ACESSIBILIDADE
Acessibilidade: Aumentar Fonte
Acessibilidade: Tamanho Padrão de Fonte
Acessibilidade: Diminuir Fonte
Youtube
Instagram
Ícone do Tik Tok
Facebook
Whatsapp

João do Rio: o cronista da belle époque carioca
23 Maio 2013 | Por Sandra Machado
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp

Joaodorio 2Mestre da crônica como registro de época, o jornalista fez uma verdadeira etnografia do Rio de Janeiro nos anos 1910 e 1920, transitando desde as altas esferas sociais até os grupos mais marginalizados. Observador atento das mudanças promovidas em prol da modernização da cidade, João do Rio retratava o impacto do progresso – como, por exemplo, a rápida incorporação do cinema ao cotidiano carioca – e descrevia ambientes onde, até então, nenhum repórter tinha se aventurado, como os terreiros de candomblé e umbanda. Eleito em 1910 para ocupar a cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL), João do Rio foi o primeiro a tomar posse usando o famoso “fardão dos imortais”. Seu perfil na página da ABL o descreve como “o primeiro homem da imprensa brasileira a ter o senso da reportagem moderna” e também como “o maior jornalista de seu tempo”, além disso, dá nome ao Ciep João do Rio, em Guadalupe (6ª CRE).

Segundo Zuenir Ventura, nenhum jornalista antes de João do Rio havia ousado tanto na apuração: ele subiu os morros da cidade, entrou em presídios e circulou por áreas de concentração de dependentes do ópio, que era, então, a droga mais usada. Foi também o primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, fundada em 1917, no Rio de Janeiro – que a partir de 2002, passou a se chamar Sociedade Brasileira de Autores (Sbat), e é pioneira na defesa dos direitos autorais no país. Durante mais de 20 anos de atividade profissional, ele colaborou com periódicos no Rio, São Paulo e Portugal, como O Paiz, A Tribuna, Gazeta de Notícias, Correio Mercantil, O Tagarela, A Ilustração Brasileira, O Coió e A Revista da Semana.

Entre fevereiro e abril de 1904, realizou uma sequência de reportagens sobre as religiões do Rio, inclusive quatro matérias inéditas sobre cultos afro-brasileiros. A série despertou tanto interesse do público que o autor decidiu publicar, meses mais tarde, o livro As Religiões do Rio. Considerada uma referência para a pesquisa da Antropologia e da Sociologia, a obra superou a marca de 8 mil exemplares, vendidos em seis anos, numa fase em que o país tinha um altíssimo índice de analfabetismo – cerca de 65% da população acima de 15 anos de idade. Poucos anos depois, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) viria a reconhecer o valor antropológico dos terreiros de candomblé, em 20 de maio de 1907. Graças às suas reportagens, aconteceu o primeiro concurso carnavalesco na cidade: a Festa dos Cordões, na qual atuou como um dos três juízes. O jornal Gazeta de Notícias instituiu o evento em 1906, numa tentativa de civilizar os cordões populares e dar a eles um nível mais aproximado do carnaval da elite, inspirado nos modelos europeus.

Embora tenha nascido no Rio de Janeiro no dia 5 de agosto de 1881, só 22 anos mais tarde, em 26 de novembro de 1903, Paulo Barreto daria lugar a João do Rio. Com este pseudônimo, assinou boa parte de seus mais de 2.500 textos, entre peças teatrais, críticas literárias, contos, crônicas e traduções. Da primeira vez, usou o nome que o imortalizou para assinar o artigo O Brasil Lê, uma enquete sobre as preferências literárias do leitor carioca publicada no jornal Gazeta de Notícias. Batizado como João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, Paulo Barreto assinava sua produção sob diversos heterônimos. Claude, Caran d’ache, Paulo José (o alter ego político), o Máscara Negra (crítico teatral), além de Godofredo de Alencar (que também virou personagem) eram todos tipos que surgiam bem de acordo com sua multifacetada personalidade e interesses.

