Na madrugada de 7 de abril de 1831, no Palácio da Boa Vista, D. Pedro I (1798-1834), buscando apaziguar os ânimos, declarou sua abdicação em favor do filho menor de idade, o príncipe imperial D. Pedro de Alcântara (1825-1891). A notícia causaria, de imediato, perplexidade à população da cidade, capital do Império, que permaneceu acordada aguardando os acontecimentos. Não se imaginava, possivelmente, um desfecho tão radical. Porém, a iniciativa do general Manuel da Fonseca Lima e Silva (1793-1869), gritando “Viva D. Pedro II!”, segundo citação de José Murilo de Carvalho, retirou os presentes da situação de impacto, e os aplausos entusiasmados foram ouvidos. A notícia da abdicação não se espalhou com rapidez pelo imenso território do Império, onde as comunicações entre as províncias poderiam durar meses. Para o historiador, a importância desse acontecimento “reside no fato de que, quando D. Pedro abdicou do poder e retornou à Europa, pela primeira vez o governo do país ficou totalmente nas mãos dos brasileiros”.
Na mesma madrugada, o primeiro imperador do Brasil deixou o palácio sem se despedir do filho, seu herdeiro. Posteriormente, enviou uma correspondência na qual assinalava que se retirava para a Europa “para que o Brasil sossegue, o que Deus permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz. Adeus, meu amado filho, receba a bênção de seu pai, que se retira saudoso e sem mais esperança de o ver”.
Muito tempo depois, um verso feito canção (música Cristina, de Tim Maia e Carlos Imperial) talvez contasse um pouco do sentimento que tomava D. Pedro I ao renunciar ao trono do Brasil e embarcar para a terra natal, a bordo da fragata inglesa Warspite:
“Vou-me embora agora pra longe
Meu caminho é ida sem volta
Uma estrela linda me guia
Minha asa presa se solta”.
Saía de cena, do Rio de Janeiro e do Brasil, alguém com perfil marcante, que deixou Portugal aos 9 anos, retornando aos 34, no dia 13 de abril; alguém nascido com o sobrenome dos Bragança e que, enquanto governou o império, segundo a historiadora Isabel Lustosa, viveu o “dilema entre ser português e ser brasileiro”.
No momento do rompimento de D. Pedro I, o Brasil teria, segundo o historiador Boris Fausto, “a perspectiva de sagrar um rei nascido no país”. Mas, para que isso acontecesse, águas e mais águas de março fechariam verões no Rio de Janeiro, pois o herdeiro do trono era uma criança. A Constituição Outorgada de 1824 estabelecia que, no caso de abdicação do imperador, o governo seria exercido por regências. No Campo de Honra, antes chamado de Aclamação, alguém esperançoso, citado pelo historiador Pedro Calmon, disse, em rimas:
“Uma prudente regência
Um monarca brasileiro
Nos prometeu venturoso
O porvir mais lisonjeiro”.