No final do século XVI, estudos estimam uma população em torno de 3.850 habitantes na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, entre índios, portugueses e africanos. A qualidade da terra da capitania do Rio de Janeiro propiciava o desenvolvimento agrícola. A necessidade de tocar as lavouras e impulsionar as moendas era cada vez mais urgente. Os cofres da Coroa portuguesa contavam com os lucros expressivos oriundos da presença dos canaviais e dos engenhos.
Os engenhos reais movimentavam-se pela força da água. Muitos, entretanto, dependiam do uso da força dos bois ou dos escravos – comparados, dessa forma, ao gado. Urgia encontrar soluções diante da “rarefação dos índios inimigos e das pressões dos jesuítas que incitavam a buscar na África (...) uma mão de obra considerada mais robusta” , como registrou a historiadora Armelle Enders.
Desde que começaram a percorrer o litoral da África, em tempos históricos de feitos nunca vistos e a partir das Grandes Navegações, os portugueses haviam iniciado o tráfico de africanos escravizados. Nas últimas décadas do século XVI, esse comércio possuía contornos definidos e sua lucratividade era reconhecida. Para o professor Fernando Novais, o tráfico de cativos africanos gerava um rendimento tão significativo que explica a escravidão, e não o contrário. Alguns historiadores acreditam que havia recursos financeiros acumulados por reinóis em razão da exploração da escravidão indígena. Além desses pontos, sabia-se que muitos africanos eram oriundos de sociedades que conheciam o trabalho com o ferro e a criação de gado. Existia, também, a ideia de que eles resistiriam melhor que os nativos às difíceis condições de trabalho e às epidemias. Por esses aspectos, eram vistos como mão de obra superior (mais forte, mais resistente), se comparada à dos ameríndios.
Progressivamente, nos canaviais e nos engenhos localizados na capitania do Rio de Janeiro, predominou o trabalho dos africanos escravizados, substituindo o que era executado pelos nativos. A cidade recebeu, sobretudo, grupos originários de Angola, trazidos maciçamente no decorrer da última década do século XVII. E o Rio progressivamente se transformava em um porto negreiro.
Os cativos africanos, como os indígenas, não aceitaram passivamente a situação que lhes era imposta. Desde os primeiros tempos, fugas e agressões contra os opressores fizeram parte das relações cotidianas entre os senhores e os escravos. Os quilombos – redutos daqueles que escapavam da escravidão – existiram em grande quantidade nas terras americanas pertencentes a Portugal, inclusive na cidade do Rio de Janeiro. O bairro do Leblon, por exemplo, tem parte da sua história associada a um deles: o Quilombo do Seixas.