José Antônio José, por exemplo, foi um cronista da alta sociedade carioca, a quem é atribuída a coluna Pall-Mall Rio, que publicou 225 crônicas no jornal O Paiz entre 25 de setembro de 1915 e 4 de janeiro de 1917. Os textos deram origem ao livro de mesmo nome, lançado em 1917, no qual se lê, na página 19: “(...) o trottoir roulant por onde passa o Rio inteiro, o Rio anônimo e o Rio conhecido, lustrado pela luz do inverno que faz ressaltar os prismas belos e apaga a fealdade. Não há gente desagradável, como não há automóveis velhos. Ninguém os vê. Os olhos estão nas mulheres bonitas, nos homens bem vestidos, nos automóveis de luxo. É um desfilar de ópera”.

Uma de suas personas mais originais, no entanto, foi Joe, entusiasta do progresso, que assinava a coluna Cinematographo, publicada aos domingos, entre 11 de agosto de 1907 e 18 de dezembro de 1910, no jornal Gazeta de Notícias. O material acabou gerando o livro Cinematographo: Crônicas Cariocas (1909), no qual denunciava, por exemplo, a prática da mendicância com exploração de crianças ou o aviltamento salarial do trabalhador comum. O nome da seção não poderia ter sido mais oportuno: somente entre agosto e dezembro de 1907, foram abertas 18 salas de cinema no Rio, a maioria na Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Além do mais, a crônica parecia um instantâneo tão fugidio quanto as imagens cinematográficas e, de certa forma, os contornos da metrópole.

Paulo Barreto teve, coincidentemente, uma vida breve. Muito provavelmente devido à obesidade, ele faleceu aos 39 anos dentro de um táxi, vitimado por um infarto agudo, no dia 23 de junho de 1921. Estima-se que mais de 100 mil pessoas tenham ido se despedir no funeral do jornalista, que era uma verdadeira celebridade. O enterro foi realizado no Cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo, no Rio, onde a Rua Paulo Barreto foi batizada em sua homenagem.

 
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp
MAIS DA SÉRIE
texto
Tarsila do Amaral, defensora da arte com o olhar brasileiro

Tarsila do Amaral, defensora da arte com o olhar brasileiro

17/01/2022

Patrona da E.M. Tarsila do Amaral (5ª CRE), conheça a trajetória de uma das maiores representantes da pintura no Brasil.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Artur Azevedo e seu papel na criação da ABL e do Theatro Municipal

Artur Azevedo e seu papel na criação da ABL e do Theatro Municipal

21/09/2021

O jornalista fez intensa campanha, que resultou na lei de criação do imponente teatro da Cinelândia.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Vital Brazil descobriu como neutralizar o veneno de cobras brasileiras e doou patente para o Estado

Vital Brazil descobriu como neutralizar o veneno de cobras brasileiras e doou patente para o Estado

11/05/2021

Cientista trabalhou para se formar em medicina e foi pioneiro na pesquisa em Imunologia. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Quem foi Francisco Cabrita, engenheiro e professor

Quem foi Francisco Cabrita, engenheiro e professor

23/02/2021

Importante figura no campo da Educação no início da República, ele dá nome a uma escola na Tijuca. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Marc Ferrez, fotógrafo pioneiro na documentação do Brasil

Marc Ferrez, fotógrafo pioneiro na documentação do Brasil

07/12/2020

A obra de Ferrez é considerada um dos principais registros visuais do século XIX e do início do século XX.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Affonso Penna: inovou ao nomear ministros com requisitos técnicos, mas não fugiu ao contexto ao privilegiar os cafeicultores

Affonso Penna: inovou ao nomear ministros com requisitos técnicos, mas não fugiu ao contexto ao privilegiar os cafeicultores

30/11/2020

Aulas on-line da professora de História da E.M. Affonso Penna falam sobre as práticas políticas da Primeira República.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Grande Otelo e o imaginário racial brasileiro no século XX

Grande Otelo e o imaginário racial brasileiro no século XX

19/10/2020

  Conheça a trajetória do ator negro que dá nome a duas unidades de ensino da Rede Municipal.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Maria Montessori: feminista, cientista e educadora

Maria Montessori: feminista, cientista e educadora

31/08/2020

Uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina e a exercer a profissão na Europa, ela confrontou governos totalitários e revolucionou a Educação no mundo.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Aracy de Almeida, cantora famosa e mulher emancipada

