O espaço público da cidade pode ser entendido como uma propriedade compartilhada “por um ente abstrato que é a comunidade”, segundo palavras do arquiteto Abilio Guerra, e que se modifica de acordo com o país, com a região, com o passado histórico. São as ruas por onde o tráfego dos veículos acontece, são os largos, as calçadas e as praças que atraem as pessoas no decorrer do dia a dia.
Partindo dessa premissa, o Rio, à época em que era estado da Guanabara, passou por inúmeras mudanças em seu espaço público que alteraram sua configuração arquitetônica. Além do Aterro do Flamengo, foram inauguradas outras obras que até hoje são importantes: a Rodoviária Novo Rio (oficialmente Terminal Rodoviário Novo Rio), o Túnel Santa Bárbara e a Adutora do Guandu. Além delas, o investimento em uma nova malha rodoviária incluiu o começo da construção do Túnel Rebouças (ligando os bairros do Rio Comprido e da Lagoa), em 1962, o Trevo dos Marinheiros, o trecho inicial da Avenida Radial Oeste e o prolongamento da Avenida Maracanã.
Em outra direção, o sistema viário proposto para facilitar a circulação no estado da Guanabara deu origem a um planejamento urbano inovador, no amplo território da Baixada de Jacarepaguá. Essa área, até então de difícil acesso, tornou-se o ponto de articulação entre o passado e o futuro urbano da cidade. A natureza ainda intocada da região inspirou o projeto criado, em 1969, pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902-1998): o Plano-Piloto da Baixada de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca. Um novo paraíso surgiu na cidade. Entendia Lucio Costa que a arquitetura poderia ser definida “como construção concebida com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa”.
Nos anos 1970, foram construídos o Elevado e o Túnel do Joá e a ponte sobre o Canal da Joatinga, e inaugurada a Autoestrada Lagoa-Barra – importantes articulações que viabilizariam a ocupação da região. A Barra da Tijuca passou a representar não apenas a utopia urbana modernista, mas “também um pedaço de Brasília na antiga capital federal”, afirma o arquiteto e urbanista Augusto Ivan de Freitas Pinheiro. Ao longo das décadas seguintes, surgiu um novo estilo de vida no Rio: condomínios fechados, amplas áreas de lazer, pistas exclusivas de alta velocidade (autoestradas) e, principalmente, shopping centers. “Reeditava-se assim a cidade balneária, agora inspirada no modelo americano, conformando-se uma Miami carioca ou um ‘eldorado urbano’”, afirma a arquiteta e urbanista Nina Maria de Carvalho Elias Rabha.
Toda essa movimentação era para que a Guanabara, estado-capital, permanecesse como a face do Brasil, mantendo o seu status de importante palco da política do país. Entretanto, nessa época, o censo apontava para uma população urbana concentrada em grande parte nas favelas, que cresciam em progressão geométrica nos subúrbios cariocas e em outras regiões do Rio. Sinais de uma possível explosão demográfica. Desafios.