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Hip hop na escola: o rap na Educação Infantil
18 Janeiro 2021 | Por Fernanda Fernandes
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Professor Allan de Souza leva a cultura hip hop para crianças do EDI Professor Carlos Falseth, no Jardim América (Imagem: Pixabay)

A cultura hip hop invadiu a escola. Concentração, memória, oralidade, vocabulário e expressão corporal são trabalhados em sala de aula de uma maneira diferente – para muitos alunos, inusitada.

No EDI Professor Carlos Falseth (4ª CRE), no Jardim América, o professor de Língua Portuguesa Allan de Souza leva o rap (sigla derivada de rhythm and poetry, em português, ritmo e poesia) à Educação Infantil.

Palavras, rimas, versos, repetição, improviso, tudo isso encanta e estimula o protagonismo das crianças.

“Sempre trabalho numa perspectiva voltada ao que é a raiz do hip hop: informação e conhecimento. Isso é fundamental para que a criança ou o jovem se sinta capaz de disseminar valores como o respeito, o amor, a paz, a união. E busquem na arte uma maneira de colocar para fora tudo o que estão sentindo ou talvez venham a sentir”, explica o professor.

Mas, afinal, o que é o hip hop?

O hip hop é um movimento cultural que surgiu no início dos anos 1970 nos subúrbios de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Inicialmente, era associado a manifestações artísticas da juventude pobre da periferia e dos guetos de grandes centros urbanos. Mas acabou se disseminando pelo mundo todo.

“O hip hop é uma cultura formada por 4 elementos: o rap, o break, o DJ e o grafite. Somado a isso, temos o conhecimento. Essa cultura serve até hoje para dar a crianças e jovens autonomia e protagonismo, para que se expressem e se manifestem, refletindo o que eles entendem sobre o mundo. O grafiteiro que se expressa nos muros, o dançarino que se apresenta numa praça pública, o MC (mestre de cerimônias) que comanda um slam ou canta um rap sobre problemas sociais...Todos fazem parte dessa cultura”, explica Allan de Souza, que atua nessa cena, desde 2002, como artista, produtor cultural e ativista.

“O hip hop é meu estilo de vida, minha maneira de viver. Desde que tive contato com essa cultura, eu durmo e acordo pensando e praticando hip hop. Assim como falamos que é uma cultura que salva vidas, posso dizer que o hip hop deu sentido a minha vida”, acrescenta.

O rap em sala de aula

A linguagem do hip hop, segundo Allan, é de fácil assimilação, embora, com o passar da vivência, torne-se algo de grande complexidade.

Na visão do professor, dificilmente outra cultura ou manifestação artística tem a capacidade fazer criança e adolescente se manifestarem.

“Isso se deve ao fato de ela trabalhar muito a partir da identidade de cada um”, observa Allan, que atua na Rede Pública Municipal de Ensino do Rio desde 2011, e já ministrou oficinas de hip hop no Clube Escolar Pavuna durante três anos.

Allan de Souza com seus alunos do EDI Professor Carlos Falseth (Foto: Arquivo pessoal do professor)

O docente conta que, na maioria das vezes, seu primeiro contato com os alunos se dá a partir de uma dinâmica na qual cada criança fala (ou escreve, se for em uma turma do Ensino Fundamental) uma palavra.

“A partir disso, eu faço um improviso com cada palavra apresentada por eles. Isso causa um encantamento. Normalmente, todos ficam chocados, de boca aberta, hipnotizados com o que acontece na frente deles de forma totalmente espontânea e real. É meio que um trunfo, uma carta na manga que eu uso para ganhá-los logo no primeiro momento”, revela Allan, que também tem formação em teatro.

No EDI Professor Carlos Falseth, o docente realiza práticas diversificadas, que envolvem desde a percepção, a memória e a expressão corporal, até uma nova forma de enxergar o mundo.

“Isso pode se dar por meio de dinâmicas de socialização, que também podem ser vistas como brincadeiras. Por exemplo, peço que memorizem o nome que um colega falou numa roda e, depois, tentem memorizar o máximo de nomes falados. Ou proponho situações de improviso dentro da própria oralidade”, relata o professor, que também explora a repetição, processo que leva as crianças a cantarem e interpretarem uma ideia, mesmo que não saibam ler ou escrever.

“Criamos uma letra a partir de uma palavra que eles falam e vamos emendando uma coisa na outra”, diz.

Em geral, as atividades são propostas de acordo com a turma, com as vivências em sala de aula e com o que os alunos trazem. Segundo Allan, sobretudo com crianças pequenas, não pode haver um roteiro, um script a ser seguido.

“Muitas vezes a situação se dá naquele momento e você aproveita o que está acontecendo na interação deles e transforma aquilo numa atividade”, comenta.

Allan acredita que a Educação seja um trabalho de griots, contadores de histórias considerados muito sábios, segundo tradição africana.

"O hip hop deu sentido a minha vida”, diz Allan de Souza, que também é artista, produtor cultural e ativista (Foto: Arquivo pessoal do professor)

“Acho que, às vezes, nós, educadores, precisamos ser mais um griot, no sentido de aproveitar os conhecimentos, as histórias, e transformá-los em algo realmente útil. E não só chegar com um conhecimento prévio e impor”, considera.

O papel da arte na prática pedagógica

Na opinião de Allan, é fundamental que profissionais da Educação busquem outros conhecimentos para acrescentar a seus repertórios.

“Se for possível fazer um curso livre na área de música ou de teatro, por exemplo, façam! Se der, levem trabalhos artísticos, visuais, para mostrar aos alunos em sala de aula. Essas situações engrandecem muito e fazem com que os alunos sintam prazer em estar na escola. Porque saberão que, ali, vão se deparar e lidar com situações que, fora da sala de aula ou em casa, eles não terão a possibilidade de ter contato”, sugere o educador.

“Eu estou professor quando estou dentro da sala de aula. Mas tenho inúmeras atuações fora dela, que não são relacionadas ao professor Allan. Isso é muito enriquecedor. Mostra um horizonte muito maior para os alunos. Falo para eles que podemos ser o que a gente quiser.”

 
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