O político Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850) defendia a manutenção da mão de obra escrava, declarando que “a África civiliza”. A historiadora Mary Karasch compõe um quadro amplo sobre aspectos do cotidiano dos cativos, como as doenças, os castigos cruéis e desmedidos a que eram submetidos, a alimentação com imensas carências nutricionais, assim como as formas de resistência (fugas e quilombos) à escravidão.
O africano escravizado, trazido para o Brasil, desempenhou, entende a estudiosa, um papel fundamental na formação da cultura nacional. Mais precisamente no Rio de Janeiro, foi responsável por forjar a nomeada cultura afro-carioca. Responsável pelas principais atividades produtivas desenvolvidas na corte – tais como plantar, costurar, cozinhar, construir e transportar –, imprimiu suas tradições e comportamentos nas tradições e comportamentos luso-brasileiros.
Segundo palavras de Mary Karasch, “contrapondo-se àqueles pesquisadores para os quais o cativo no Brasil receberia um tratamento mais ameno do que em outros países, essa ideia de benevolência não passa de uma fantasia”. Esse pensamento bondoso e magnânimo foi incorporado pela literatura da época. O escritor José de Alencar (1829-1877), no romance O Tronco do Ipê, ao descrever as comemorações natalinas dos escravos no terreiro da casa-grande do senhor, comenta, por meio de um de seus personagens, que duvidava que os trabalhadores de Londres fossem “tão felizes” e que tivessem condições de vida “tão boas” quanto os do Brasil.