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O Arquipélago dos Açores em mapa de Luís Teixeira, de 1584. Durante o século XVIII, Portugal estimulou a emigração de açorianos com o objetivo de colonizar áreas estratégicas ao sul do Brasil. Domínio público, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

A partir de 1740, por decisão regulamentada pelo Conselho Ultramarino, a Coroa portuguesa passou a estimular a emigração de açorianos para ocupar e colonizar pontos estratégicos, como a Ilha de Santa Catarina e terras próximas do continente. As ilhas do Arquipélago dos Açores apresentavam excesso de população, o que já havia ocasionado a saída de muita gente. O recrutamento de colonos nessa região foi, portanto, uma solução para os açorianos e também para o governo português, que precisava povoar efetivamente o sul da América.

De acordo com o historiador Caio Prado Júnior, esse tipo de migração foi totalmente original no conjunto de nossa colonização e só foi possível por não serem essas áreas produtoras de gêneros tropicais de grande valor comercial. No litoral sul, formaram-se pequenas propriedades em contraste com as grandes propriedades e com os latifúndios do Nordeste.

Quatro mil famílias deveriam ser mandadas, mas esse número jamais chegou a ser atingido. No entanto, entre 1748 e 1753, um grande contingente de açorianos estabeleceu-se do litoral de Santa Catarina ao Rio Grande de São Pedro, reforçando a presença portuguesa na região. Incentivou-se a "colonização por casais", assim chamada porque era constituída por famílias camponesas dedicadas à agricultura.

A Coroa ofereceu uma série de vantagens a esses colonos: passagem gratuita e todas as facilidades para o estabelecimento na nova terra. Cada família recebia um pequeno lote de terra, um mosquete (arma de fogo), duas enxadas, um machado, um martelo, duas facas, um podão, duas tesouras, um serrote, duas verrumas (furador), dois alqueires de sementes, duas vacas, uma égua, além de um fornecimento de farinha suficiente para um ano. Os colonos cultivaram a terra, desenvolveram a cultura do trigo e da vinha e fundaram vilas. Uma delas, à beira do Rio Guaíba, chamou-se Porto dos Casais, atual Porto Alegre. Formou-se nessa área um núcleo de população branca muito maior do que no resto da colônia.

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Vista da Ilha de Santa Catarina. Ao fundo, a Vila de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Gravura de Duché de Vancy publicada no Atlas La Pérouse, c. 1785. Domínio público

Portanto, ante a necessidade de ajudar a Colônia do Sacramento, a Coroa portuguesa estimulou o povoamento do litoral de Laguna até o Rio Grande de São Pedro. No final do século XVIII, quase todo o sul estava incorporado ao domínio português, predominando, no litoral, as pequenas propriedades agrícolas e, no interior, as grandes estâncias. Os açorianos reforçaram a presença portuguesa de Santa Catarina ao Prata, contribuindo para o predomínio da língua portuguesa sobre a castelhana. Com eles, foram criados núcleos de resistência à expansão espanhola proveniente do Prata. Além disso, introduziram seus costumes, artesanato, hábitos, diversões e religião, fortalecendo a cultura portuguesa no Continente do Rio Grande.