Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, ou simplesmente Lota, foi responsável por evitar a construção de quatro avenidas com prédios à beira-mar, em prol da realização do atual Parque do Flamengo, com sua vista e áreas de lazer abertas gratuitamente à população. O governador Carlos Lacerda demitiu o diretor de Urbanização, José de Oliveira Reis, que não abria mão do projeto original.
Lota, amiga e vizinha de Carlos Lacerda em Petrópolis, foi convidada por ele, quando assumiu o comando do estado da Guanabara, em 1960, a colaborar com o governo. Ela propôs criar o Parque do Flamengo, a partir de um projeto feito em conjunto com Affonso Reidy, arquiteto modernista.
Lacerda formou um grupo de trabalho sob o comando de Lota para que o aterrado Glória-Flamengo fosse urbanizado (terras do desmonte do Morro de Santo Antônio tinham sido lançadas na Baía de Guanabara). Para fazer parte da equipe, ela convidou, além de Reidy, Jorge Machado Moreira (projeto arquitetônico), Berta Leitchic (engenharia), Ethel Bauzer Medeiros (recreação), Carlos Werneck de Carvalho, Sergio Bernardes e Hélio Mamede (desenvolvimento de projetos). O GT trabalhava em um barracão improvisado em pleno aterrado. Contratou também os serviços do escritório de Roberto Burle Marx e Arquitetos Associados.
No projeto de urbanização, ampliou-se o aterramento, com material (areia, pedras, entulho) vindo do fundo da Baía de Guanabara e dos túneis que estavam em construção na cidade. Compuseram o paisagismo do local mudas de plantas trazidas de Cuba e também do interior do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Desavenças
A obra envolveu constantes brigas entre Lota e sua equipe e também entre ela e a Superintendência de Urbanização e Saneamento – Sursan. Burle Marx chegou a chamá-la de prepotente e autoritária em entrevistas nos jornais.
Lota desejava criar uma fundação que preservasse o projeto original do parque, que não previa construções, estátuas ou qualquer obstrução à vista dos pedestres. Lacerda chegou a autorizar por meio de decreto, mas a fundação acabou extinta, e a administração e conservação do Parque do Flamengo ficaram a cargo da Sursan, passando posteriormente ao Departamento de Parques e Jardins, e mais tarde ao Departamento de Monumentos e Chafarizes. Atualmente, está sob responsabilidade da Fundação Parques e Jardins, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. O Parque foi tombado como patrimônio histórico e arquitetônico em 20 de abril de 1965 e inaugurado em 12 de outubro do mesmo ano.
Em 1988, o Parque do Flamengo passou a ser oficialmente chamado de Parque Carlos Lacerda – da área que vai do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra até a entrada do Túnel do Pasmado – e de Parque Brigadeiro Eduardo Gomes – o trecho entre o Aeroporto Santos Dumont e o Monumento aos Pracinhas.
Parque do Flamengo faz 50 anos
Ao fazer 50 anos, em 2015, a área segue oferecendo locais propícios ao passeio, à prática de esportes diversos, à brincadeira infantil. Um parque vivo, com campos de pelada, brinquedos de criança, pistas de aeromodelismo, teatrinho, pista de dança, marina pública, quadras poliesportivas e os primeiros sanitários públicos do Rio.
A idealizadora do Parque do Flamengo não se formou na universidade. Filha do primeiro-tenente da Marinha, José Eduardo de Macedo Soares, nasceu em Paris, em 1910, onde o pai servia. Quando ele deixou a Marinha, fundou, no Rio de Janeiro, o jornal O Imparcial, precursor do Diário Carioca. Na década de 1920, teve que fugir do país por criticar o governo federal no jornal. Lota estudou, então, em um colégio interno na Suíça até os 18 anos, quando voltou com a família para o Brasil.
Na década de 1930, teve aulas de arquitetura com Carlos Leão e entrou para o curso de pintura da Universidade do Distrito Federal (no Rio), ministrado por Candido Portinari. Era fã de Mariette Hélène Delangle, corredora de carros francesa, e participava, ela própria, de corridas de carro do Circuito da Gávea.
Fontes:
Site do Instituto Lotta, Portal da Prefeitura do Rio de Janeiro e Revista de História da Biblioteca Nacional.
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