A intenção do prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913) ao conduzir as obras do programa de renovação urbana do Distrito Federal – apoiado na ideia de progresso da época –, segundo palavras do historiador André Nunes de Azevedo, era a de tornar o centro da capital federal “um lugar para o convívio ‘civilizado’, um espaço que convidaria os habitantes dos mais diversos locais do Rio de Janeiro a frequentá-lo, uma vez que seria lugar de aprendizado da ética urbana, da civilização que deveria tomar toda a cidade”.
Durante sua gestão, foi realizado o primeiro aterro marítimo, objetivando melhorias na região portuária. A partir da demolição do Morro do Senado (nivelando, aproximadamente, 179 hectares sobre o mar), surgiu uma nova linha de costa, que tornaria a Gamboa o primeiro cais do Porto do Rio de Janeiro modernizado.
A partir da Praça Mauá, iniciaram-se as obras da Avenida Central (atual Rio Branco), projetada no estilo dos bulevares franceses. Mais do que qualquer outra obra, essa exigiu a demolição de, aproximadamente, 600 prédios antigos. Eram cortiços, de aluguéis mais baratos, abrigando uma população heterogênea (como capoeiras e estivadores), que, além de dividir a habitação, compartilhava a necessidade de inserção na sociedade em transformação.
Para agilizar as intervenções, decretos davam poderes ao prefeito de desapropriar e de tomar posse de casas sem procedimento judicial. Fixavam avisos nas moradias que seriam derrubadas, concedendo um prazo estreito para que seus moradores dali saíssem. Inconformados, muitos retiravam seus pertences com a demolição já em andamento. Meses a fio, esse projeto, iniciado em 1904 e chefiado pelo engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin (1860-1933), desalojou pessoas, deslocou estabelecimentos comerciais, removeu escombros, loteou terrenos e instalou sistemas de esgoto, água, iluminação e eletricidade. Os trabalhos avançaram rapidamente, ampliando aqui, nivelando adiante e calçando. Ruas acanhadas, becos e vielas do Centro Antigo deram passagem a outras reformadas, com destaque para os 1.800 metros de extensão e os 33 metros de largura da Avenida Central.
As edificações erguidas ao longo da nova artéria carioca ganhavam um estilo arquitetônico (ecletismo) que aproximava o Rio de Janeiro da Europa. O objetivo era transformar a cidade em uma Paris tropical. Prédios como o do Theatro Municipal, o da Escola Nacional de Belas Artes e o da Biblioteca Nacional guardam a memória dessa época.
A inauguração da Avenida Central aconteceu em 15 de novembro de 1905, não por acaso. O calçamento foi embelezado com desenhos feitos de pedras portuguesas, e o canteiro central, que dividia a Avenida, arborizado com mudas de pau-brasil. Nascia uma artéria, substituindo a Rua do Ouvidor, para ser um lugar onde a população passeasse, admirando a iluminação elétrica ou o obelisco de granito com 18 metros de altura, construído para marcar o final das obras. O escultor desse monumento, Eduardo Sá, nem poderia supor que, anos mais tarde (3 de novembro de 1930), alguns gaúchos encontrariam uma função a mais para a sua obra. Os vitoriosos revolucionários do Movimento de 1930 amarraram, ali, seus cavalos, num gesto de forte simbolismo histórico, representando a tomada do poder. Naquele momento, chegou ao final a nomeada Primeira República, e o Palácio do Catete ganhou um novo ocupante. Tempo, tempo, tempo rei.