A série de lives já abordou temas como autismo, comunicação não-violenta na escola, produção de recursos pedagógicos para a alfabetização, direitos autorais e comportamento digital e ações educativas de combate à violência contra a mulher.
A aproximação com o público e a interação imediata foram as principais vantagens apontadas pela professora para adotar o formato “ao vivo”. “É muito bom sentir que as pessoas estão mais perto de você. Elas mandam dúvidas, interagem e até sugerem temas para outras lives. Ao criar o roteiro e pensar nas perguntas que farei para os convidados, sou uma das que mais aprendem!”, destaca Carol, que já participou até de transmissões com docentes de outros estados. “Essa troca é sensacional, aprendemos muito com a experiência do outro. Há trabalhos maravilhosos nas Redes Públicas de Ensino do nosso país”, destaca.
Informação, acolhimento e participação dos alunos nas lives das escolas
Com o isolamento social, a E.M. Mozart Lago (5ª CRE), em Oswaldo Cruz, apostou na comunicação por meio do Instagram, criando o perfil @mozartmotivandonaquarentena. “A página é fruto de uma ação coletiva, do desejo coletivo da escola, do corpo docente, diante das questões que têm se levantado na quarentena. [...] É um espaço de interação, de expressão de sentimentos e de acolhimento”, explica a coordenadora pedagógica Beatriz Machado em uma das transmissões. Ela é quem está à frente das lives, de cunho informativo, nas quais entrevista especialistas sobre temas relacionados à pandemia, como bem-estar e saúde mental das crianças na quarentena, cuidados necessários para crianças e adolescentes e o essencial no retorno às aulas.
Outra unidade da Rede que realiza transmissões ao vivo no Instagram é a E.M. Mário Casasanta (8ª CRE), em Magalhães Bastos. A escola já promoveu a Live da Saudade, a Live do Amor e planeja, ainda, a Live da Amizade. “Nesse momento em que todos estão fragilizados, passando por problemas, trancados em casa, nada melhor do que falar sobre o amor”, diz a professora Kenya Pio, durante a Live do Amor.
Kenya também já participou como convidada da live Cultura e Educação: o preto tem espaço?, da série Dorcelina é Resistência, promovida pela E.M. Dorcelina Gomes da Costa (7ª CRE), na Cidade de Deus. Na série, cujas transmissões são realizadas no Facebook, a escola já falou sobre empoderamento feminino, sobre Holocausto, sobre samba e sobre isolamento social, ansiedade e a nova rotina.
A E.M. Bernardo de Vasconcellos (4ª CRE), na Penha, também se rendeu ao universo das lives, atuando em duas frentes. No perfil @nova_bernardodevasconcellos, o projeto Vamos falar de nós? promove um bate-papo entre o professor Poíko Bendiz e convidados muito especiais: os alunos da escola.
Já na conta do Núcleo de Formação Bernardo, acontecem as lives da série Bernardo em debate: a escola e o novo normal – Uma conversa com educadores que pensam fora da caixa, mediada pelo professor Veríssimo Júnior, da Sala de Leitura Carolina Maria de Jesus.
“A série tem como objetivo afirmar a escola não apenas como objeto de pesquisa, mas como sujeito de pesquisa”, ressalta Veríssimo no episódio de estreia. A ideia, segundo o docente, é que professores e pessoas do mundo acadêmico e de movimentos sociais estejam entre os convidados. Até agora, já foram transmitidas seis lives, uma delas com a atriz Débora Bloch, que interpretou o papel de uma professora de Educação para Jovens e Adultos na série Segunda Chamada, da TV Globo.
Lives e formação de professores: a experiência da 8ª CRE
Quando o assunto é transmissão ao vivo, a experiência da 8ª CRE se destaca. Sucesso no Instagram desde maio – quando foi ao ar a primeira live –, as transmissões passaram a ser feitas na página da coordenadoria no YouTube a partir de meados de agosto, em um modelo repaginado. Ao todo, já foram mais de 20 lives, abordando temas como Educação Especial, inclusão, ensino remoto, Educação Física e educação socioemocional no Peja.
“Nosso público é bastante fiel, temos um alcance muito grande. As lives ficaram gravadas e percebemos acessos numerosos, as pessoas se interessando pelos nossos temas. E isso é muito gratificante para o nosso trabalho, para o trabalho do grupo de professores da 8ª CRE”, diz, na live de estreia no YouTube, Diala Azevedo, que comanda a Gerência de Educação GED da coordenadoria.
