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Os escravos africanos que vinham para o Rio eram capturados no Congo e em Angola (Crédito: Joan Blaeu/In: Geographia, Quae Est Cosmographia Blaviana, volume 9, 1662)

No final do século XVI, estudos estimam uma população em torno de 3.850 habitantes na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, entre índios, portugueses e africanos. A qualidade da terra da capitania do Rio de Janeiro propiciava o desenvolvimento agrícola. A necessidade de tocar as lavouras e impulsionar as moendas era cada vez mais urgente. Os cofres da Coroa portuguesa contavam com os lucros expressivos oriundos da presença dos canaviais e dos engenhos.

Os engenhos reais movimentavam-se pela força da água. Muitos, entretanto, dependiam do uso da força dos bois ou dos escravos – comparados, dessa forma, ao gado. Urgia encontrar soluções diante da rarefação dos índios inimigos e das pressões dos jesuítas que incitavam a buscar na África (...) uma mão de obra considerada mais robusta” , como registrou a historiadora Armelle Enders.

Desde que começaram a percorrer o litoral da África, em tempos históricos de feitos nunca vistos e a partir das Grandes Navegações, os portugueses haviam iniciado o tráfico de africanos escravizados. Nas últimas décadas do século XVI, esse comércio possuía contornos definidos e sua lucratividade era reconhecida. Para o professor Fernando Novais, o tráfico de cativos africanos gerava um rendimento tão significativo que explica a escravidão, e não o contrário. Alguns historiadores acreditam que havia recursos financeiros acumulados por reinóis em razão da exploração da escravidão indígena. Além desses pontos, sabia-se que muitos africanos eram oriundos de sociedades que conheciam o trabalho com o ferro e a criação de gado. Existia, também, a ideia de que eles resistiriam melhor que os nativos às difíceis condições de trabalho e às epidemias. Por esses aspectos, eram vistos como mão de obra superior (mais forte, mais resistente), se comparada à dos ameríndios.

Progressivamente, nos canaviais e nos engenhos localizados na capitania do Rio de Janeiro, predominou o trabalho dos africanos escravizados, substituindo o que era executado pelos nativos. A cidade recebeu, sobretudo, grupos originários de Angola, trazidos maciçamente no decorrer da última década do século XVII. E o Rio progressivamente se transformava em um porto negreiro.

Os cativos africanos, como os indígenas, não aceitaram passivamente a situação que lhes era imposta. Desde os primeiros tempos, fugas e agressões contra os opressores fizeram parte das relações cotidianas entre os senhores e os escravos. Os quilombos – redutos daqueles que escapavam da escravidão – existiram em grande quantidade nas terras americanas pertencentes a Portugal, inclusive na cidade do Rio de Janeiro. O bairro do Leblon, por exemplo, tem parte da sua história associada a um deles: o Quilombo do Seixas.