Aracy de Almeida, cantora famosa e mulher emancipada

19/08/2020

Nascida no subúrbio do Rio, Aracy cantou para as multidões e fez o que quis da vida em plena década de 1930.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Tia Maria do Jongo e a conservação da cultura ancestral

Tia Maria do Jongo e a conservação da cultura ancestral

24/07/2020

Ela ensinava crianças em casa para manter viva a tradição.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Nelson Mandela, símbolo de luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos

Nelson Mandela, símbolo de luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos

17/07/2020

Primeiro presidente da África do Sul eleito democraticamente, ele dá nome a Ciep no bairro de Campo Grande (9ª CRE).

Patronos das Escolas Municipais

texto
José de Alencar, fundador da literatura brasileira

José de Alencar, fundador da literatura brasileira

30/04/2020

O autor começou a escrever de forma mais próxima ao modo de falar dos brasileiros e não mais com o português usado em Portugal.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Carlos Chagas e a importância das pesquisas científicas no combate às epidemias

Carlos Chagas e a importância das pesquisas científicas no combate às epidemias

22/04/2020

  Durante a pandemia da gripe espanhola, população clamava para ele assumir a gestão da saúde pública. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Clementina de Jesus, samba e ancestralidade

Clementina de Jesus, samba e ancestralidade

07/02/2020

Lançada artisticamente após os 60 anos de idade, sua voz e seu repertório marcaram a cena musical brasileira, exaltando elementos da cultura negra.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Juliano Moreira e a luta contra o racismo nas teorias psiquiátricas

Juliano Moreira e a luta contra o racismo nas teorias psiquiátricas

02/01/2020

Considerado o pai da psiquiatria científica brasileira, Juliano Moreira venceu as dificuldades impostas por ser negro e de classe social baixa no século XIX.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Rachel de Queiroz e a escrita regionalista

Rachel de Queiroz e a escrita regionalista

14/11/2019

Homenageada pelo Espaço de Desenvolvimento Infantil Rachel de Queiroz (1ª CRE), na Praça Onze, a escritora conhecida por O Quinze foi professora de História, tradutora e a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Patronos das Escolas Municipais

texto
Graciliano Ramos: a subjetividade do sertão

Graciliano Ramos: a subjetividade do sertão

22/10/2019

O livro Vidas Secas, traduzido para 12 línguas, é um clássico da problemática dos retirantes nordestinos.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Santos Dumont, um inventor genial

Santos Dumont, um inventor genial

17/10/2019

A partir dele, a humanidade foi capaz de voar com um aparelho autônomo, mais pesado que o ar, e dirigível.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Agostinho Neto, “poeta maior” e primeiro presidente de Angola

Agostinho Neto, “poeta maior” e primeiro presidente de Angola

17/09/2019

Homenageado em 17 de setembro em Angola, Dia do Herói Nacional, Agostinho Neto engajou-se na luta pela libertação de seu país. Sua poesia é marcada pela resistência e afirmação da identidade africana.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Escola e creche municipais têm nome em homenagem à poetisa Cora Coralina

Escola e creche municipais têm nome em homenagem à poetisa Cora Coralina

20/08/2019

Saiba mais sobre a autora que encantou Carlos Drummond de Andrade.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Cecília Meireles: a poeta que era mestre na arte de ver o mundo

Cecília Meireles: a poeta que era mestre na arte de ver o mundo

22/06/2015

Educadora, intelectual e autora de preciosidades da literatura nacional, Cecília Meireles alçou a poesia a um novo patamar, por sua maneira toda especial de ver a vida.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Elis Regina, estrela da música popular brasileira

Elis Regina, estrela da música popular brasileira

07/04/2015

O Ciep Elis Regina, da comunidade Nova Holanda, na Maré (4ª CRE), deve seu nome a uma das melhores cantoras do Brasil.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Castro Maya, o mecenato e a consolidação do modernismo

Castro Maya, o mecenato e a consolidação do modernismo

13/01/2015

O empresário que fabricava um dos produtos mais populares do Rio, a gordura de coco Carioca, também foi um dos maiores incentivadores do movimento modernista brasileiro.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Anna Amélia: a poetisa apaixonada por futebol

