A presença das torcidas nos estádios de futebol da cidade do Rio de Janeiro, como o Estádio Jornalista Mario Filho (o Maracanã) ou o Estádio Olímpico João Havelange (o Engenhão), transformam aqueles espaços em pura vibração. Vozes incontáveis vibram pelas suas dependências, em meio a bandeiras agitadas e balões de gás que se espalham pelo ar. Uma palavra define tal esporte, responsável por tantos sentimentos e tantas paixões, cantados e cantadas nos hinos compostos por Lamartine de Azeredo Babo (1904-1963): futebol.
Inicialmente, as atenções dos habitantes do Rio de Janeiro voltavam-se para as competições de remo, que aconteciam nos espelhos d’água da cidade durante o século XIX. Em 1874, surgiu o Club Guanabarino; em 1895, o Clube de Regatas do Flamengo; em 1898, a comunidade portuguesa, comemorando o quarto centenário da chegada de Vasco da Gama às Índias, criou o Club de Regatas com o nome daquele navegador.
Mas o remo perdeu torcedores quando, partir do final dos anos 1920, o futebol, inicialmente tido como um esporte de elite praticado em clubes elegantes, ganhou a preferência dos cariocas. A primeira agremiação a adotar o futebol na cidade foi o Fluminense Football Club, fundado em 21 de julho de 1902. Em seu estádio, concluído em 1919, o Brasil ganhou seu primeiro título internacional de futebol, derrotando o Uruguai por 1x0, no terceiro Campeonato Sul-Americano. A primeira Copa do Mundo, disputada em 1930 naquele país, consagrou os anfitriões como campeões. Outras aconteceram, aumentando cada vez mais as plateias dos jogos.
Com o crescimento do interesse pelo esporte, os antigos clubes de remo foram se adaptando e abrindo espaços para a prática do futebol. Nos anos 1930, consagrado como um esporte de massas, atraiu maior número de torcedores. Equipes que antes não aceitavam atletas negros mudaram a ideia que predominara bem no início: a de o futebol ser um esporte de brancos. Uma geração de ídolos negros, como Leônidas da Silva (1913-2004) – por seu talento, consagrado com o nome de Diamante Negro –, pouco a pouco foi, conforme citado na publicação Nosso Século (1930/1945), “colocando um ponto final às considerações racistas” dos primeiros tempos.
O Club de Regatas Vasco da Gama foi o primeiro a promover a inclusão de negros e de operários em suas equipes. O futebol rompeu as fronteiras sociais a partir da organização de times improvisados em campinhos suburbanos, onde a urbanização ainda não havia chegado. Esse esporte permitiu aos grupos sociais mais pobres uma inclusão negada em outras esferas da sociedade.