Nessa cidade, chamada de maravilhosa, destinos ilustres ou anônimos foram vividos.

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A história do Rio de Janeiro como capital do Brasil, iniciada no século XVIII, no período do vice-reinado, chega ao fim em 1960, em meio a inúmeras indagações sobre o destino da cidade. Prancha da Zona Portuária do Rio em 1710 (Crédito: Carlos Gustavo Nunes Pereira/Instituto Pereira Passos)

Contar a história da cidade do Rio de Janeiro significa considerar as viagens exploratórias que os portugueses, aventureiramente, realizaram durante o século XV e nos seguintes. Associando o saber marítimo, construído ao longo das décadas, aos avanços da ciência e da tecnologia da época, navegaram por mares misteriosos, alcançando terras distantes. Não obstante as adversidades, para além da construção naval das caravelas e da revolução dos mapas, tais viagens conduziram aqueles homens rumo a um mundo inexplorado.

Desde a chegada dos navegadores lusos às águas da Baía de Guanabara, no ano de 1502, quando a cartografia registrou pela primeira vez o nome Rio de Janeiro, janeiros e mais janeiros se passaram. A cidade foi fundada por Estácio de Sá (1520-1567), sobrinho do governador-geral Mem de Sá (1500-1572), em 1º de março de 1565, e ao seu nome adicionou-se São Sebastião. Segundo a historiadora Angela de Castro Gomes, acrescentar esse santo guerreiro como padroeiro foi uma escolha adequada, pois a cidade, do ponto de vista político, “foi e continuará sendo palco de muitas lutas, sempre com repercussão nacional”. Em um passado nem tão remoto, os compositores Aldir Blanc, Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro propuseram, em versos redentores, na canção Saudades da Guanabara:

“Tira as flechas do peito do meu padroeiro
Que São Sebastião do Rio de Janeiro
Ainda pode se salvar”.

Retrocedendo no tempo, caminhando pelos quatro cantos dessa urbe, nos séculos seguintes à sua fundação, trajetos foram percorridos por aqueles que nela sonharam, moraram e trabalharam. Muitos construíram, projetaram e realizaram obras nem sempre preservadas. Nessa cidade, chamada de maravilhosa, destinos ilustres ou anônimos foram vividos, traçados, percorridos e observados, aqui e ali, pelas frestas das janelas entreabertas do tempo.

Capital do vice-reinado do Brasil em 1763, permaneceu com esse status político até 1960, ano da inauguração da atual capital do país: Brasília. Diante da irreversível transferência do centro do poder republicano para o Planalto Central, muitos se perguntaram o que aconteceria com o Rio de Janeiro, que no início do século XX, segundo o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, “havia se civilizado (...) com as avenidas abertas por Pereira Passos e (...) com a Avenida Presidente Vargas pelo prefeito Dodsworth”.

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Meio século após a perda de seu status de capital federal, o Rio de Janeiro, como diria o poeta, continua lindo. Panorâmica da região no entorno da Lagoa de Jacarepaguá, em foto tirada em 2012 a partir do topo da Pedra Bonita (Crédito: Caio Basílio/Wikimedia Commons)

Enquanto o tempo acelerava, pedindo pressa, a antiga capital (Velhacap) assumiu um novo papel no conjunto federativo brasileiro: o estado da Guanabara. Carlos Frederico Werneck de Lacerda (1914-1977), eleito pelas urnas para seu primeiro governador, colocou em prática o projeto de manter a cidade como cabeça do país. Logo ao assumir, iniciou uma ampla reforma administrativa e investiu em obras importantes, como a do Aterro do Flamengo – considerado o marco paisagístico do período. Durante sua administração, o Rio, no compasso da bossa nova, comemorou o quarto centenário de sua fundação, em 1965, entre festejos e desafios.

A última grande alteração nos estatutos políticos da cidade aconteceu no ano de 1975, quando foi estabelecido o território do atual estado do Rio de Janeiro, por meio da fusão dos antigos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro.