Os projetos de defesa do Rio de Janeiro, idealizados por Portugal no período compreendido entre os séculos XVII e XVIII, pontuaram uma contradição entre a preocupação em enclausurar e proteger a cidade – desejo das autoridades civis e militares – e a natural vocação expansiva, defendida pelos representantes do comércio. O que teria começado, segundo o historiador Roberto Conduro, com lógica “defensiva medieval” (núcleo urbano + fortificação) seria substituído pela “região-fortificação”, abrangendo e incorporando os pontos considerados vitais à defesa, como o litoral, os morros e os rios.
Para o Reino, era incontestável a importância da cidade na sustentação da monarquia e do Império Ultramarino Português. Era atribuição do Rio de Janeiro “a defesa do patrimônio, tanto régio, quanto de seus vassalos ultramarinos, por ser cabeça do Estado do Brasil e centro de articulação de fronteiras, territórios, redes de interesse e negócios no Atlântico Sul”, considera a historiadora Maria Fernanda Bicalho. Um indício disso foi a própria transferência, em 1763, da sede do poder metropolitano de Salvador para o Rio de Janeiro.
Representando o papel de articulação política e econômica, de defesa do território central e meridional e de principal porto do Atlântico Sul, a cidade foi protagonista da cena que veio a se desenrolar quando a sede do vice-reinado saiu de Salvador. Nos atos seguintes, a vinda da família real para a colônia americana, transformada em Corte, redimensionou os elementos e o significado de sua capitalidade singular. Essa capitalidade era atribuída à importância do Rio e à do seu porto, e estabelecida de acordo com o espaço geográfico, com as características temporais e o passado histórico.
A cidade passou a ser o palco central onde, segundo o professor Carlos Lessa, viriam a se exibir “o rei, o imperador, o presidente” e os vice-reis, quando, por vontade de Lisboa, no século XVIII, o eixo do poder se deslocou de Salvador para o Rio de Janeiro.