Desde a emancipação política, em 1822, a província do Grão-Pará vivia um clima agitado. Isolada do resto do país, era a parte mais ligada a Portugal. Declarada a Independência, a província só foi reconhecê-la em agosto de 1823. A adesão ao governo de D. Pedro I foi penosa e violentamente imposta. Administrados por juntas governativas que se apoiavam nas Cortes portuguesas, os habitantes da província já estavam acostumados a ver todos os cargos públicos e recursos econômicos nas mãos dos portugueses.
A Independência não provocara mudanças na estrutura econômica nem modificara as péssimas condições em que vivia a maior parte da população da região, formada por índios destribalizados, chamados de tapuios, índios aldeados, negros forros e escravos e mestiços. Dispersos pelo interior e nos arredores de Belém, viviam marginalizados em condições miseráveis, amontoados em cabanas à beira dos rios e igarapés e nas inúmeras ilhas do estuário do Rio Amazonas. Essa população, conhecida como "cabanos", era usada como mão de obra em regime de semiescravidão pela economia da província, baseada na exploração das drogas do sertão (cravo, pimenta, plantas medicinais, baunilha, etc.), na extração de madeira e na pesca.
Desde a Guerra da Independência, quando mercenários comandados pelo Lord Almirante Grenfell destituíram a Junta que governava a província, o povo exigia a formação de um governo popular chefiado pelo cônego João Batista Gonçalves Campos. No entanto, Grenfell, que recebera ordens para entregar o governo a homens da confiança do imperador, desencadeou violenta repressão, fuzilando e prendendo muitas pessoas. O episódio ocorrido a bordo do brigue Palhaço, quando cerca de 300 prisioneiros foram sufocados com cal, não conseguiu implantar a normalidade. Ao contrário, os ânimos ficaram ainda mais exaltados.
A própria Junta que assumiu o governo da província em agosto de 1823 confessava: "Sentimos não poder afirmar que a tranquilidade está inteiramente restabelecida porque ainda temos a temer, principalmente a gente de cor, pois que muitos negros e mulatos foram vistos no saque de envolta com os soldados, e os infelizes que se mataram a bordo do navio, entre outras vozes sediciosas, deram vivas ao Rei Congo, o que faz supor alguma combinação de soldados e negros".
A Cabanagem, movimento que ocorreu na província do Grão-Pará entre os anos de 1835 e 1840, pode ser vista como um prosseguimento da Guerra da Independência na região.