Enquanto os tempos difíceis em Portugal afligiam corações e mentes de seus habitantes, do outro lado das águas atlânticas, no Rio de Janeiro, a “calma reinante era parte de um cenário frágil”, no entender da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz. Havia grupos que desejavam a permanência do rei na cidade, garantindo todas as vantagens adquiridas desde 1808 (e que não eram poucas). Mas havia, também, quem temesse a libertação dos escravos – movimento que já acontecia em algumas partes do mundo –, pois isso poderia dimimuir seus lucros e suas vantagens.
Naquele ano agitado de 1820, repleto de interrogações, a chegada de notícias vindas de Portugal era sinal de confusão na cidade. A discussão tomava conta das ruas, em posições contrárias ou favoráveis, que pareciam não ter fim. O que se tramava? O que teria conserto? O que seria certeza? E o que seria incerteza? O que iria acontecer?
Após inúmeras dúvidas e hesitações, pressionado, desejando preservar o regime, a sua dinastia e a manutenção da união dos reinos europeus e americano, D. João VI (1767-1826) regressou a Portugal no dia 26 de abril de 1821. Mas deixou no Brasil, na frágil calmaria do Rio de Janeiro, o príncipe D. Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon (1798-1834), herdeiro do trono. Essa atitude do monarca demonstrava a intenção de contentar aqueles que se opunham ao retorno da família real para Portugal. A cidade do Rio de Janeiro, naquele momento, não tinha mais um rei.