Inúmeras pessoas, ansiosas, aguardavam as notícias chegadas da Europa, despejadas pelas embarcações que atracavam no Porto do Rio de Janeiro. Naqueles dias de outubro de 1820, pela Rua Direita (atual Primeiro de Março), muitos habitantes da cidade falavam, gesticulavam, conversavam sobre o rei D. João VI (1787-1826), sobre a corte e sobre as suas próprias vidas. Comentavam a notícia que corria e que causava tanto espanto: em agosto havia estourado uma revolução, de inspiração liberal, iniciada na cidade do Porto e que ganhara a adesão de outras regiões portuguesas.
Palavras nem sempre utilizadas eram ouvidas aqui e ali pelo Rio de Janeiro: liberdade, constituição e revolução pontilhavam as conversas. Para comerciantes, funcionários públicos, artesãos e religiosos, tudo era novo. Olhos fixos no cais, aguardavam as notícias de Portugal, que chegariam pelas águas da Baía de Guanabara. Os escravos talvez se perguntassem a razão de tanta agitação: afinal, o que acontecia parecia não ter relação alguma com as suas vidas.
As informações tão aguardadas, vindas do Reino do outro lado do Atlântico, se referiam às ideias que se espalhavam pela Europa, defendendo uma constituição que limitaria o poder do soberano, instituindo uma monarquia constitucional. Mas não ficaram apenas pela cidade. Seguiram adiante, causando grande perplexidade, em direção a outra porta do Rio de Janeiro: aquela que se abria para o interior – o sertão.
Eram informações, palavras, desejos que andavam (ou que passariam a andar) pelas cabeças e pelas bocas. Ficava evidente que os portugueses que viviam no Reino não estavam nada satisfeitos com a vida que levavam. Ansiavam por um governo liberal, não desejando mais serem governados por um rei absoluto. Reivindicavam que a família real retornasse à sua terra natal. Dessa forma, consequentemente, o Brasil voltaria à condição anterior a 1808: uma colônia. Assim pensavam os habitantes de Portugal, vivendo aqueles tempos difíceis: diversas cidades destruídas, devido às lutas travadas contra as tropas invasoras; economia em crise; comércio decadente, não apenas pela ocupação francesa, mas também pela Abertura dos Portos da colônia (1808) logo que D. João, enquanto regente, aportou na cidade de Salvador.
Muitas vozes em Portugal se ergueram em razão de tudo que vinha ocorrendo. O mal-estar aumentava com a longa permanência do monarca no Brasil. Pelas ruas de Lisboa, a pergunta não calava: afinal, D. João VI volta ou não volta? Diziam que todas essas desventuras e sofrimentos aconteciam resultantes dessa ausência. Corria pelas ruas de Lisboa, segundo citação do historiador Pedro Calmon, as rimas populares: “Queremos nosso rei de volta! Mas queremos um rei constitucional!”.