21 Habitantes t
Desembarque de D. Leopoldina, consorte de D. Pedro, em novembro de 1817. Óleo sobre tela (Crédito: Jean-Baptiste Debret/Museu Nacional de Belas Artes)

Da esquadra portuguesa que transportou a família real para o Brasil, a primeira embarcação a alcançar a cidade do Rio de Janeiro foi o brigue Voador, no dia 14 de janeiro de 1808. Seus ocupantes, entretanto, ainda aguardaram, permanecendo nos navios, a chegada da rainha D. Maria I (1734-1816) e do príncipe regente D. João (1767-1826), que aconteceu no início de março de 1808. Uma forte tempestade separou algumas embarcações na altura da costa africana (Ilha da Madeira), retardando a chegada da família real.

Contudo, as notícias não esperaram; antecederam o desembarque dos viajantes, informando que os franceses haviam invadido Portugal e que a família real, contando com o apoio da Inglaterra, estava de mudança com a sua corte para o Rio de Janeiro. A cidade seria a capital do Reino até que a situação europeia encontrasse um destino mais seguro.

Salvas de tiros de canhões das fortalezas misturavam-se ao repicar dos sinos das inúmeras igrejas. O ruído era intenso, ensurdecedor, naquele 8 de março de 1808. Grande parte da população, com suas melhores vestimentas e desejosa de não perder nenhum detalhe, movimentava-se na direção do litoral: das praias e dos morros de onde se poderia avistar a aproximação, pelas águas da Baía de Guanabara, da esquadra que trazia a família real. Gritando e acenando, os habitantes do Rio de Janeiro saudavam os novos moradores que chegavam pelo porto, depois da longa travessia atlântica. O governo português, ao se transferir para a colônia americana, deixava para trás os perigos, as ameaças e os medos que o Velho Mundo (Europa) vivenciava desde o início da Revolução Francesa.

Entretanto, aqueles primeiros momentos não tiveram o brilho imaginado pelos viajantes e pelos locais. Os europeus que desembarcaram na tarde do dia 8 de março de 1808, cansados, preocupados, amedrontados, estranharam o calor tropical, a paisagem e as pessoas, concluindo que aquele não era o lugar sonhado. Para a população do Rio de Janeiro que, ansiosa e emocionada, aguardava as novidades do Reino, a visão de um príncipe tão diferente do que o imaginário havia construído também causou espanto. E, ainda por cima, as damas da corte, desarrumadas, não ostentavam a elegância esperada! “Que moda estranha!”, os habitantes da cidade concluíram, confusos.

O que no passado poderia parecer impossível, no presente acontecia, apesar de algumas decepções parte a parte. No futuro, tais desilusões seriam contornadas, já que a convivência iniciada ali não tinha nem dia e muito menos hora para terminar.