Seja preto ou pingado, servido em xícara ou em copo, bebido no desjejum ou entre quaisquer refeições, o café é, definitivamente, uma das bebidas mais populares do Rio de Janeiro e do Brasil. Democrático, permeia todas as classes sociais e tem um grande significado histórico e cultural para o país. Afinal, foi o principal produto da pauta de exportação brasileira por um século (de 1840 a 1940), e, mesmo com a diversificação de nossa economia, continuamos sendo, até hoje, o maior produtor mundial do grão, segundo a Organização Internacional do Café.
A história da cultura cafeeira no Brasil – tão ligada à vinda de imigrantes italianos e à economia do Segundo Império e da República Velha – provavelmente teria sido muito diferente sem a intervenção do militar Francisco Palheta (1670-1750), que hoje dá nome a uma escola municipal da 5ª CRE, localizada em Bento Ribeiro. Nascido na província do Grão-Pará, ele conseguiu, de forma bastante curiosa e inusitada, mudas e sementes de café durante uma viagem oficial que fez à Guiana Francesa, para resolver uma questão de fronteira.
Em 1727, quando Palheta partiu para a missão diplomática, a bebida já era muito consumida na Europa. Suas características estimulantes tinham ganhado fama e criado uma grande demanda. O produto, no entanto, mantinha-se caro e escasso. Até o fim do século XVII, os holandeses eram os únicos europeus que tinham cafezais nas colônias das Américas (como o Suriname, por exemplo), o que lhes permitia controlar o mercado do produto. Por isso, trancaram “a sete chaves” as mudas do fruto e suas sementes.
Apesar dos esforços holandeses, os colonizadores franceses da Guiana, vizinha do Suriname, conseguiram “abrir o cofre” no início do século XVIII. Em consequência, tornaram-se, também, grandes exportadores de café para a Europa. Portugueses e brasileiros almejavam, igualmente, as mudas da planta, e a oportunidade chegou quando Palheta recebeu a missão de restabelecer o Tratado de Utrecht, de 1713, que fixava o Rio Oiapoque como fronteira entre o Brasil e a colônia da França, que não estava respeitando o acordo internacional.
Em Caiena, capital da Guiana Francesa, o militar aproveitou as relações não muito boas entre o governador-geral Claude d’Orvilliers e sua esposa para receber dela, de forma clandestina, mudas e sementes de café. Resultado: iniciou, em 1728, uma plantação no Pará, e, em 1734, uma Carta Régia lhe concedeu 100 casais de escravos e 50 índios para a expansão do cultivo.
Desde então, a cultura do café prosperou no Brasil. Em 1730, já tinha chegado ao Maranhão. Em 1747, começou a ser plantado no Ceará. Em 1770, na Bahia e no Rio de Janeiro, de onde se espalhou para Minas Gerais e Espírito Santo. Em 1790, chegou a São Paulo, estado que passou a liderar a produção cafeeira a partir da segunda metade do século XIX, quando a exaustão das terras do Vale do Paraíba resultou na decadência do cultivo na região fluminense.
Um desbravador
Antes da missão em Caiena, Francisco Palheta já havia comandado uma expedição ao Rio Madeira e atingido a aldeia de Santa Cruz de Cajajuvas, no Peru. O relato dessa viagem foi feito por um dos primeiros grandes historiadores brasileiros, conhecido por sua visão crítica e pelo rigor com que lidava com as fontes históricas: o cearense Capistrano de Abreu (1853-1927). Desde então, Palheta tem sido considerado um dos grandes bandeirantes da Amazônia. Suas incursões pela floresta virgem e não colonizada possibilitaram a expansão das fronteiras brasileiras na região Norte do país.
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