Moradores do Rio de Janeiro estão familiarizados com o nome: Rebouças, o mesmo do maior túnel da cidade, que liga as zonas Norte e Sul. A denominação é uma homenagem a André Rebouças e também a seu irmão, Antônio Rebouças, ambos engenheiros. No Rio, André foi responsável por obras ligadas ao abastecimento de água durante a seca de 1870, ao Armazém Docas Dom Pedro II, atual Galpão da Ação da Cidadania, na Avenida Barão de Tefé, e à construção das Docas da Alfândega. Ao lado do irmão, também esteve envolvido na construção de estradas de ferro e na reforma de portos e fortificações do litoral brasileiro.
No entanto, apesar de ser mais facilmente associado à engenharia, André foi um intelectual e educador preocupado com questões abolicionistas e com a inclusão social do negro no Brasil. Um refinado intelectual negro em uma sociedade escravista. A atualidade de suas ideias – no inconformismo com a desigualdade e combate à miséria e à exclusão social – impressiona e ressalta o comprometimento de André com questões de seu tempo.
A favor da educação e da inclusão do negro
“E o problema social máximo do século anuncia-se assim: ‘Educar os povos para serem soberanos’; ‘Educar os reis para serem cidadãos’”. (REBOUÇAS, André)
André Rebouças nasceu em 13 de janeiro de 1838 na cidade de Cachoeira, na Bahia. Seu pai, Antônio Pereira Rebouças, foi um homem de prestígio. Mulato em uma época de extremo preconceito racial, Antônio foi autodidata, obteve o direito de advogar em todo o Brasil e assumiu cargos importantes, como o de conselheiro do Império.
Em 1846, a família se mudou para o Rio de Janeiro, em função da eleição de Antônio para o Parlamento do Império. André foi aluno da Escola Militar (depois chamada de Central e, por fim, Politécnica, no Largo de São Francisco). Mais tarde, bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, onde obteve o grau de engenheiro militar. Em 1861, foi estudar na Europa, ao lado do irmão Antônio. Quando retornou ao Brasil, participou de projetos de construção de ferrovias e de reformas de portos e fortalezas. Como engenheiro militar, esteve na Guerra do Paraguai, mas retornou ao Rio por motivos de saúde.
No início da década de 1880, engajou-se na campanha abolicionista. Participou da criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, entre outros; da Sociedade Abolicionista; e da Sociedade Central de Imigração. Para ele, a abolição da escravatura deveria ocorrer gradativamente combinada com a adoção de medidas que possibilitassem a imigração europeia e a valorização do trabalho, da educação e da constituição da pequena propriedade. Foi um dos poucos abolicionistas que vislumbraram as implicações da eliminação da mão de obra escrava. Segundo ele, “a escravidão não está no nome e sim no fato de usufruir do trabalho de miseráveis sem pagar salário ou pagando apenas o estrito necessário para não morrer de fome”. Um trecho da obra Agricultura Nacional – Estudos Econômicos, Propaganda Abolicionista e Democrática, editado pela Fundação Joaquim Nabuco, destaca seu pensamento:
Necessitamo‐nos de instrução e capital. E como não é possível construir escolas, comprar livros e pagar mestres sem capital, é preciso resolver simultaneamente o problema do capital e o problema da instrução: não se pode ensinar a ler quem tem fome! É preciso capital para instrução, e capital para a indústria. É preciso dar simultaneamente ao povo – instrução e trabalho. Dar instrução aos brasileiros para que eles conheçam perfeitamente toda a extensão de seus direitos e de seus deveres: dar‐lhes trabalho para que eles possam ser realmente livres e independentes!
Rebouças teve forte ligação com o Clube de Engenharia, do qual foi sócio, escrevendo, inclusive, artigos técnicos para a revista da instituição; e com a Escola Politécnica, onde lecionou as disciplinas Cálculo, Botânica, Zoologia, Estatística, Arquitetura, Construção e Resistência dos Materiais. Na publicação Diário e Notas Biográficas, ao lamentar os obstáculos encontrados para contribuir com o desenvolvimento do país, André afirmava que o professorado era sua real vocação.
Ele defendia a educação técnica e agrícola para os que exerciam atividades no meio rural, e pregava o ensino prático combinado às necessidades imediatas dos alunos.
O exílio e o fim da trajetória
Monarquista e amigo pessoal do imperador Pedro II, André embarcou junto com a família imperial em seu exílio, à época do movimento militar de 15 de novembro de 1889. Morou em Portugal, na França e em Angola. Em 1893, resolveu fixar-se em Funchal, capital da Ilha da Madeira.
Com estado de saúde precário, morreu cinco anos depois. Os restos mortais foram trazidos para o Rio de Janeiro e sepultados no Cemitério de São João Batista.
Fontes:
Intelectuais negros e reformas sociais: pensamento e projetos educacionais do professor André Pinto. Alessandra Frota M. de Schueler e Rebeca Natacha de Oliveira Pinto.
Agricultura nacional. Estudos econômicos, propaganda abolicionista e democrática. REBOUÇAS, André.
GASPAR, Lúcia. André Rebouças. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar>. Acesso em: 27 de agosto de 2015.
http://www0.rio.rj.gov.br/pcrj/destaques/especial/reboucas.shtm
http://portomaravilha.com.br/materias/armazem-docas-pedro/a-d-p.aspx
http://educacao.uol.com.br/biografias
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