Machado de Assis é um assombro. Não apenas porque imprimiu nas páginas de seus romances os modos da sociedade escravocrata brasileira e aspectos da alma humana, mas também porque, menino pobre do Morro do Livramento, na região portuária do Rio de Janeiro, com a saúde frágil, tornou-se, além de jornalista, escritor reconhecido internacionalmente, traduzido para 16 línguas, entre elas, árabe, dinamarquês e romeno.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839. O pai era pintor de paredes, e a mãe, lavadeira. Não estudou regularmente. Aprendeu francês e latim com o padre Antônio José da Silveira Sarmento. Aos 17 anos, tornou-se aprendiz na tipografia da Imprensa Nacional. Aos 19, empregou-se como revisor e colaborador do jornal Marmota. A partir daí, colaborou assiduamente com jornais e revistas do Rio, publicando contos, crônicas, críticas literárias e teatrais.
Além de crítico, escreveu para o teatro, sendo uma de suas primeiras peças a sátira Queda Que as Mulheres Têm para os Tolos, de 1861, e que revela uma de suas marcas registradas – o humor. Interessado que era pelo métier e com pouco dinheiro, em 1862 tornou-se censor teatral, cuja única remuneração era o livre acesso aos teatros.
Machado escreveu também poemas e contos – cerca de 200 –, mas a carreira que lhe deu estabilidade financeira foi a burocrática, na qual ingressou em 1867, como ajudante do diretor do Diário Oficial. Ao longo da vida, foi conquistando posições de mais prestígio e melhor remuneração, como oficial da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas; chefe de seção da Secretaria de Agricultura; responsável pela diretoria de Comércio, na Secretaria de Agricultura; chegando à direção do Ministério da Viação.
A carreira de escritor seguiu paralela à de burocrata, sendo sete os livros de poemas que escreveu: Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), Gazeta de Holanda (1886-88), Ocidentais (1901), O Almada (1908) e Dispersas (1854-1939). Já os contos reúnem-se em outras sete publicações: Contos Fluminenses (1870), Histórias da Meia Noite (1873), Papéis Avulsos (1882), Histórias Sem Data (1884), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1899) e Relíquias de Casa Velha (1906).
O primeiro romance foi Ressurreição (1872). Constam ainda nessa primeira fase do escritor, ligada ao movimento artístico denominado romantismo, A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Especialistas na obra de Machado explicam que nessas primeiras obras o autor procurava narrar histórias edificantes, exemplares, modelos a serem seguidos.
Feliz no casamento
Casou-se, em 12 de novembro de 1869, com Carolina Augusta Xavier de Novais, portuguesa recém-chegada ao Brasil.
Em 1878, precisou de licença médica devido às crises de epilepsia. Repousou durante três meses em Friburgo, na região serrana do Rio. Esse período coincidiu com um ponto de inflexão na produção de seus romances. Até então, o autor seguia os modelos da época, ligados ao romantismo, e, a partir desse momento de crise, rompeu com os cânones, inaugurando, na literatura brasileira, o movimento artístico chamado realismo. A obra que dá início a essa fase é Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1880, que retrata a sociedade patriarcal escravocrata brasileira, seus autoritarismos e desperdícios financeiros. A partir daí, adotou uma visão crítica e a compartilhou com o leitor.
Além de Memórias Póstumas de Brás Cubas, fazem parte da denominada trilogia realista os romances Quincas Borba, de 1891, e Dom Casmurro, de 1899. Esse último ganhou algumas adaptações para cinema e televisão, provocando nos espectadores a mesma dúvida lançada há mais de um século: teria Capitu traído o marido, Bentinho, com o melhor amigo dele?
Machado de Assis participou ativamente da criação da Academia Brasileira de Letras, sendo seu primeiro presidente, posto que ocupou até morrer.
Em 1904, Carolina adoeceu. O casal retirou-se, como de hábito, para Friburgo. Em 20 de outubro ela faleceu, dias antes de completarem 35 anos de casados. Quatro anos depois, o próprio escritor morreu, aos 69 anos, na madrugada de 29 de setembro de 1908, em sua casa, na Rua Cosme Velho, 18. O casal foi sepultado no Cemitério São João Batista.
Página do MEC na intenet reúne obra do autor
Por ocasião da comemoração dos 100 anos do falecimento de Machado de Assis, o Ministério da Educação montou um site, disponibilizando a obra completa do escritor para download gratuito. Além dos livros, há diversas outras atrações para quem quer conhecer o mestre da literatura brasileira: documentário com especialistas, mostrando também o Rio de Janeiro; adaptações de contos para os dias atuais, com técnicas diversas de animação e quadrinistas renomados como Allan Sieber e dublagem de atores profissionais. Há ainda informações sobre a vida e a obra do Bruxo do Cosme Velho, como carinhosamente o chamou, em um poema, Carlos Drummond de Andrade. O site é bastante útil para professores apresentarem o autor para as novas gerações.
