Os primeiros europeus a alcançarem as terras que formariam a América portuguesa, pelos idos do século XVI, não encontraram a região despovoada. Vários grupos distintos habitavam o Brasil no período correspondente à expansão ultramarina, quando a liderança geopolítica e comercial portuguesa era notória.

O nome índios refere-se a uma forma genérica utilizada pelos europeus daquele tempo para chamar os nativos que encontravam. Entretanto, essa denominação não designava um único povo, com apenas uma cultura e nem com um mesmo tipo físico. Eram centenas de nações independentes, cada uma com sua língua, história, cultura, organização social, crença religiosa, seus costumes, seu jeito de ser e o próprio nome. Os nativos não deixaram documentos escritos; eles transmitiam seus conhecimentos por meio da palavra.

Os europeus, no encontro das diferenças, diante do desconhecido – percebido como estranho e exótico –, fizeram grande confusão. Tentando identificar os grupos indígenas, escreviam de formas divergentes, inventavam nomes que mudavam frequentemente. Um critério que auxiliou foi o da língua, que, se não era idêntica, era aparentada, por ter semelhança e origem comum.

Estudos apontam que na região da capitania do Rio de Janeiro, por exemplo, os portugueses encontraram predominantemente os tupinambás – pertencentes à família de língua tupi ou tupi-guarani –, espalhados em aldeias formadas por um número que variava, possivelmente, de 500 a 3.000 indígenas cada.

Durante o período colonial, os portugueses reservaram tratamento bastante diferenciado aos indígenas aliados, reunidos em aldeias (nativas) ou aldeamentos (definidos pelas autoridades metropolitanas), e aos inimigos, espalhados pelos sertões. Para a Coroa, a partir de 1570, seria lícita a escravização dos aprisionados por meio de guerras tidas como justas.

Se, por um lado, os nativos (donos da terra) demonstraram resistência às vontades dos estrangeiros vindos do além-mar, por outro, foram aqueles com quem os lusos mais contaram naqueles tempos. É mito acreditar que os nativos, nessa parte do Novo Continente, assistiram passivamente à ocupação da terra. Seria percebê-los como a antiga historiografia do século XIX: “povos sem história e sem futuro” (Francisco Adolfo Varnhagen).

Apesar do desfecho adverso para tantos, apesar das mortes para ambos os lados, apesar de tudo, coragem e vontade estiveram na cena histórica. O heroísmo relatado nos documentos da época, engrandecendo os feitos dos europeus, foi o mesmo por parte dos ameríndios. Ambos eram verdadeiros; cada um em defesa do que entendia como seu.