Nos tempos do Brasil monárquico, o Rio de Janeiro era muito mais do que o centro político e econômico. A cidade também exercia uma centralidade do ponto vista cultural. Segundo a historiadora Margarida de Souza Neves, “o Rio de Janeiro era o grande laboratório onde se experimentavam as reformas que anunciavam os novos tempos”. Além de ser a cabeça política do Império, a cidade podia ser vista como o grande empório comercial e financeiro do país.
A expansão cafeeira levou a significativa expansão do Rio, com inúmeras mudanças que alteraram o seu perfil urbano. O café saído pelo porto da cidade cruzou as águas atlânticas em navios abarrotados, exportado para os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha e a França. Outras embarcações fizeram o trajeto inverso, trazendo incontáveis artigos industrializados. Produtos oriundos de outros países, especialmente da França, entravam no Brasil após a promulgação da Tarifa Alves Branco, em 12 de agosto de 1844, que aboliu o privilégio desfrutado até então pelas mercadorias inglesas.
Tantos negócios prósperos, tantas novidades, tantas mudanças no Rio de Janeiro que crescera! Substituindo os antigos sobrados, foram erguidas casas vastas e sólidas, além de luxuosos palacetes, com traços arquitetônicos europeus (marca da influência de mestres de obras e de operários italianos).
A iluminação pública feita a gás tirava da escuridão as ruas calçadas, o que atraiu para fora das residências as famílias, que antes apenas saíam para as missas e eventualmente para o teatro. Dentro das casas mais abastadas, esse melhoramento também se fazia presente, substituindo velas e lampiões.
Os transportes urbanos, cruzando as ruas da cidade, interligavam as freguesias e as lojas de comércio de artigos finos, como aquelas localizadas na Rua do Ouvidor, que abriam as suas portas ofertando, nas vitrines, novidades da moda europeia – vitrines cariocas refletindo múltiplas luzes e sombras, diante da vontade de ter, de querer e de ser.