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O Palácio de São Cristóvão em 1808 (abaixo) e 1816. Litografia (Crédito: Jean-Baptiste Debret - Thierry Fràres/Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)

Se, pelos idos de 1808, Lisboa, desolada, lamentava o momento que vivia, o Rio de Janeiro comemorava com grandes festas o mesmo momento. Muitos estudiosos do tema entendem que, até então, nada tinha sido tão impactante para a vida da cidade. Na visão da historiadora Maria Odila Silva Dias, “com a vinda da corte, pela primeira vez, desde o início da colonização, configuravam-se nos trópicos portugueses preocupações de uma colônia de povoamento e não apenas de exploração ou feitoria comercial, pois no Rio teriam que viver e, para sobreviver, explorar os enormes recursos naturais e as potencialidades do império nascente, tendo em vista o fomento do bem-estar da própria população local”.

A escolha do Rio de Janeiro, que abrigaria a família real e sua corte, seguiu critérios importantes, segundo o professor Nireu Cavalcanti: “Era a cidade brasileira mais populosa e mais importante economicamente. Possuía rica elite de comerciantes e uma indústria naval capaz de construir grandes navios. Era dotada de razoável sistema de defesa, abrigava o maior contingente militar das diversas capitanias e era uma das sedes da esquadra da Marinha de Guerra portuguesa no Brasil”.

A prioridade do governo de Lisboa, focado na segurança, erguendo fortificações desde o tempo da fundação da cidade (e mesmo antes, ao enfrentar a ação de piratas e contrabandistas), impedia que as administrações construíssem prédios com uma configuração mais luxuosa, como, por exemplo, a moradia para os vice-reis, a Casa da Moeda e a Câmara de Vereadores. Isso explica, pelos idos da primeira década do século XIX, a ausência no Rio de Janeiro de “belezas arquitetônicas”, segundo palavras do arquiteto Nireu Cavalcanti.

Contudo, inúmeros viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil nos anos iniciais do século XIX comentavam que a cidade apresentava um perfil mais urbanizado do que em tempos anteriores. De acordo com o historiador Delgado de Carvalho, transformações haviam acontecido e a malha urbana estendia-se “entre o Rio Comprido e o Rio das Laranjeiras e contava apenas 46 ruas e 19 largos. Quatro travessas e seis becos completavam o seu perfil urbano”. Citando Oliveira Lima, prossegue: “O Catete e Botafogo, isto é, os quarteirões desafogados, os bairros limpos e aprazíveis de hoje, não passavam então de arrabaldes, somente encerrando casas de campo”. Esse era o espaço urbano a se tornar cenário real que D. João encontrou, depois de aportar em Salvador, para se estabelecer com a família real e toda a corte. Ao menos até que os problemas na Europa fossem solucionados.