A ideia de realizar transmissões ao vivo partiu da experiência exitosa do professor Mario Mangabeira, então assistente da GED, em sua conta pessoal no Instagram, com a série Diálogos Pedagógicos. “Retornos positivos de professores da 8ª CRE indicaram que essa proposta merecia ganhar força em tempos de isolamento social. [...] Estamos isolados, mas temos a necessidade de nos manter em atividade, produtivos, proativos e isso nos levou a buscar novos caminhos para que esse contato não se perdesse e não nos perdêssemos dos nossos pares. No caso da GED, não nos afastássemos das práticas voltadas à formação pedagógica dos profissionais da Educação. E o caminho encontrado nos levou justamente do isolamento social ao contato virtual, por meio da produção de lives pelo Instagram”, explica a professora Michelle Sabbatini, meadiadora das transmissões e integrante da equipe da GED.
Além dessas experiências, muitas outras iniciativas vêm sendo realizadas por professores, por escolas e por coordenadorias, destacando o empenho de toda a Rede em se apropriar de recursos tecnológicos, de diferentes formatos e plataformas, para, sobretudo, aproximar alunos, pais e responsáveis, professores e demais funcionários das escolas.
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Yasmin Benedetti, professora de inglês nas Escolas Municipais Zituo Yoneshigue e Lia Braga, em uma videoaula compartilhada nas redes sociais A 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que representa a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro em 13 bairros da Zona Norte da cidade, está convocando os professores a gravarem aulas em vídeo e a compartilharem com seus alunos nas redes sociais. Mais de 500 professores já aderiram à campanha. Batizada de #CompartilheUmaAula pelo coordenador da 6ª CRE, Hugo Nepomuceno, a iniciativa pretende minimizar os prejuízos pedagógicos causados pelo fechamento das escolas determinado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como medida preventiva contra a disseminação do novo coronavírus. Além do grande risco à saúde e à vida das pessoas, a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, abalou sistemas educacionais no mundo inteiro. Como em diversos países, no Brasil, governos estaduais e municipais decidiram fechar as escolas para diminuir a velocidade da transmissão da doença, na tentativa de evitar o colapso do sistema de saúde. Na Rede Pública Municipal de Educação do Rio de Janeiro, cerca de 640 mil alunos e 40 mil professores estão dentro de suas casas, em afastamento social, seguindo orientações das autoridades sanitárias. Mas as adversidades costumam atiçar a criatividade das pessoas. Seis dias após o início da suspensão das aulas no Rio de Janeiro, ocorrido em 16 de março, o professor Cássio Veloso, responsável pela Assessoria de Informática Técnica e gestor das redes sociais da 6ª CRE, decidiu propor uma ação de compartilhamento voluntário de videoaulas com os alunos pelas redes sociais, durante o período de suspensão das atividades escolares. Cássio conta que a ideia surgiu de uma conversa com sua mãe. “Minha mãe, que é professora alfabetizadora aposentada, demonstrou preocupação com a suspensão das aulas por conta do aprendizado dos alunos. Ali, falando com ela em vídeo, surgiu a ideia: conclamar colegas professores a gravarem aulas e nos enviar para compartilharmos em nossas redes sociais. ” A iniciativa foi prontamente encampada pelo coordenador da 6ª CRE, Hugo Nepomuceno, que não demorou a encontrar um nome que traduzisse o potencial de alcance da proposta. “A inspiração se deu pelo desejo de, com a iniciativa, criarmos um movimento colaborativo de produção dessas microaulas, sendo necessário, para isso, criar uma hashtag que não se restringisse aos profissionais da 6ª CRE, mas atingisse a Rede como um todo. Deveria ser também uma hashtag que comunicasse de forma simples e direta com o público que procurasse, na rede social, por esse conteúdo. Fizemos uma pesquisa preliminar e identificamos que essa hashtag não estava em uso no Facebook, o que nos levou a adotá-la”, conta. Letícia Lombone, 12 anos, aluna da Escola Municipal de Aplicação Carioca Coelho Neto, assistindo a uma videoaula em casa. FOTO: Patrícia Rodrigues Mello. Hugo gravou um vídeo convocando os professores a participarem da empreitada. A mobilização gerada pela mensagem postada na página da 6ª CRE no Facebook já está gerando