Ensinar História para uma turma de 40 alunos mais interessados no celular e em conversar durante as aulas é tarefa árdua. Wilmar Vianna Jr., professor da E.M. Getúlio Vargas, em Bangu (8ª CRE), busca estratégias para conquistar a atenção dos adolescentes, como o uso de vídeos e filmes pertinentes ao conteúdo ou abordando curiosidades ligadas aos fatos.

Por exemplo, ao falar sobre o 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil, ele se referiu ao quadro de Pedro Américo como uma representação glamourizada do acontecimento, já que D. Pedro I não montava um cavalo, mas sim uma mula – mais adequada à viagem pela serra –, e não havia uma comitiva tão grande quanto a retratada. A pintura foi feita anos depois do fato histórico, sob encomenda de D. Pedro II.

Wilmar explica: “Preciso fisgá-los de alguma maneira, porque Matemática eles sabem que precisam para fazer contas; sem Português, não escrevem; mas História, eles se perguntam: serve para quê? Procuro ensinar que a matéria importa para entender onde estamos, quem somos e quais possibilidades podemos criar”.

Quando ingressou na Rede Municipal de Ensino, em 2013, o professor percebeu que a escola onde cumpriria suas 40 horas era diferenciada, sendo, inclusive, tombada pelo Município. A unidade foi inaugurada em 1935 pelo próprio presidente Getúlio Vargas, acompanhado do prefeito Pedro Ernesto e do secretário de Educação, Anísio Teixeira. Até hoje, o prédio de 80 anos é um exemplar do modelo de escola implantado por Anísio, no que se refere à arquitetura – linhas simples, espaços amplos e ventilados.

Projeto Memória

Diante da importância histórica do local, Wilmar começou, no contraturno, um projeto de resgate da memória. Os estudantes o ajudaram a recuperar o livro de fundação da E.M. Getúlio Vargas, digitalizaram fotos e acompanharam entrevistas, feitas em vídeo, com ex-alunos. O professor contou com o apoio do Museu da República, que cedeu um ônibus para as turmas conhecerem, além do Palácio do Catete, o Museu Histórico Nacional e o Arquivo Nacional. Nessas visitas, tiveram contato com o trabalho de diversos profissionais que trabalham na área, como arquivologistas e restauradores.

Um dos objetivos do Projeto Memória era valorizar a escola pública e, consequentemente, os estudantes que se formam nela. Nesse sentido, entrevistas como a do ex-aluno que fez Doutorado nos Estados Unidos e, atualmente, é professor adjunto na UFRJ estimularam os jovens. “A escola pública pode ter qualidade e, se os estudantes se orgulharem de estudar nela, não a picharão nem degradarão”, explica ele.

Para completar a carga horária prevista em sua matrícula, Wilmar também dá aulas na E.M. Visconde de Porto Seguro, em Jardim Sulacap (8ª CRE).

Formando professores

Outra área de atuação do docente é o Ensino Superior, em que está à frente de turmas de graduação na Universidade Castelo Branco (faculdades de História e Pedagogia) e de pós-graduação no Centro Universitário Augusto Motta. “Dar aulas para o Ensino Fundamental ajuda na formação de novos professores na licenciatura.”

Desde julho, ele saboreia uma nova conquista profissional – o lançamento em livro da sua tese de Doutorado, que trata da administração do Brasil Colônia pelos governadores-gerais, no século XVIII: Modos de governar, modos de governo – o Governo-Geral do Estado do Brasil entre a conservação da conquista e a manutenção do negócio (1642-1682).

O pós-Doutorado está em seus planos e, quem sabe, daí não virá o segundo livro. “É preciso retornar à sociedade os anos de estudo que investiram no pesquisador”, diz ele sobre a importância de publicar o resultado de suas pesquisas.

Wilmar formou-se em História pela Universidade Gama Filho. Fez pós-graduação lato sensu em História do Brasil na UFF e Mestrado e Doutorado na Uerj. Deu aulas na Gama Filho de 2007 até o seu fechamento, em 2014.

Morador de Realengo, brinca que é professor de História 24 horas por dia, pois até no lazer assiste a filmes de época e visita cidades históricas. Além disso, dedica sua atenção à noiva e ao videogame. “É incrível como a tecnologia impactou esse mercado. Difícil de acreditar como a gente se divertia com artes gráficas primárias e joysticks que quebravam na nossa mão”, diverte-se.