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Napoleão Bonaparte no comando de suas tropas. Óleo sobre tela de 1808 (Crédito: Pierre Gautherot/Palácio de Versalhes)

Nos primeiros anos do século XIX, o quadro político internacional era bastante complexo. A crise que o governo do príncipe regente de Portugal, D. João (1767-1826), enfrentava, diante do decreto efetivado pelo imperador francês em 21 de novembro de 1806 (Bloqueio Continental), não cedia. Frente às ameaças de invasão do território lusitano por tropas de Napoleão Bonaparte (1767-1826), o projeto do diplomata e político português D. Rodrigo de Souza Coutinho (1755-1812) ganharia força.

Em 1803, aquele que seria o primeiro Conde de Linhares apresentou a D. João a ideia da transferência da família real portuguesa para o Brasil, não apenas pelos perigos vividos frente à situação política europeia, mas pensando também na criação “de um poderoso império na América do Sul, estável e duradouro”, no dizer da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz. Porém, para que tal atitude não fosse entendida – como acabou sendo, por muitos – como uma fuga ou abandono do território luso, o diplomata qualificou esse ato como sendo de “grande sabedoria e nobreza”. A historiografia, que se debruça sobre o tema, oscila quando trata do assunto e se questiona: seria D. João herói ou desertor?

A Europa napoleônica era, reconhecidamente, segundo a historiadora Ismênia de Lima Martins, “um sistema completamente novo, que dificilmente se coordenava com as rotinas diplomáticas que vinham do século XVIII”. Nesse sentido, em tempos de enfrentamentos militares, o comportamento de qualquer governante mostrava-se bastante complicado, podendo ser interpretado de formas diversas. O que para alguns seria uma estratégia política, para outros seria visto como uma fuga vergonhosa. Pelas ruas de Lisboa, a crítica amarga espalhava-se em rimas: “Povo alerta / Que o rei deserta”.