Em meio às preocupações das autoridades em manter a ordem diante das dificuldades e dos problemas, ouviam-se murmurações transformadas em conversas, aqui e ali, nas esquinas e em torno das velas acesas nas moradias. Quem mais falava eram os letrados (pessoas bem informadas que tinham estudado na Europa, principalmente na Universidade de Coimbra). Esse grupo recebia notícias sobre as transformações que ocorriam na Europa Ocidental, como a Revolução Industrial, ou nos Estados Unidos. Recebiam, também, livros e folhetos, contendo as ideias liberais dos principais filósofos franceses da época: Abade Raynal, Rousseau, Montesquieu e Voltaire, defensores dos ideais de liberdade, igualdade, fraternidade e felicidade.
As informações, que pareciam não ter fim, entravam pela porta da cidade do Rio de Janeiro, aberta para o mar. Mudanças e mais mudanças que estavam acontecendo em outras partes do mundo multiplicavam sussurros e resmungos.
A cidade foi cenário importante, mesmo sem ter sido o centro dos acontecimentos que urdiram a Conjuração Mineira, denunciada quase no fim do governo do vice-rei D. Luís de Vasconcelos e Sousa (1742-1809). Coube a esse administrador (1779 e 1790) decretar a prisão de Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), o Tiradentes, e dos demais conjurados, que, trazidos para o Rio de Janeiro, foram presos em estabelecimentos militares. O processo e o cumprimento das penas aconteceram tempos depois, no governo sucessor do Conde de Rezende (1744-1819), vice-rei entre 1790 e 1801.
Esse administrador recebeu, em 1794, uma denúncia de que membros da Sociedade Literária, fundada na cidade em 1786, conspiravam contra as autoridades portuguesas, mostrando simpatia pelas ideias republicanas. O local de reunião foi fechado em seguida. Sob o pretexto de que seus sócios continuavam a reunir-se clandestinamente, o Conde de Rezende acusou-os de subversão, mandando prendê-los. A chamada Conjuração do Rio de Janeiro terminou com seus participantes (pessoas importantes da capital, como o poeta e professor Manuel da Silva Alvarenga, 1749-1814) sendo recolhidos à Fortaleza da Conceição.
Possivelmente, porém, para muitos que aqui viviam ou para outros que estavam por chegar, a cidade do Rio de Janeiro era, no findar do século XVIII e no alvorecer do século seguinte, um porto seguro, um lugar de ser feliz... Dizem os versos de Gilberto Gil na canção Aqui e Agora:
“Aqui, fora de perigo, agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo muito embora muito antes
O melhor lugar do mundo é aqui e agora
O melhor lugar do mundo é aqui e agora”.
Ou não?