O nome de Machado de Assis foi incluído no Livro de Heróis e Heroínas da Cidade do Rio de Janeiro, uma homenagem às personalidades históricas que contribuíram para a formação e o desenvolvimento do município.
Fontes:
ABL, MEC, Enciclopédia Itaú Cultural e USP.
24/11/2017
José Maurício Nunes Garcia foi um dos melhores compositores brasileiros de música sacra.
Heróis e Heroínas do Rio
03/03/2017
Compositor, maestro e instrumentista carioca de renome internacional, Villa-Lobos uniu a música popular à erudita.
Heróis e Heroínas do Rio
19/01/2017
Pioneira na criação de uma moda genuinamente nacional, a estilista deu contornos políticos ao seu trabalho a partir da morte do filho.
Heróis e Heroínas do Rio
04/01/2017
Jovem de Vila Isabel uniu os sambas do morro e do asfalto por meio de composições que retratavam o cotidiano com humor e crítica social.
Heróis e Heroínas do Rio
02/09/2016
Apesar de ter nascido em Portugal, Carmen Miranda é considerada a primeira artista multimídia do Brasil.
Heróis e Heroínas do Rio
26/08/2016
Administrou o município do Rio de Janeiro na década de 1930, iniciando a construção de oito hospitais e 28 escolas públicas.
Heróis e Heroínas do Rio
01/03/2016
Persistente, ele lutou contra franceses e indígenas para dominar a Baía de Guanabara e povoar o local onde hoje é a cidade do Rio.
Heróis e Heroínas do Rio
24/02/2016
O engenheiro Pereira Passos foi o maior responsável pela reformulação que, no início do século XX, deu ao centro do Rio seu ar de metrópole.
Heróis e Heroínas do Rio
19/01/2016
O italiano Sebastião e sua trajetória até tornar-se o padroeiro da nossa cidade.
Heróis e Heroínas do Rio
18/11/2015
Articulador fundamental para o fim da escravidão no país, ele abraçou também a causa dos retirantes nordestinos e até a defesa dos animais.
Heróis e Heroínas do Rio
10/11/2015
Considerada uma das melhores instrumentistas do início do século XX, ela teve uma carreira impecável no exterior por mais de 60 anos.
Heróis e Heroínas do Rio
23/10/2015
De 1816 a 1831, o artista registrou não apenas momentos importantes da fase de formação do Brasil Império, mas também o movimento das ruas.
Heróis e Heroínas do Rio
21/09/2015
Engenheiro de prestígio, o que contribuiu para que desse nome a um importante túnel da cidade, Rebouças foi um intelectual preocupado com a inclusão social do negro no Brasil.
Heróis e Heroínas do Rio
03/09/2015
Representante autêntico do samba e um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, músico leva requinte a composições que atravessam décadas.
Heróis e Heroínas do Rio
30/07/2015
Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, ou simplesmente Lota, foi responsável por evitar a construção de quatro avenidas com prédios à beira-mar, em prol da realização do atual Parque do Flamengo.
Heróis e Heroínas do Rio
14/07/2015
Médico, cientista e sanitarista, foi responsável pelo combate de doenças infecciosas que matavam milhares de brasileiros.
Heróis e Heroínas do Rio
02/07/2015
Com uma carreira que começou ainda na infância, o maestro foi responsável por incorporar elementos tipicamente brasileiros às técnicas de orquestração e de arranjo de então.
Heróis e Heroínas do Rio
26/05/2015
O jesuíta é tido não só como pioneiro da área de ensino, mas também da arte brasileira.
Heróis e Heroínas do Rio
19/05/2015
Estimativas apontam que Augusto Malta produziu de 30 a 60 mil registros, ao longo das mais de três décadas em que trabalhou para a prefeitura da cidade.
Heróis e Heroínas do Rio
27/04/2015
Com o pseudônimo de Rian, Nair de Teffé publicou em jornais brasileiros e estrangeiros. Artista multitalento, foi ainda feminista e esposa do presidente Hermes da Fonseca.
Heróis e Heroínas do Rio
08/04/2014
Compositor, ele participou do nascimento das escolas de samba do Rio de Janeiro. Como pintor, teve o talento reconhecido até pela rainha da Inglaterra.
Heróis e Heroínas do Rio