Compositor, orquestrador, inicialmente flautista e, a partir de 1946, saxofonista. Alfredo da Rocha Vianna Filho nasceu em 23 de abril de 1898, no bairro da Piedade. Seu pai era funcionário dos Correios e Telégrafos, mas também flautista amador, e transformou a casa de oito quartos, situada no Catumbi, na Pensão do Choro, para músicos populares. Nas rodas costumeiras, os mais célebres “chorões” da época se lapidavam na arte do improviso. Tocavam, também, em eventos populares – batizados, casamentos – em troca de comida e bebida. E, caso percebessem que a recompensa seria escassa, tinham suas senhas para bater em retirada, como conta André Diniz, autor da biografia Pixinguinha – o Gênio e o Tempo: “o gato dorme no forno” ou “não tem pirão” eram duas das mais típicas.
Gênio cresceu cercado pela música
Ainda na infância, recebeu da prima Eurídice o apelido de Pizindim ou Pizinguim, que significa “menino bom”. Caçula, era o nono filho do casal, sendo que a mãe ainda tinha outros quatro filhos do primeiro casamento. Seu pai mandou trazer da Itália a melhor flauta que existia na época, da marca Balacina Biloro. Preocupado com os horários de apresentação do caçula, mandava que os filhos mais velhos o acompanhassem e garantissem que não chegasse tarde. Pixinguinha chegou a ser matriculado na melhor escola particular do Rio de Janeiro, o Colégio São Bento, mas a essa altura a opção pela música tinha feito morada no coração do garoto.
César Borges Leitão, colega de Alfredo Vianna “pai” nos Correios, foi o responsável pela iniciação musical de Pixinguinha no sopro. Seus irmãos Léo e Henrique também colaboraram para que aprendesse os primeiros acordes no cavaquinho. Já a Irineu de Almeida, integrante da banda do Corpo de Bombeiros e mais conhecido como Irineu Batina, coube a tarefa de ensinar o menino a ler e a escrever partituras. Irineu era formado nos cursos de harmonia, contraponto e fuga pelo Conservatório Imperial de Música, a única escola pública para a formação de instrumentistas. Foi dele que partiu o convite para Pixinguinha integrar o grupo Choro Carioca, do qual participavam também seu irmão Otávio, mais conhecido como China, e Léo. O grupo fazia gravações esporádicas para a indústria fonográfica, em plena fase de implantação no país.
Carnaval, teatro e cinema impulsionaram a carreira
Pixinguinha estava, então, com 13 anos. Devido a seu rápido desenvolvimento no instrumento, Irineu Batina o levou para tocar na orquestra do rancho Sociedade Dançante e Carnavalesca Filhas da Jardineira, da qual era diretor de harmonia, e que era arquirrival da Ameno Resedá. Foi lá que ele conheceu dois outros expoentes da música, com os quais viria a formar um trio praticamente inseparável: o compositor e ritmista João da Baiana, mestre-sala do Filhas da Jardineira, e o violonista e compositor Ernesto dos Santos, o famoso Donga, lembrado até hoje pela autoria do primeiro samba gravado, Pelo Telefone. Durante o carnaval, essas e outras agremiações desfilavam pela Praça Onze usando, também, instrumentos do choro, como flautas e clarinetes, além dos cavaquinhos e violões.
Convidado pelo seu irmão Otávio, em 1912 Pixinguinha conseguiu seu primeiro emprego fixo e foi tocar flauta na choperia La Concha, na Lapa, para onde muitas vezes se dirigia usando, ainda, o uniforme do colégio. A cidade já contava com uma população em torno de um milhão de habitantes e a demanda por entretenimento favorecia a ampliação do circuito de música popular, para onde diferentes classes sociais convergiam. O teatro de revista e, num segundo momento, as emissoras de rádio, abriam frentes de atuação para os jovens talentos que buscavam seu lugar no mercado profissional. O cinema, que chegara ao Rio de Janeiro na passagem para o século XX, necessitava de músicos não apenas para acompanhar os filmes mudos, durante a exibição, como também para entreter o público no hall de entrada, entre uma sessão e outra. Pixinguinha debutou no Cinematographo Rio Branco. Foi quando se materializou, também, seu primeiro sucesso como compositor, com a publicação do tango Dominante pela Casa Editora Carlos Wehrs.
