Em 1555, durante o governo-geral de Duarte da Costa (?-1560), franceses alcançaram o entorno da Baía de Guanabara, objetivando instalar um núcleo colonial que ficaria conhecido como França Antártica. Liderados por Nicolau Durand de Villegagnon (1510-1571), pretendiam garantir, no litoral sul, a exploração do pau-brasil e conseguir um espaço onde os protestantes franceses pudessem exercer livremente sua religião. Com esses objetivos, fundaram o Forte de Coligny, no litoral carioca, próximo à entrada da barra, em uma ilhota rochosa que os locais chamavam de Serigipe (atual Ilha de Villegagnon). Dizendo-se aliados, fizeram amizade com os nativos, que guerreavam, entre si e com os portugueses, contra sua escravização. Para evitar um enfrentamento direto com o gentio, estrategicamente não tomaram as terras habitadas pelas tabas; ocuparam a ilhota desprovida de água e até então abandonada.
Dura era a vida desses forasteiros na Terra da Ibirapitanga. Relatos de viajantes franceses, como o franciscano André Thevet (1502-1590) e o missionário Jean de Léry (1536-1613), descrevem a adaptação aos costumes indígenas, especialmente aos alimentares, pela qual passaram durante o tempo em que permaneceram na França Antártica. Léry comentou (Voyage Faict en La Terre Du Brésil) sobre o uso da rede de algodão, além de vários alimentos feitos com mandioca. Esse testemunho revela a dependência dos europeus em relação aos nativos.
Para os franceses, como para os portugueses, era estranho constatar que os índios não estavam nada dispostos a reconhecer em Jesus Cristo o seu salvador. Também tentavam entender como os nativos andavam com naturalidade, de um lado para o outro, como registra Léry,“costumeiramente tão nus quanto saem do ventre da mãe”. Para os europeus, era um novo mundo, diferente e inquietante, onde havia exotismo até na língua falada. Por outros aspectos, esses desconhecidos homens barbudos vestidos da cabeça aos pés, que os ventos em rodopios sobre as águas da Baía de Guanabara haviam trazido, causavam o mesmo pasmo aos ameríndios! Nada fácil de entender, concluiriam. Verdadeiro encontro das diferenças.