Com muito barulho, fantasias extremamente detalhadas e organizados em grupos que podem chegar a 200 pessoas, os foliões conhecidos como clóvis ou bate-bolas fazem parte de uma tradição carnavalesca há décadas presente nas ruas do subúrbio do Rio de Janeiro. Vestidos de macacão, bolero, máscara, luvas, meiões e empunhando bexigas ou sombrinhas, eles se empenham o ano inteiro na confecção das fantasias e se preparam para as saídas e competições durante os quatro dias de folia.
De acordo com a pesquisadora e professora do Instituto de Arte da Uerj, Aline Gualda Pereira, no artigo Os bate-bolas do carnaval contemporâneo do Rio de Janeiro, os integrantes geralmente são homens moradores do mesmo bairro, com idade entre 25 e 40 anos que se unem para brincar o carnaval com trajes temáticos. As turmas possuem um líder –responsável pela decisão do tema e organização de festas e saídas – e nomes criativos como Inspiração, Turma do Índio, Foice, Atividade, Kuka, entre tantos outros.
A prática é antiga – os primeiros registros dos clóvis na cidade são do início do século XX – porém, incorporou elementos modernos. Os temas das fantasias se inspiram em personagens da cultura pop como super-heróis e desenhos animados; a confecção dos trajes utiliza alta tecnologia nas estamparias; os hinos são gravados em modernos estúdios e diversas páginas na internet abordam o tema e noticiam as novidades dos grupos.
Origens
Em entrevista ao portal da BBC, a pesquisadora Aline Gualda Pereira conta que trabalha com a hipótese da vestimenta dos bate-bolas cariocas ser uma variação de fantasias europeias com origem em mitos celtas. A denominação clóvis, segundo Aline, também possui raiz estrangeira: o termo seria uma derivação de clown (palhaço, em inglês e alemão).
O coordenador do Centro de Referência do Carnaval do Instituto de Artes da Uerj, Luiz Felipe Ferreira destaca, na mesma matéria da BBC, que a disputa de espaço nas ruas realizada pelas turmas de clóvis é um tipo de diversão ligado a áreas mais rurais. Segundo ele, a tradição encontrou terreno fértil no subúrbio da cidade durante o início do século XX, quando matadouros instalados na região forneciam as bexigas de bois e porcos usadas para produzir as primeiras bolas.
Para a historiadora Cristiane Braz – responsável pela pesquisa do documentário Carnaval, bexiga, funk e sombrinha, de Marcus Vinicius Faustini – os primeiros bate-bolas cariocas surgiram em Santa Cruz, na Zona Oeste. Segundo Braz, o bairro, que abrigava o Matadouro de Santa Cruz e o hangar de um zepelim na década de 1930, teve importância fundamental para o aparecimento da brincadeira. No Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro, localizado na região, há registros de que alguns militares alemães, que chegavam ao Brasil em dirigíveis, contribuíram para a nomeação dos foliões.
Valorização e patrimônio
Os bate-bolas se espalharam pela cidade e a quantidade de foliões só cresceu nos últimos anos. O estigma de violência e perigo que acompanhava as fantasias deu lugar ao espírito de celebração das turmas, que apenas buscam brincar o carnaval e espalhar alegria.
Em 2012, a Prefeitura declarou os grupos de foliões carnavalescos denominados clóvis ou bate-bolas como Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial. O decreto leva em consideração a importância desses grupos como personagens típicos do carnaval que refletem a forma alegre e irreverente da população suburbana festejar. E, ainda, a capacidade popular de produzir uma manifestação tradicional como forma de resistência à massificação da folia.
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