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Do pé sujo à moda de luxo
17 Março 2014 | Por Márcia Pimentel
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PORTUGUESES-MERCADO-PRAÇA-XVEngana-se quem pensa que, no processo de desenvolvimento comercial do Rio de Janeiro, os portugueses só tiveram papel proeminente no ramo de secos e molhados e no pequeno comércio varejista, que acompanhou o desenvolvimento da malha urbana da cidade. De fato, durante longo período do século XIX, eles detiveram a maioria absoluta do número de estabelecimentos na área de gêneros alimentícios, o que inclui o comércio atacadista, as mercearias e quitandas, as padarias, as casas de pasto (restaurantes) e, claro, os bares e botequins. Embora o sentimento antilusitano os levasse a serem identificados com o passado colonial – “os sujos de tamancas”, “as antíteses do progresso” –, a verdade é que eles tiveram papel relevante na modernização do comércio carioca, inclusive no ramo de bares e restaurantes e no setor de artigos de luxo.

A Confeitaria Colombo, fundada em 1894 pelos imigrantes portugueses Joaquim Borges de Meireles e Manuel José Lebrão, é um desses exemplos. Com ambiente e serviço inspirados nos elegantes padrões franceses e ingleses – afinal, eram eles que ditavam a moda e as normas do progresso naqueles tempos –, a Confeitaria se transformou em um dos ícones dos novos padrões civilizatórios da cidade republicana, opostos àqueles do passado colonial português. Virou point das celebridades, artistas e escritores, tendo, inclusive, Portugueses-Confeitaria-Colomboficado conhecida como a “filial da Academia Brasileira de Letras”. Entre seus frequentadores, Olavo Bilac, Machado de Assis, Rui Barbosa, Chiquinha Gonzaga, Lima Barreto, Villa-Lobos, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e muitos outros.

Portugueses na moda

Na segunda metade do século XIX, os recursos financeiros oriundos do café propiciaram a criação de várias lojas de artigos finos e importados, que se expandiram da Rua do Ouvidor para as ruas adjacentes. Grande parte desses novos empreendimentos pertenceu a portugueses, como é o caso da família Ramalho Ortigão, proprietária do Parc Royal e de vários outros negócios.

Com a conjuntura econômica propícia, os Ramalho Ortigão transformaram seu comércio de armarinho numa loja que ocupava quatro prédios, no Largo de São Francisco (posteriormente, com a abertura da Avenida Central, atual Rio Branco, também abriram uma filial neste endereço). Comprometido em trazer a moda parisiense para diversos estratos sociais da capital brasileira, o Parc Royal era inspirado no modelo de lojas de departamentos que tanto sucesso vinha fazendo em países como França, Inglaterra e Estados Unidos. Essa visão de comércio ajustava-se perfeitamente aos ideais da recém-chegada República, ansiosa por apagar a imagem colonial, para construir uma cidade conectada com “a ordem e o progresso” do primeiro mundo.

Portugueses-Vitrine-Parc-RoyalO Parc Royal foi um grande sucesso durante a belle époque. Entre as novidades trazidas pelo magazine, que mantinha um escritório em Paris, as vitrines e a venda dos produtos a preço fixo. Não demorou muito para a cidade incorporar a nova forma de expor as mercadorias e se instaurar o hábito de fazer o footing (passear a pé) para se inteirar da moda dernier bateau (chegada no último navio).

A forte presença portuguesa no comércio de moda do Rio se estendeu pelo século XX. Nos anos 1950, a loja A Imperial, localizada na Rua Gonçalves Dias, vendia roupas de Dior, Balenciaga e outros estilistas para as socialites cariocas. Em Copacabana, lojas como Celeste Modas, Hermínia, Étoile, Nuance, Bonita e muitas outras de propriedade de portugueses também foram, por várias décadas, referências de moda na cidade.

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