O presidente da província de Pernambuco, temendo o agravamento da insatisfação da população, mandou prender pessoas suspeitas de envolvimento com as lojas maçônicas, tentando, assim, controlar a situação de revolta com a Coroa. Entretanto, não foi bem-sucedido, pois ocasionou a deflagração do movimento, no início de março de 1817. Os líderes da revolta prenderam o presidente e instauraram um governo provisório, baseado em uma Lei Orgânica que proclamou a República, estabeleceu a igualdade de direitos, a tolerância religiosa, a liberdade de imprensa e de consciência, sem, no entanto, abordar a questão da escravidão.
A Lei Orgânica determinava, ainda: que se os estrangeiros estabelecidos na região dessem provas de adesão, seriam considerados "patriotas"; a abolição dos tributos que oneravam os gêneros de primeira necessidade; e que o governo provisório duraria até a elaboração da Constituição do Estado por uma Assembleia Constituinte, a ser convocada dentro de um ano.
O movimento, denominado Revolução Pernambucana, abrangeu amplas camadas da população, como militares, proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes e um grande número de sacerdotes, a ponto de ficar também conhecido como a Revolução dos Padres. A participação dos padres deve-se, especialmente, ao fato de serem também grandes proprietários rurais e, portanto, quererem proteger seus interesses. As camadas mais humildes também aderiram por sentirem-se atingidas pelas medidas do governo português, que ocasionaram o encarecimento dos gêneros alimentícios.
Os comerciantes portugueses de Recife, por sua vez, tentaram impedir o movimento, interessados na preservação do sistema colonial e de seus privilégios, oferecendo 500 mil francos aos membros do novo governo para que desistissem da revolução.
O governo provisório, formado pela elite colonial, era composto pelo comerciante Domingos José Martins, o advogado José Luís de Mendonça, o capitão Domingos Teotônio Jorge, o padre João Ribeiro e o fazendeiro Manuel Correia de Araújo, e pretendia ser o representante de todos os grupos. Mas essa abrangência não incluía os escravos, apesar de os líderes da revolução falarem o tempo todo sobre liberdade. Para eles, liberdade significava o fim do domínio português e a independência, senão da colônia, pelo menos do Nordeste, isso porque o movimento se estendeu a outras províncias da região, atingindo Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Não pretendiam acabar com a escravidão, mas como essa ideia passou a ser ventilada e os proprietários rurais ameaçaram tirar seu apoio ao movimento, o governo provisório lançou um manifesto negando tal intenção, onde se lia:
"Patriotas Pernambucanos! A suspeita tem se insinuado nos proprietários rurais: eles creem que a benéfica tendência da presente liberal revolução tem por fim a emancipação indistinta dos homens de cor e escravos. (...) Patriotas, vossas propriedades, ainda as mais opugnantes ao ideal de justiça, serão sagradas; o Governo porá meios de diminuir o mal, não o fará cessar pela força. Crede na palavra do Governo, ela é inviolável, ela é santa".
Buscando romper com o passado de exploração e opressão, os patriotas pernambucanos quiseram, também, fazer uma revolução nos modos e maneiras de se relacionarem com as pessoas, pretendendo nelas incutir o sentimento de igualdade, ainda que restrito aos homens brancos. O comerciante francês Tollenare, que entre 1816 e 1818 esteve em Pernambuco, fez as seguintes observações a respeito dessa questão em seu livro Notas Dominicais:
"Em lugar de 'Vossa mercê', diz-se 'Vós', simplesmente; em lugar de Senhor é-se interpelado pela palavra Patriota, o que equivale a cidadão e ao tratamento de tu (...) As cruzes de Cristo e outras condecorações reais abandonam as botoeiras; fez-se desaparecer as armas e os retratos do rei".
Esses novos modos vão ser absorvidos, também, pelas camadas mais humildes da população, o que vai causar indignação entre os mais ricos, como mostra o historiador Ilmar Rohloff de Mattos. "Um português que vivia na cidade, Cardoso Machado, comentava indignado: 'Até os barbeiros não me quiseram mais fazer a barba, respondiam que estavam ocupados no serviço da pátria, via-me obrigado a fazer a mim mesmo a barba'." Havia, também, entre essa elite o medo de uma possível repetição da revolução de escravos ocorrida no Haiti, por conta da repercussão, na população mais pobre, das ideias liberais da revolução, como se pode perceber em outra fala atribuída a Cardoso Machado: "Cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam éramos iguais e que haviam de casar, senão com brancas das melhores. Domingos José Martins andava de braço dado com eles, armados de bacamartes, pistolas e espada nua".