O cultivo do café foi a base da economia do Império do Brasil, mesmo antes das Regências. Não sem motivo, a bandeira, símbolo do Império, desenhada pelo pintor Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e que entrou em vigor em 1º de dezembro de 1822, continha um ramo de café. Nas grandes fazendas, a planta se transformou na principal lavoura e, para preservá-la, aqueles proprietários de escravos e de terras, que ficaram conhecidos como os barões do café, defendiam o regime de produção latifundiário-escravista. Desejavam, diante da expansão vertiginosa desse cultivo em áreas próximas à cidade do Rio de Janeiro (entre 1820 e 1840), não apenas manter a mão de obra escrava, mas aumentar sua importação. Em meio às fugas de escravos e insurreições negras, os fazendeiros adotaram uma posição de enfrentamento e de resistência à política inglesa de repressão ao tráfico africano intercontinental.
Tal comportamento estava ligado à expansão cafeeira no país, uma vez que os cafezais, adaptados às condições climáticas e de solo, se espalhavam rapidamente pelo Vale do Paraíba, fazendo a fortuna dos fazendeiros e dos comissários de café, além de enriquecer os cofres do Tesouro Imperial. De acordo com o engenheiro Eduardo Coelho de Lima, “o Império afagou os fazendeiros do Rio de Janeiro (...) pelas receitas do café que convergiam para a alfândega” da cidade. Esses proprietários (e seus descendentes) são nomeados de “novos colonos” pelo historiador Ilmar Rohloff de Mattos.
Eram aqueles que, com a vinda da família real para o Brasil, tinham se instalado nas proximidades da corte, no Rio de Janeiro, ganhando terras para o seu cultivo (sesmarias) do príncipe D. João (1767-1826). A partir daí, iniciaram um movimento de interiorização rumo às terras férteis da região do Vale do Rio Paraíba (conhecida como Serra Acima), estabelecendo o cultivo de diversos produtos agrícolas, entre os quais o café, com mudas doadas pelo próprio regente D. João. Com o passar do tempo, abandonaram as demais culturas, passando a investir na plantação de café, diante das grandes possibilidades de lucros que ela oferecia. Esses homens, enriquecidos, formaram o grupo conhecido como barões do café, que cresceu em importância social e política.
A expansão cafeeira acarretou o crescimento das propriedades e, com elas, o predomínio das grandes famílias. Acima dos interesses político-partidários, os grandes proprietários colocavam os interesses econômicos. Era frequente, em todo o século XIX, a formação de poderosos laços criados pelos casamentos entre famílias proprietárias, que constituíam a chamada boa sociedade. Esses laços tão poderosos ultrapassaram os limites provinciais, tendendo a transformar em um único bloco o terreno por onde se espalhavam os cafezais fluminenses, paulistas e mineiros, em quase continuidade às áreas mais antigas da lavoura canavieira.
Na década de 1830-1840, a exportação do café já representava mais de 40% das exportações totais do Império, suplantando, inclusive, a do açúcar. A província do Rio de Janeiro era a que mais se destacava nesse comércio, sendo responsável pela produção de 3/4 de todo o café que saía do Brasil. O cultivo nas áreas próximas à corte fez com que mais da metade das exportações do país se desse pelo porto da cidade, gerando um aumento considerável da importância econômica do Centro-Sul e ampliando as receitas do poder central, oriundas, em grande parte, das taxas alfandegárias.
Tudo isso resultou na necessidade da abertura de novos caminhos (e de melhorias nos já existentes) para os tropeiros transportarem as sacas de café até o Porto do Rio de Janeiro.