Anna Amélia: a poetisa apaixonada por futebol

05/01/2015

Ela agitou os salões cariocas, foi musa dos estudantes, lutou pelos direitos das mulheres e se casou com o primeiro goleiro da seleção brasileira de futebol.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Donga, pioneiro do samba e da música popular brasileira

Donga, pioneiro do samba e da música popular brasileira

25/11/2014

Ele não foi apenas o protagonista da primeira gravação de um samba no Brasil, mas, também, personagem importante na história da difusão e orquestração da música do Rio de Janeiro.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Mestre Valentim: um ás das artes do Rio colonial

Mestre Valentim: um ás das artes do Rio colonial

19/11/2014

Além de inúmeras obras de ornamentação feitas para as igrejas, ele projetou a primeira área pública de lazer do Brasil e foi pioneiro na arte da escultura em metais.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Aleijadinho, um mestre do barroco brasileiro

Aleijadinho, um mestre do barroco brasileiro

11/11/2014

A obra do maior artista do período colonial brasileiro é tida como uma das mais importantes matrizes culturais do país.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Francisco Palheta e o cafezinho do Brasil

Francisco Palheta e o cafezinho do Brasil

28/10/2014

Fatos curiosos marcaram a introdução da cultura do café em nosso país, pelas mãos de um desbravador da Amazônia.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Oswald de Andrade e o redescobrimento do Brasil

Oswald de Andrade e o redescobrimento do Brasil

20/10/2014

Há 50 anos morria um dos escritores que mais impactaram a arte brasileira do século XX.

Patronos das Escolas Municipais

texto
O advogado da favela

O advogado da favela

07/10/2014

Bento Rubião, que dá nome a um Ciep na Rocinha (2ª CRE), tornou-se conhecido por defender moradores de comunidades removidas e teve suas teses incorporadas à Constituição de 1988 e ao Estatuto da Cidade.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Raul Pederneiras: um precursor da HQ no Brasil

Raul Pederneiras: um precursor da HQ no Brasil

30/09/2014

Suas técnicas de ilustração revolucionaram a imprensa carioca da Belle Époque.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Júlia Lopes de Almeida, a primeira escritora profissional do Brasil

Júlia Lopes de Almeida, a primeira escritora profissional do Brasil

26/08/2014

Patrona de uma escola municipal localizada no bairro de Santa Teresa, ela já foi considerada a maior romancista da geração que sucedeu Machado de Assis.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Portinari, o filho de lavradores que se tornou conhecido mundialmente

Portinari, o filho de lavradores que se tornou conhecido mundialmente

07/07/2014

Candido Portinari pintou intensamente. Cenas de infância, circo, cirandas e também a dor da gente brasileira. A Escola Municipal Candido Portinari, da 11ª CRE, em Pitangueiras, deve seu nome ao grande pintor.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Tiradentes: uma breve história do herói nacional

Tiradentes: uma breve história do herói nacional

16/04/2014

Mártir da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier é inspiração para estudos acadêmicos, tendo sua trajetória gerado obras literárias, filmes e peças teatrais, além de ser patrono de uma escola municipal localizada no Centro (1ª CRE), a E.M. Tiradentes. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Segue viva a alegria de Lamartine Babo

Segue viva a alegria de Lamartine Babo

01/04/2014

Marchinhas de carnaval, hinos dos clubes de futebol cariocas e clássicos das festas juninas são uma herança sempre presente do compositor entre nós.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Centenário de nascimento de Vinicius de Moraes

Centenário de nascimento de Vinicius de Moraes

18/10/2013

Um dos grandes artistas brasileiros do século XX, Vinicius era apaixonado por cinema, música, poesia e, sobretudo, pela vida.

Patronos das Escolas Municipais

texto
João do Rio e a construção simbólica do Rio de Janeiro

João do Rio e a construção simbólica do Rio de Janeiro

23/05/2013

A cidade foi, sem dúvida alguma, o assunto preferido de João do Rio, já que ela exemplificava, como nenhuma outra, a transição do país para a fase de República.

Patronos das Escolas Municipais