Carta Topografica t
O povoado e o forte da Colônia do Sacramento, na margem oposta a Buenos Aires, no Rio da Prata. Sua fundação, em 1680, após o fim da União Ibérica, visava à manutenção dos negócios portugueses na região platina, mas a cidade-fortaleza era uma ilha cercada de espanhóis. Carta topográfica de Diogo Soares, 1731. Domínio público, Ministério das Relações Exteriores 

Pelo Tratado de Utrecht (1715), a Espanha reconheceu, novamente, Portugal como possuidor da Colônia. No entanto, Sacramento permanecia cercada pelos espanhóis, que entendiam que o domínio português restringia-se somente ao núcleo da Colônia, isto é, os portugueses só teriam direito às terras que ficassem dentro do alcance de um tiro de canhão. As posições portuguesas ficaram cada vez mais isoladas e a sobrevivência de Sacramento, seriamente ameaçada.

A Coroa portuguesa percebeu a necessidade de ocupar as terras vazias entre Sacramento e Laguna. Para diminuir o isolamento e consolidar o domínio no Prata, movimentos de povoamento foram incentivados, visando estabelecer núcleos de colonização nos litorais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Paulistas estabeleceram fazendas de gado em Curitiba, um caminho foi aberto de Laguna até a Colônia e, em 1723, foi fundada a cidade de Montevidéu, para servir de suporte militar a Sacramento.

Não se conformando com a pressão portuguesa, os espanhóis arrasaram Montevidéu e fundaram, em 1726, pela segunda vez, a cidade, atual capital do Uruguai. Em 1735, o governador de Buenos Aires recebeu ordens para tomar Sacramento. Toda a zona rural da Colônia foi destruída. Pomares, estâncias e gado foram perdidos. Reforços chegaram do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Em outubro de 1736, os espanhóis foram expulsos e os portugueses, que tinham conseguido manter as fortificações, reassumiram suas atividades comerciais.

Em 1737, uma expedição chefiada pelo brigadeiro Silva Pais tentou retomar Montevidéu, sem sucesso, conseguindo, no entanto, fundar, no mesmo ano, o Presídio (Forte) Jesus Maria José, na entrada da Lagoa dos Patos. André Ribeiro Coutinho, um oficial militar, companheiro de Silva Pais, escreveu que aquela era, realmente, a terra de "muito": "Aqui há muita carne, muito peixe, muito pato, muita marreca, muita perdiz, muito jacum (...) muito ananás, muita courama, muita madeira, muito bálsamo, muita serra, muito lago e muito pântano; no verão, muita calma, muita mosca, muita motuca, muito mosquito, muita pulga; no inverno, muita chuva, muito vento, muito frio, muito trovão".

Fortaleza Manoel Leao t
A disputa pelas terras ao sul culminou em vários conflitos entre portugueses, espanhóis e indígenas. O Forte Jesus Maria José, no atual Rio Grande do Sul, foi construído para defender os interesses portugueses de povoamento da região. Planta de Manoel Vieira Leão, 1754. Domínio público, Ministério das Relações Exteriores

O Forte Jesus Maria José foi, portanto, a base militar para a formação e povoamento do Continente do Rio Grande. Seus primeiros povoadores foram soldados. Além deles, havia uma massa bastante heterogênea que vagava pela região, formada por pessoas de diferentes pontos do Brasil e de diversas camadas sociais: desertores da própria Colônia do Sacramento, soldados convocados contra a vontade, vagabundos, prostitutas e mendigos. Por conta dessa situação, as autoridades militares locais frequentemente solicitavam a vinda de famílias, chegando o brigadeiro Silva Pais a sugerir que mandassem emigrantes dos Açores.