Nos primeiros tempos, descrições da América portuguesa, incluindo a região da Baía de Guanabara e do seu entorno (onde, em 1565, seria fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro), seriam anotadas nos relatos feitos por escrivães que participavam das frotas que cruzavam mares e oceanos.
Eram informações preciosas, como as encontradas na carta da expedição de 1500, que comunicou ao rei de Portugal, D. Manuel I (1469-1521), a notícia do descobrimento. No caso, a pena de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) deslizou, anotando impressões sobre a extensão litorânea da nova terra: “Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra sul vimos até outra ponta que contra o norte, de que nós deste porto tivemos visão, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa”. Referia-se ao que via: uma parte do litoral sul, onde hoje é o estado da Bahia, e também a que intuía existir.
Outros apontamentos, incluindo a região do Rio antes de existir a cidade do Rio de Janeiro, seriam feitos também por viajantes e cronistas do século XV, XVI e XVII. Contudo, nem sempre as informações contêm objetividade e distanciamento entre a pessoa que escreve e o fato descrito.
Para o geógrafo João Lima Sant'Anna, esses relatos apresentam “mais visões do que fatos”. Possuem ambiguidades e ambivalências. Talvez, o desejo de encontrar o paraíso terreno somado à imaginação tenha contribuído para a construção do lugar ideal. Desconhecendo a natureza tropical, os estrangeiros fantasiaram um mundo perfeito – diametralmente oposto à cena europeia do século XV.
Assim, as impressões e os olhares daqueles nautas, religiosos, comerciantes e aventureiros de perfis diversos relacionam-se com o tempo histórico em que viviam. O historiador Ilmar Rohloff de Mattos sinaliza que, para aqueles homens, “as terras americanas significavam um imenso vazio a ser preenchido com seus interesses, concepções e valores. Um grande deserto, um desertão. Daí a origem do nome sertão”.