As ações implementadas na capital federal a partir da administração do prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913) foram pautadas na necessidade de sanear e higienizar a cidade, e livrá-la das doenças, impondo “à população novos hábitos e atitudes, condizentes com as descobertas recentes da biologia e da medicina, ampliar espaços, ordená-los, embelezá-los, modernizá-los”, no dizer do escritor Manoel Carlos Pinheiro. Havia, também, outros interessados nessas ações, como: as companhias inglesas de energia elétrica e bondes; os setores cafeeiros, para melhor escoar sua produção, por meio da ampliação da malha ferroviária e do Porto do Rio; além da nascente indústria automobilística, que crescia e aparecia nos Estados Unidos da América.
Para aqueles que aprovavam as reformas promovidas durante a administração de Pereira Passos, o barulho das demolições ecoava como sinfonia, anunciando a chegada do progresso. O autor dos versos do Hino à Bandeira, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918), um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em publicações como a Revista Kosmos, referiu-se ao som das picaretas como se entoassem “um hino jubiloso”, quando do início dos trabalhos que resultaram na abertura da Avenida Central. Nascido no Rio de Janeiro, Bilac abordava, nos jornais e nas revistas em que escrevia, as questões urbanas do seu tempo, especialmente as que transformaram a face da cidade.
Seus textos publicados em crônicas dominicais continham uma clara posição: convencer seus leitores da importância do projeto higienista em curso. Entendia, colocando-se ao lado dessa causa, ser um avanço a cidade aproximar-se dos padrões europeus de cultura e de urbanidade. É relevante perceber a participação do escritor nos projetos urbanos e sanitários. Mas é preciso observar como a imprensa, além do exercício da literatura, evidenciava a existência de um jornalismo engajado com as questões do seu tempo. Naquele momento, escrever sobre a modernidade e o progresso, a partir das reformas urbanas, significava inserir o Brasil na efervecência da Belle Époque – período marcado por profundas mudanças culturais, que contagiaram os intelectuais, sobretudo os jornalistas.
As ações, apesar de mais intensas no Centro, espalharam-se em várias direções. Atingiram a Zona Sul, ainda pouco ocupada, no esforço de integrar essa área litorânea ao restante da cidade. O hábito de ir à praia passava a ser mais frequente, e “a orla da Zona Sul se tornaria o novo eldorado urbano”, de acordo com o professor Augusto Ivan de Freitas Pinheiro. Havia, também, um conceito vigente nos primeiros tempos do século XX: morar próximo ao mar era sinônimo de saúde.
Copacabana, para muitos pesquisadores, iniciou seu processo de urbanização quando a linha de bondes urbanos da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico, passando pelo Túnel Velho (hoje, Alaor Prata), alcançou a região. Segundo o historiador Jonas da Silva Abreu, os bondes integraram uma forma “de transporte rápido e regular para os moradores dos bairros da Glória, Botafogo, Tijuca e Copacabana, ou seja, a elite social e a aristocracia cafeeira”. A existência desse tipo de transporte urbano permitiu a comercialização de loteamentos em Copacabana. Em torno de 1917, essa área, integrada ao restante da cidade, ganhou ruas, praças e moradias. A conhecida Avenida Atlântica foi inaugurada em 1906 por Pereira Passos, e posteriormente alargada, em 1919, pelo prefeito André Gustavo Paulo de Frontin (1860-1933).
Vale registrar que os trens, não os bondes, ofereceram uma alternativa de transporte para as populações pobres que, pressionadas pelos altos custos das moradias nas áreas mais centrais da cidade, foram morar, voluntaria ou involuntariamente, nas freguesias suburbanas ao longo da malha ferroviária, em torno das estações.