Do Rio de Janeiro para o mundo
Em 1917, o músico recebeu de Isaac Frankel, gerente do cinema Palais, a incumbência de que selecionasse instrumentistas para apresentação na sala de espera, e foi assim que surgiu o conjunto Os Oito Batutas, que logo se tornaria uma atração ainda maior que os filmes, chamando a atenção de celebridades como o compositor Ernesto Nazareth, o jurista Rui Barbosa e o empresário Arnaldo Guinle. Os passantes se aglomeravam na calçada em frente, e não demorou muito para que o grupo começasse a excursionar por São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e Pernambuco. O ápice da trajetória de sucesso chegou quando, em 28 de janeiro de 1922, Os Oito Batutas embarcaram rumo a Paris, patrocinados por Arnaldo Guinle, por sugestão do dançarino Duque, que enchia os salões em apresentações de maxixe. Numa época em que artistas negros tinham que entrar em espaços públicos, como hotéis e teatros, pela porta dos fundos, Pixinguinha sempre conservou um espírito contemporizador, transformando em arte seus mais profundos sentimentos também a esse respeito.
Reconhecimento em vida
Em 1926, atuou como regente da Companhia Negra de Revista, grupo criado e dirigido por De Chocolat, e composto por artistas negros discriminados pelas companhias teatrais da época. No ano seguinte, desposou a estrela da trupe, Albertina da Rocha, com quem viveria até a morte dela, em 1972.
Na virada para os anos 1930, chegou ao Rio de Janeiro a RCA Victor Talking Machine Company of Brazil. A empresa promoveu um concurso para orquestrador, na qual saiu vitorioso com a orquestração de Carinhoso. Por causa do prêmio, foi contratado como músico e arranjador exclusivo, à frente da Orquestra Victor Brasileira. Dois anos mais tarde, veio a contratação como arranjador da gravadora Columbia, regendo a orquestra que acompanhava artistas como Noel Rosa e Mário Reis. Em 1933, diplomou-se em teoria musical no Instituto Nacional de Música. Como continuava sem filhos, dois anos depois o casal adotou um menino, batizado de Alfredo da Rocha Vianna Neto.
Pixinguinha foi um dos primeiros artistas a registrar depoimento para a posteridade, no Museu da Imagem e do Som (MIS), na década de 1960, que acabou reproduzido no livro As Vozes Desassombradas do Museu, publicado com prefácio e edição de Ricardo Cravo Albin. Em 1968, ao completar 70 anos, prestou novo depoimento para o MIS, e recebeu uma grande homenagem no Theatro Municipal, à qual assistiu do camarote de honra.
Uma das mais belas canções brasileiras de todos os tempos
Embora a melodia de Carinhoso tenha sido composta por Pixinguinha entre 1916 e 1917, só na década de 1930 recebeu a letra de Braguinha e pôde ser gravada por Orlando Silva, tornando-se uma das músicas mais populares de todo o Brasil. Hoje, ela conta com cerca de 200 gravações e já foi usada como trilha sonora de novela e até de campanhas publicitárias.
Pixinguinha morreu em 17 de fevereiro de 1973, em pleno domingo de carnaval, devido a problemas cardíacos, durante o batizado do filho de um amigo, que se realizava na Igreja de Nossa Senhora da Paz. A Banda de Ipanema, que mal iniciara seu desfile, parou para executar Carinhoso, em honra ao mestre, em frente ao local. Outra homenagem é o nome da unidade da Rede Municipal de Ensino localizada em Vila Kosmos, a E.M. Maestro Pixinguinha (5ª CRE).
Uma boa alma
Conta o folclore em torno do artista que, um dia, reconhecido por três ladrões que desistiram de assaltá-lo e resolveram escoltá-lo até sua casa, Pixinguinha convidou os “novos amigos” para uma rodada num boteco do caminho. Lá pelas tantas, Pixinguinha sacou a flauta e iniciou uma jam session no lugar, gastando na noitada todo o cachê que tinha preservado horas antes do ataque dos bandidos.
Vinicius de Moraes resumiu como poucos o espírito de Pixinguinha. Ele foi parceiro do chorão na bela canção Lamento, depois que o diretor Alex Viany convidou o saxofonista para ajudar na composição da trilha sonora do seu filme Sol Sobre a Lama, em 1962. O poeta, como conta André Diniz no livro Pixinguinha – o Gênio e o Tempo, teria declarado: “É o melhor ser humano que conheço. E olha que o que eu conheço de gente não é mole”.
O compositor é um dos homenageados na série Pequenos Notáveis, produção da MultiRio que conta a vida de grandes personagens da MPB. Confira o fascículo sobre a série.
Fontes:
DINIZ, André. Pixinguinha – o Gênio e o Tempo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012, Cap.1.
Jornal O Fluminense, Editoria de Cultura e Lazer.
Site Dicionário MPB
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