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Professores escritores semeiam livros
29 Julho 2013 | Por Sandra Machado
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MARGARIDAINSATISFEITASeres humanos são diferentes. O que não chega a ser um problema quando se propõem a realizar algo de positivo em conjunto. Um livro, por exemplo. De quantos estamos falando? Neste caso, de uma pessoa grande, acompanhada de mais umas 30, bem pequenininhas... A Diferença do Ser Humano é o nome de um livro escrito coletivamente no Ciep Herivelto Martins (Senador Vasconcelos, 9ª CRE), na Zona Oeste do Rio, pelos alunos de uma turma do 3º ano. Isso aconteceu em 2005, mas Denise Almeida da Silva, então professora da Sala de Leitura daquela escola, e que coordenou a experiência, insiste no “bom combate”, hoje no Ciep Raymundo Ottoni de Castro Maya, no bairro vizinho, em Campo Grande. “Continuo provocando as crianças.” É assim que tomam forma os enredos mais incríveis na Sala de Leitura Roberto Burle Marx, pela qual passam, atualmente, 680 crianças de 24 turmas.

Do jeito que Denise explica, foi a coisa mais fácil do mundo escrever A Diferença do Ser Humano. “Vamos escolher o cenário?” – e as crianças sugeriram o céu. Depois veio a escolha da personagem, e ela acabou sendo uma inusitada estrela verde, que chorava com o deboche das demais por causa de sua cor. A professora orientava. “O título ainda não: título é sempre o que fica por último.” Mas onde situar as aventuras de uma estrela verde? Tarefa fácil para o raio malvado, que a derrubou lá de cima e jogou no fundo do mar. Cercada de outras estrelas sem brilho, a protagonista recebeu toda a ajuda possível. Mas a solução quem deu mesmo foi um dos autores mirins: “Tia, já sei!”. E resolveu, com a maior naturalidade do mundo, que um peixe elétrico ia dar uma descarga na estrelinha, de forma que ela voltasse a brilhar e esse brilho a levasse de volta para casa. Como ninguém pensou nisso?

Mesmo sem jamais ter tido uma editora, Denise Almeida já publicou quatro livros: Quem Não Presta Atenção Só Se Mete em Confusão, Enchendo a Pança no Supermercado, A Margarida Insatisfeita e Essa Vida de Criança Não É Mole, todos escritos em versos rimados. O primeiro, por meio de um “consórcio literário”, com a despesa das edições mensais rateada entre os autores e uma tiragem inicial de mil exemplares. E aquela turminha que escreveu a história da estrela foi a que mais ajudou, segundo conta, na hora de escolher os textos que enchem 64 páginas. Com a obra em mãos, começou a se apresentar para tardes de autógrafos pelas escolas. Nas públicas, leva pelo menos dez exemplares para sortear entre as crianças. Para ela, o valor da literatura é tão grande que já se tornou uma profissão de fé: “Se quero que meus alunos produzam textos, tenho que mostrar a eles textos bons como inspiração. Além disso, como não vou escrever? Falo que eles podem ser autores também. Como diz Lúcia Lins Browne Rego, na vida todo mundo precisa de modelos”.

Tratar de temas delicados também é fundamental, na opinião da professora, que encara o livro infantil como um canal de mensagem educativa essencial. Na historinha Bicho Papão Comilão, por exemplo, Denise Almeida busca educar a respeito da obesidade infantil. O Clubinho dos Contadores de História, que periodicamente arregimenta pais e filhos para apresentação na Sala de Leitura, funciona como um estímulo à reflexão de todos. E há outros mecanismos igualmente atraentes. “Acredito muito na funcionalidade das oficinas, como a de desenho, de poesia ou a de contação de histórias. Quando o aluno se inscreve porque gosta, faz ainda mais bem-feito e o resultado fica acima da média".

Átila Lourenço Sarau Literário1Maior participação nas atividades pedagógicas e a oportunidade de minimizar a inibição da garotada: esses são os dois benefícios mais imediatos do Sarau Literário, realizado há dez anos na Rede Municipal de Ensino pelo professor de Língua Portuguesa e Literatura Átila Hernandes Lourenço – sete na EM Gandhi e três na EM Emiliano Galdino (10ª CRE), na qual atua como diretor-adjunto há um ano e meio. Enquanto não lança o primeiro livro, o reconhecimento de Átila como escritor acontece via textos publicados em antologias e também pelas premiações, como o primeiro lugar do Poesia na Escola, em 2010. O concurso integra o programa Rio, uma Cidade de Leitores e incentiva a leitura literária entre os estudantes e profissionais das escolas da Secretaria Municipal de Educação.

Para integrar a comissão julgadora do Sarau Literário, Átila convida um representante da 10ª CRE, um professor de Língua Portuguesa e um professor da Sala de Leitura da escola, além de mais dois funcionários. O projeto é inspirado no Prêmio Feuc de Literatura, da Fundação Educacional Unificada Campograndense, criado em 1997, pelo qual já foi premiado como participante, mas também foi duas vezes jurado. De início é escolhido o tema principal do sarau, geralmente uma referência a escritores brasileiros, e outros transversais, ligados ao projeto político-pedagógico ou de livre escolha dos alunos. Neste ano, o homenageado é Vinicius de Moraes. Em seguida, é feita a divulgação do evento. Os professores de Língua Portuguesa se encarregam de estimular a participação, bem com realizar possíveis correções nos textos, que não devem ultrapassar 30 versos. Tanto os autores quanto os intérpretes são premiados com troféus, livros, material escolar e chocolate, entre outros.

A última novidade é que Átila vai participar, como autor, de um evento regional de incentivo à leitura: a Flizo – 1ª Feira Literária da Zona Oeste. Na ocasião, será lançado um livro, e um texto seu integra a coletânea. Há 14 anos, ele faz parte do Circuito Literário Conversa Com Verso, grupo que reúne poetas, pintores, atores e outros agentes ligados à arte da região. O trânsito livre entre as mais diversas expressões de criatividade confere ares de naturalidade ao ofício do escritor. “Não me acho poeta. A gente escreve...”

 
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