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O primeiro computador construído com tecnologia nacional, o Patinho Feio, foi desenvolvido em 1972 pela USP. Foi o ponto de partida para que o primeiro computador comercial brasileiro, o MC 500, fosse lançado em 1975 (Crédito: Escola Politécnica da USP)

A Ciência, considerada em seu conjunto, é norteada pela ideia, admitida por inúmeros estudiosos, de um agrupamento de saberes acumulados. Os homens, ao longo do tempo, observaram e ampliaram conceitos e teorias, refletiram e examinaram incontáveis experiências. E, ainda, efetuaram medidas mais exatas (mais próximas do valor verdadeiro), construíram instrumentos mais precisos (responsáveis por medições mais confiáveis), que depois se converteram em Normas Internacionais, como as existentes na International Standard Organization (ISO), e que no Brasil correspondem àquelas editadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), cuja sede se localiza no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Embora paradigmas possam mudar, as pesquisas evoluem partindo dos resultados obtidos no passado, que se constituem em fundamentos para as descobertas posteriores. Ensina o cientista Isaac Newton (1643-1727): “Se cheguei até aqui foi porque me apoiei no ombro dos gigantes”.

A história que reconstitui o surgimento dos computadores não é linear – aconteceu pontuada por interrupções e por mudanças, o que torna difícil enumerar sequencialmente invenções, nomes e datas. Segundo palavras do físico Cléuzio Fonseca Filho, a computação corresponde a um conjunto de “conhecimentos formados por uma infraestrutura conceitual e um edifício tecnológico onde se materializam o hardware e o software. (...) A teoria da computação tem seu desenvolvimento próprio e independente, em boa parte, da tecnologia”.

A computação não surgiu do nada. Um caminho foi percorrido por trás de cada conceito, de cada ideia, de cada experimento, expandindo-se em diversas direções. Somente estabelecendo algum contato com os experimentos, segundo o físico Marcelo Gleiser, “é que poderemos determinar se existe qualquer validade nelas. Caso contrário, continuarão indefinidamente a ser ‘teorias teóricas’, elegantes, mas inúteis”.

No Brasil, a informática ganhou frente quanto ao seu desenvolvimento entre as décadas de 1950 e 1970, a partir da importação de tecnologia de países que desenvolviam pesquisas nessa direção, em especial os Estados Unidos da América. Não existiam fabricantes nacionais e o processamento era realizado, basicamente, em computadores de grande porte geralmente localizados em universidades, grandes empresas e órgãos governamentais.

Aos poucos, diante do interesse de segmentos como o militar e os meios científicos, começou a ser desenvolvida uma tecnologia brasileira a partir dos trabalhos executados em instituições como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de São Paulo. Em 1972, a USP desenvolveu o projeto Patinho Feio – o primeiro computador nacional –, seguido, em 1974, do projeto G-10, na USP e na PUC-Rio, para atender uma demanda da Marinha de Guerra do Brasil, que necessitava de equipamentos para seu programa de nacionalização de eletrônica de bordo. O G-10 serviu de base para o primeiro computador comercial brasileiro, lançado no ano seguinte.

Daquela época até hoje, em meio aos interesses de diversos segmentos da sociedade brasileira, buscando atingir melhor independência tecnológica, o caminho foi extenso nesse campo de conhecimento. O mundo digital prossegue em constantes mudanças, sem parar de evoluir. Segundo considera o engenheiro Marco Antonio Abi- Ramia, “novas necessidades geram novas tecnologias, e novas tecnologias conduzem a novas aplicações. Assim, frequentemente, aumentam o conteúdo e o vocabulário de quem navega pelas ondas virtuais”. O que começou sendo especificamente um trabalho para a utilização científica resultou em práticas envolvendo o comércio e o sistema bancário, apenas para citar dois exemplos. Em entrevista publicada na revista Isto É de 23 de março de 2009, o criador da WWW, Tim Berners-Lee, prevê: “A web não está concluída, é apenas a ponta do iceberg. As novas mudanças irão balançar o mundo ainda mais”.

É cada vez mais frequente e comum a necessidade de entrar no vasto universo da rede mundial de computadores, não somente para contatar pessoas e lugares, mas para ações como o controle do tráfego aéreo e o comando remoto de processos industriais.

Contudo, além da inclusão digital, é preciso ampliar a inclusão social. Vale mencionar o resultado de pesquisas recentes que apontam para a importância da iniciativa de associações de moradores de várias comunidades na criação de lan houses. Elas constituem locais onde, para muitos, acontece o primeiro contato com o mundo cibernético e o consequente acesso ao mundo virtual – identificando-o e sendo identificado por ele.

Afinal, com o computador passando a fazer parte da nossa vida, o que mais se pretende, segundo os versos da canção Pela Internet, de Gilberto Gil, é:

“Entrar na rede para contatar
os lares do Nepal, os bares do Gabão”.