resultados. Letícia Lombone, 12 anos, aluna do 8º ano na Escola Municipal de Aplicação Carioca Coelho Neto, localizada no bairro de Ricardo de Albuquerque, afirma estar gostando das atividades pedagógicas postadas por seus professores nas redes sociais e relata já ter assumido um compromisso: “as videoaulas me mantêm em uma rotina de exercícios e trabalhos muito importante, que terei que apresentar aos professores no final desse período da quarentena. ” Manter a rotina relacionada à escola é um dos objetivos da iniciativa proposta pela 6ª CRE, segundo a professora Yasmin Benedetti, que leciona inglês nas Escolas Municipais Zituo Yoneshigue, também em Ricardo de Albuquerque, e Lia Braga, em Guadalupe. “Nessa quarentena que nós estamos vivendo, pensar que os nossos alunos estão afastados da escola, que é a maior referência que eles têm - eles passam mais tempo na escola do que em casa -, poder chegar até eles e fazer com que eles não percam essa rotina e esse contato, e sigam aprendendo, é muito bom”, afirma Yasmin, que já deu a sua contribuição com uma videoaula gravada em seu celular. Segundo Hugo, a intenção não é criar um modelo de ensino a distância para a Rede Municipal, mas manter professores, alunos, pais e responsáveis conectados. “Não podíamos correr o risco de nossos alunos, nesse período de afastamento social, se desvincularem da escola e perdermos contato. Através desse movimento, temos visto uma verdadeira rede colaborativa se desenvolvendo, com profissionais de diferentes unidades escolares trocando ideias e compartilhando as aulas uns dos outros, levando esse conteúdo aos alunos de suas unidades”, constata. Entre os conteúdos compartilhados, há atividades lúdicas, como brincadeiras e leitura de histórias, consideradas fundamentais por Luana Travassos, mãe de Maria Eduarda, 8 anos, aluna do 3º ano no Ciep Glauber Rocha, na Pavuna. Luana elogia a preocupação dos professores em relacionar os conteúdos das videoaulas com a faixa etária do aluno e conta como utiliza as atividades sugeridas para organizar a rotina da filha: “Eu imprimo algumas, para que ela estude na parte da manhã, que é o horário que nós separamos para os estudos dela. Quando não consigo imprimir, mostro através da tela mesmo. Faço sempre a busca nas redes sociais da 6ª CRE ou através da hashtag.” Cássio explica que as redes sociais da 6ª CRE já contavam com 10 mil seguidores, o que contribuiu para a rápida e grande adesão. Hugo acrescenta um ingrediente: para ele, o sucesso da iniciativa deve-se também à grande penetração da telefonia móvel. “O fato desse material ser de fácil acesso pelas famílias, pois com um celular elas conseguem acessar as aulas, fez com que nós acabássemos democratizando, ainda mais, o alcance desse conteúdo. Afinal, a maioria das famílias hoje acessa a internet por meio do celular e não dos computadores”, relata. As atividades e conteúdos pedagógicos estão sendo compartilhados pela página da 6ª CRE no Facebook , pelo Instagram e em grupos de WhatsApp que reúnem professores, gestores escolares, pais e responsáveis pelos alunos. “Sabemos que não alcançaremos todas as famílias, pois no nosso território tem algumas áreas em que a qualidade do sinal das operadoras é muito limitada ainda, mas cada família que alcançamos já é uma vitória e, de passo em passo, vamos alcançando ainda mais”, comemora Hugo. A iniciativa da 6ª CRE está se espalhando por toda a Rede Municipal de Educação e já conta com contribuições da 2ª, 5ª, 7ª e 8ª CRE, além da Escola de Formação Paulo Freire. Não há exigências complicadas em relação ao formato em que as videoaulas devem ser produzidas. Recomenda-se, no entanto, que os vídeos tenham duração máxima de três minutos, sejam gravados sempre na posição horizontal e que os professores se apresentem e digam a qual escola pertencem. Para garantir a qualidade e o alinhamento dos conteúdos à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), todos os vídeos produzidos pelos professores estão passando pela análise da Gerência de Educação da 6ª CRE, que segue as orientações da Secretaria Municipal de Educação. As aulas e atividades de complementação escolar, gravadas em vídeo e áudio pelos professores, estão disponíveis em #CompartilhaUmaAula. Em breve, muitas delas poderão ser acessadas também na área Material de Complementação Escolar (MCE) do Portal MultiRio.
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