O Rio de Janeiro chegou aos derradeiros anos do século XIX como capital federal, bastante diferente daquela cidade que presenciou a montagem do Estado Imperial. Dava os primeiros passos rumo a um processo de expansão e modernização, segundo conceitos vigentes na época. Em contraponto, era ainda atingida por problemas urbanos, que iriam interferir na vida de seus habitantes nas primeiras décadas do século XX.
Nos anos iniciais republicanos, o Rio de Janeiro passou por uma fase turbulenta e complexa diante das significativas transformações políticas, econômicas, sociais e culturais que já se delineavam anteriormente, ainda durante o Império. Aconteceram mudanças, por exemplo, no quadro social da cidade, que era a principal praça financeira e o principal centro comercial e industrial do Brasil. Um excedente populacional se formou, em meio à abolição definitiva do trabalho escravo, a partir da nomeada Lei Áurea de 1888. Além dos comerciantes, dos artesãos, dos burocratas, dos militares e dos profissionais liberais, a população foi acrescida de ex-escravos (oriundos de regiões agrícolas decadentes do interior fluminense, mineiro e baiano), de migrantes (provenientes de outras regiões brasileiras) e de imigrantes (devido à política imigratória adotada pelo país).
Boa parte desses indivíduos ocupava uma posição mal definida no mercado de trabalho da época. Nesse mundo heterogêneo, que envolvia ofícios e especializações, as oportunidades nem sempre estavam disponíveis para todos, e era bastante comum a prática de biscates. Números apontam que, em 1890, a população carioca alcançava cerca de 520 mil habitantes. Na última década do século XIX, foi acrescida de mais de 200 mil. Representava uma taxa de crescimento extremamente significativa para uma cidade que não tinha planejamento urbano nem infraestrutura sanitária para comportar tal situação.
Toda essa movimentação de indivíduos que se dirigiam ao Rio de Janeiro, “inequívoco polo de irradiação e de atração nacional”, segundo Carlos Eduardo Sarmento, gerou um inchaço demográfico que se refletiu “em uma estrutura social bastante desproporcionada, com um crescimento efetivo do nível de desemprego e do subemprego da população citadina”, conclui o historiador. Esse aumento considerável, porém, não era acompanhado por planos de saneamento e de infraestrutura. A ocupação urbana crescia desordenadamente, produzindo condições ideais para a propagação de uma série de doenças, da febre amarela à peste bubônica, que faziam parte do cotidiano da capital federal.
As condições insalubres do Centro, por exemplo, onde a concentração populacional era significativa, causavam milhares de mortes anualmente. O governo tinha, portanto, motivos de sobra para promover as reformas no Distrito Federal, cenário a ser transformado pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), durante a presidência de Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919).