Ao lado dos anseios de se construir uma república dos sonhos, apresentavam-se, na capital federal e em todo o país, além das ideias de progresso, alguns pesadelos, pois o período posterior à proclamação da República foi bastante complexo. Eram protagonistas da época fatos como: a substituição, promovida pela elite cafeeira, da mão de obra escrava pela assalariada; a cassação dos títulos de nobreza; a instalação, entre 1889 e 1894, dos governos liderados por marechais – Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892), de 15 de novembro de 1889 a 23 de novembro de 1891, e Floriano Vieira Peixoto (1839-1895), de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894); e a transição para uma república, conduzida por civis e acontecida por meio de uma primeira eleição com voto direto censitário.
Essa primeira eleição resultou na posse de Prudente José de Moraes e Barros (1894-1898), que enfrentou uma forte depressão econômica entre os anos de 1888 e 1891 – o Encilhamento. O governo seguinte, de Manuel Ferraz de Campos Sales (1898-1902), procurou sanear a economia do país, utilizando, em 1898, uma política que envolvia um plano de acordos financeiros – Funding Loan.
Foi apenas entre 1903 e 1906, durante o governo de Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), que surgiram novos pensamentos sobre o Rio, a partir de dois planos urbanísticos de especial importância: um promovido pelo presidente da República e outro, pelo prefeito Pereira Passos.
Após ser eleito, Rodrigues Alves fez a seguinte declaração: “Meu programa de governo vai ser muito simples. Vou limitar-me quase exclusivamente a duas coisas: o saneamento e o melhoramento do Porto do Rio de Janeiro”. O que veio adiante foram duas ações de reformulações urbanas: a primeira projetada pelo governo federal, que cuidou da modernização do porto da cidade, contando com a participação do engenheiro Francisco de Paula Bicalho (1947-1919); a segunda, orquestrada pela prefeitura, partiu de uma perspectiva organicista, buscando integrar as diversas regiões da cidade ao seu centro urbano, pensado como lugar privilegiado para a difusão das ideias de progresso e modernidade da época.
Havia, portanto, além da evidente necessidade de escoar, da melhor maneira, a produção cafeeira voltada para exportação, o interesse em equacionar no Rio de Janeiro um ambiente higiênico e sanitário, que construísse a noção de conforto e de disciplina.
A ampla intervenção urbana anunciada, a ser promovida durante a presidência de Francisco de Paula Rodrigues Alves, não poderia se restringir apenas ao porto e à região do entorno. Era necessário que a estrutura viária da cidade fosse modificada por alguém que reunisse formação na área da engenharia, experiência administrativa e conhecimento do espaço urbano. Nesse contexto, apesar de inúmeras especulações terem sido publicadas na imprensa, foi indicado e aceito o nome de Francisco Pereira Passos para a função de prefeito da capital federal.
Mas se no Brasil republicano pontuavam projetos de renovação misturados a questões políticas, econômicas e sociais, pelo restante do mundo contabilizavam-se inventos espantosos para aquela época. Foram descobertas como a do cinema (Auguste e Louis Lumière, em 1895), das ondas do rádio (Heinrich Rudolf Hertz, em 1887), do telégrafo (Guglielmo Marconi, em 1895), dos raios X (Wilhelm Conrad Roentgen, em 1895), da história em quadrinhos (Richard Outcault, em 1895) e a primeira transmissão de voz, via ondas de rádio (Reginald Aubrey Fessenden, em 1900).
Diante de tantos acontecimentos, múltiplas ideias e possibilidades que pareciam não ter fim desafiavam a imaginação dos mais incrédulos. Aqueles que acompanhavam essas transformações, na cidade do Rio de Janeiro e no restante do Brasil, acreditavam que tais novidades eram sinais do “progresso, irmão da civilização”, segundo a historiadora Margarida de Souza Neves; acreditavam que uma nova era se iniciava, na qual reinaria a paz e a tranquilidade para os povos.
Porém, apesar de o mundo conviver com tantas novidades na virada do século XIX para o XX, temores e medos reais ou imaginários corriam pelo Distrito Federal. Notícias espantosas proclamavam o fim do mundo. A intranquilidade reinava quando rumores insinuavam que a humanidade estava em vias de ser extinta. A passagem de cometas riscando os céus era argumento para previsões de catástrofes. Em meio à incredulidade de muitas pessoas, rezas e simpatias espalhavam-se pela capital federal. Eram questões sem embasamento científico algum, que inquietaram o espírito humano em sombrias profecias de hecatombes, referindo-se à perigosa aproximação da Terra com o cometa Halley, pelos idos de 1910.
Os receios que permeiam a humanidade tomam perspectivas diversas com o passar do tempo histórico. Mais recentemente, na virada de 1999 para 2000, em um mundo cercado de tecnologia, uma questão conhecida como o bug do milênio gerou previsões de um imenso caos no universo da informática, levando intranquilidade aos governos, às empresas e ao homem comum. Mas nem o caos no universo dos computadores aconteceu nem o mundo se acabou no começo do século XX, impactado por uma chuva de meteoros.
Também no alvorecer da República na capital federal e no restante do Brasil, as ideias otimistas sobre paz e tranquilidade não foram compartilhadas por todos. Afinal, no passar dos dias e das noites, os versos do poeta Fernando Pessoa concluem apropriadamente: “Nada é prêmio: sucede o que acontece”.